O ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmou quarta-feira na Comissão de Relações Exteriores do Senado que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tentou fazer uma operação de fiscalização dentro do Instituto de Engenharia Militar (IME) do Exército por causa da pesquisa do físico brasileiro Dalton Girão Ellery Barroso, que desenvolveu cálculos complexos sobre explosivos nucleares. Barroso chegou a desvendar as dimensões internas do modelo de uma ogiva nuclear americana, a W-87, conforme publicou o Jornal do Brasil.
– A AIEA tentou fazer uma espécie de vistoria no IME e eu não permiti – afirmou o ministro. Ele disse que a tese de doutorado de Barroso, publicada no livro a Física dos Explosivos Nucleares, é um trabalho acadêmico, baseado em modelos compilados de publicações científicas disponibilizadas pela internet. A obra é um pouco mais que isso: com 25 anos de pesquisa na área de reatores nucleares, Barroso criou um programa de computador especial, desenvolveu cálculos novos em cima de modelos conhecidos e chegou a resultados técnicos aceitáveis pela comunidade científica sobre a teoria dos explosivos nucleares. Em outra ocasião, a AIEA também tentou vistoriar a supercentrífuga que opera com energia eletromagnética em Iperó (SP). Foi vetada.
Em entrevista ao JB, Barroso e os outros especialistas afirmaram que o Brasil já tem o conhecimento e a tecnologia para, se quisesse, desenvolver a bomba nuclear. O país não faz o artefato porque é neutro nos conflitos internacionais, é signatário de tratados de não proliferação de armas nucleares e tem limitação expressa na Constituição. O governo evita discutir o assunto por causa da pressão das potências.
Explicação
Convidado para falar quarta-feira sobre a compra dos caças, Jobim se desviou do mérito sobre o nível atingido pelo Brasil em conhecimento e tecnologia sobre armas nucleares com uma declaração dúbia: disse que o país precisa do conhecimento “não para desenvolver a bomba atômica, mas para ter o controle da tecnologia nuclear”. Jobim reclamou que o noticiário sobre o estudo de Barroso passou a idéia de que o Brasil queria fazer a bomba e garantiu que tudo o que o país tem buscado nas negociações para reestruturar o poderio do sistema de defesa inclui, junto com a compra de equipamentos, a capacitação para o desenvolvimento tecnológico da cadeia nuclear.
O ministro lembrou ainda que o processo de enriquecimento de urânio para fins pacíficos é diferente do usado na produção de artefatos nucleares e afirmou que o submarino em negociação com a França usará torpedos convencionais por causa da vedação às armas nucleares.
– O Brasil não tem capacidade jurídica para fazer armas nucleares porque é inconstitucional – afirmou, em entrevista aos jornalistas, depois do depoimento aos senadores. Antes, ao falar sobre os acordos para construção do submarino, Jobim afirmou que o nova “relação estratégica Norte-Sul” que está sendo firmada com a França será um intenso processo de troca, onde o Brasil deixa de comprar equipamentos, para se capacitar e desenvolver tecnologias necessárias a reestruturação de todo o sistema de defesa. Embora o submarino seja de propulsão nuclear, o acordo não envolve esse tipo de tecnologia porque o Brasil não precisa, garantiu Jobim.
– Nós dispomos do combustível e da tecnologia para construir o reator – afirmou.
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