O Brasil não está se armando, diz Jobim

Fonte:
Terra
- Marcela Rocha

O ministro da Defesa Nelson Jobim, durante audiência pública realizada nesta quarta-feira no Senado
O ministro da Defesa Nelson Jobim, durante audiência pública realizada nesta quarta-feira no Senado

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, participa de audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). A pedido do senador Renato Casagrande (PSB-ES), o ministro se dispôs a explicar aos congressistas os acordos feitos entre os governos brasileiro e francês, que prevê a construção de submarinos e a compra de aeronaves e helicópteros para as Forças Armadas.

Segundo enfatizou o ministro, "o Brasil não está comprando armas, está se capacitando tecnologicamente".

Lula justificou a decisão de renovar as aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) citando a necessidade de o país proteger a Amazônia e as reservas de petróleo encontradas na camada pré-sal.

O ministro Jobim atribui ao "preço" a preferência de Lula pelos caças franceses: "O presidente Sarkozy disse a Lula que haveria uma oferta de preço, para tornar o valor competitivo". Segundo a FAB, havia grande diferença de preço.

Os acordos, apresentados na visita do presidente francês Nicolas Sarkozy ao Brasil, incluem a construção de quatro submarinos convencionais Scorpéne e um submarino nuclear, com transferência total de tecnologia e ainda o treinamento de engenheiros brasileiros junto a fábricas francesas.

Segundo o acordo, serão comprados, para montagem no Brasil, 50 helicópteros, de 1,899 bilhão de euros, e 36 caças Rafale. O negócio envolverá cerca de 8,5 bilhões de euros. A aquisição eleva o Brasil à categoria de potência, na avaliação feita pelo ex-embaixador do Brasil na França, Marcos Azambuja, a Terra Magazine. (Leia aqui).

"Os acordos industriais contarão com a participação de empresas nacionais", explica o ministro para depois ressaltar que será desenvolvida a tecnologia de engenharia para isto no Brasil.

- Sarkozy assegurou que faria a transferência irrestrita de tecnologia - diz Jobim.

Um dia depois de o presidente Lula comunicar em nota conjunta com seu homólogo francês Nicolas Sarkozy a intenção de comprar 36 aviões de combate franceses, o Ministério da Defesa anunciou que o processo de escolha do novo caça da Força Aérea ainda não está concluído. Ainda seria preciso a avaliação da FAB.

Em nota assinada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, o ministério informou que seguirá negociando com as três finalistas do programa FX-2 -a norte-americana Boeing, com o caça F-18 Super Hornet; a sueca Saab, com o Gripen NG; e a francesa Dassault, com o Rafale.

Ministro confirma opção política por caças franceses

Nelson Jobim confirmou que a compra dos caças não está fechada, mas basta que a empresa francesa cumpra a transferência de tecnologia e o preço final para que haja acordo

Fonte: O Povo

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado, que o processo de compra dos caça FX, que irão substituir os aviões Mirrage, não está fechado, mas reconheceu que há efetivamente uma opção política pela oferta francesa. "Basta que eles façam cumprir a transferência de tecnologia e o valor final", afirmou o ministro.

Jobim lembrou que o prazo final para a apresentação das ofertas é 21 de setembro e que todas as empresas estão apresentando novas propostas e detalhando as existentes.

O ministro informou que, durante as conversas ocorridas há dez dias, o presidente da França, Nicolas Sarcozy, garantiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a redução do preço da hora de voo do caça Rafale para 9,8 mil euros o custo total. Ele não mencionou o valor da proposta anterior mas, segundo fontes do mercado, a oferta inicial da França previa o custo total da hora de voo em 14 mil euros.
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Nelson Jobim diz que transferência tecnológica é diferencial da proposta da França para a dos EUA (Foto: Antonio Cruz/ABr)

Sem "chutômetro"

O presidente Lula disse ontem que a compra dos caças não pode ser tratada como "chutômetro". "Não tem prazo. Eu posso decidir ontem, amanhã. Não é hora de a gente ficar fazendo chutômetro. Essas coisas são muito sérias para a gente tentar ficar adivinhando o que vai acontecer", disse.

O presidente disse ainda que, apesar das garantias da França, é preciso aguardar a empresa francesa Dassault entregar sua proposta. "Uma coisa é o que fala o presidente Sarkozy com a intenção da construção da parceria estratégica com o Brasil. Outra coisa é a Dassault, que é uma empresa, é como mais ou menos a Embraer aqui no Brasil. Temos amizade, mas não mandamos na Embraer. É preciso saber se a Dassault está disposta a garantir vantagens para o Brasil. Esse é um processo longo, difícil".

Lula disse ainda que a indicação de que o governo brasileiro teria optado pela França foi uma interpretação equivocada pela imprensa. "Você só tem que ler a nota que nós distribuímos. Você vai perceber que a nota comunica que houve proposta do presidente Sarkozy para que houvesse avanço nas negociações e, por causa disso, nós decidimos recomeçar as negociações. É isso. Agora, como somos um país de muita liberdade de imprensa, e, sobretudo, de imaginação fértil das pessoas que fazem imprensa, cada um escreveu o que quis".

O presidente voltou a dizer que a compra dos aviões de caça é importante para reforçar o controle de suas fronteiras, especialmente na Amazônia, e também para defender o pré-sal. "Se não, daqui a pouco, começa a desaparecer o nosso petróleo e a gente não sabe quem está levando embora. Depois nós temos a Amazônia que ganha cada vez mais importância no mundo", afirmou.

Jobim: Colômbia freou acordo militar na Unasul

Ministro defende aquisição feita pelo Brasil, que ‘não é uma Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional’

Leila Suwwan -

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que resistências e falta de garantias formais da Colômbia levaram ao fracasso a tentativa de fechar um acordo militar entre os 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) anteontem em Quito, Equador. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, Jobim defendeu ainda as novas aquisições de armamentos que o Brasil decidiu fazer, dizendo que o “Brasil não é como a Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional”, numa crítica à postura do país vizinho sobre o tema.

Indagado pela oposição sobre a aquisição de armamentos, Jobim disse que o país não está simplesmente comprando novos equipamentos:

- O Brasil não está comprando. O Brasil não é uma Venezuela, que compra no supermercado de armas internacional. Queremos fazer uma capacitação (das Forças Armadas). Eu não uso o termo “compras”.

Mas defendeu o governo Hugo Chávez, dizendo que a compra de armas pela Venezuela não é preocupante para a região.

- O que aconteceu é que as elites venezuelanas usavam a verba do petróleo em operações comerciais fora do país sem reinvestir no próprio país – disse, acrescentando que a situação criou grande desigualdade social, que Chávez tenta reverter.

Chávez voltou a criticar a Colômbia ontem, dizendo que o país “ficou totalmente isolado” na Unasul, por se negar a explicar a extensão do acordo militar com os EUA, atitude que considerou “vergonhosa”. E defendeu a postura do Brasil, que “com muita firmeza exige garantias de que as forças militares ianques não vão fazer incursões em territórios de outros países”.

Jobim evitou ainda pôr a aquisição de equipamento militar pelo Brasil no contexto de uma corrida armamentista regional, limitando a estratégia brasileira a uma postura pacífica de capacitação e poder de dissuasão:

- Não temos inimigos. Temos vizinhos e eles têm tensões e conflitos, como a Colômbia e a Venezuela.

Já sobre o acordo militar entre os membros da Unasul, Jobim disse que partiu dele a iniciativa de impedir a coleta de assinaturas dos outros 11 países, devido à falta de consenso. Segundo ele, a Colômbia pediu para analisar melhor três itens do acordo: a apresentação dos tratados de defesa de cada país ao Conselho de Defesa da Unasul; a notificação prévia aos vizinhos em caso de manobras ou exercícios militares na fronteira, e a garantia de que países não permitam ações militares de seus aliados em territórios vizinhos.

- Ontem (terça) fracassou a reunião. A Colômbia não quis firmar nenhum desses pontos – disse.

Colômbia cogitou se retirar da Unasul

A garantia de não-extraterritorialidade de ações militares, que abarca a preocupação regional com o acordo feito pelos EUA para usar bases colombianas, foi a que causou mais atrito. Jobim disse que a Colômbia chegou a oferecer “garantias plenas” de cumprimento do item.

- Mas nós pedimos garantias formais, como um posicionamento por nota diplomática – afirmou, explicando que só assim a norma teria validade.

O ministro da Defesa colombiano, Gabriel Silva, disse ontem que o encontro em Quito foi difícil porque houve uma aliança de países contra a Colômbia para questionar o acordo com os EUA. E afirmou que o país considera retirar-se da Unasul:

- Eventualmente se esse impasse se perpetuar, e não virmos uma preocupação sobre o armamentismo, o tráfico de armas, o narcotráfico, o crime organizado, se não houver sensibilidade quanto a esses temas, que são nossos, então caberia avaliar essa possibilidade.