Negociação sobre caças é processo longo e difícil, diz Lula

Redação Terra - Laryssa Borges

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira que o processo de negociação do Brasil para a compra de aviões caça é "longo e difícil". Apesar de haver uma "decisão política" em prol da compra de aeronaves Rafale, produzidas pela francesa Dassault, o governo brasileiro ainda não descartou os demais finalistas do programa FX-2: a americana Boeing, com o caça F-18 Super Hornet, a sueca Saab, com o Gripen NG.

"A Dassault é como a Embraer. Nós não mandamos na Embraer", afirmou Lula, após receber em Brasília o presidente do Maláui, Bingu Wa Mutharika. "É preciso saber se a Dassault está disposta a garantir vantagens para o Brasil. Isso é um processo longo, difícil."

"Não tem prazo (para definir a compra dos caças). Posso decidir ontem", declarou Lula. "Não é hora de a gente ficar fazendo chutômetro. Essas coisas são muito sérias para a gente ficar tentando adivinhar o que vai acontecer."

No dia 7, durante visita do presidente da França, Nicolas Sarkozy, ao Brasil, o governo brasileiro havia confirmado a intenção de começar as negociações para a aquisição de 36 caças GIE Rafale, destinados à Força Aérea Brasileira (FAB).

A decisão política em prol dos franceses significa que o Brasil daria preferência a esses tipos de caça em detrimento dos produzidos por fabricantes americanos ou suecos. Na mesma ocasião, o governo brasileiro evitou confirmar que os demais concorrentes estivessem automaticamente excluídos da transação.

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Questão do FX-2 irrita Lula
Presidente bate com a mão e diz que é ele quem manda
AREA MILITAR

O presidente do Brasil, Luís Inácio da Silva mostrou-se irritado nesta Sexta-feira, após várias declarações contraditórias que deixaram a presidência numa situação de constrangimento, depois de Lula declarar de forma mais ou menos direta que o vencedor do programa FX-2, que prevê a aquisição de 36 caças para a força tinha passado à fase final de negociação, o que foi entendido como a confirmação da vitória da proposta francesa que apresentou o caça Rafale.

No inicio da Semana, dia 7 de Setembro, toda a imprensa no Brasil e em vários outros países apresentou as palavras do presidente brasileiro como uma declaração definitiva sobre a vitória do Rafale na concorrência. Embora Lula não tenha afirmado taxativamente que a decisão final estava tomada, foi absolutamente claro ao afirmar que o Brasil iniciava negociações com a francesa Dassault, um dos três concorrentes finais do programa FX.

As notícias sucederam-se, com fontes do próprio ministério da defesa a confirmar que a decisão tinha sido tomada. Entre outras, o próprio ministério das relações exteriores afirmou que o Brasil poderia vender o Rafale para outros países dentro de dez anos.

Mas ainda no final de Terça-feira, a imprensa noticiava com algum espanto que a Força Aérea Brasileira ainda não tinha entregado sua análise técnica na qual o poder político teria que basear-se para tomar a decisão.

A situação ficou algo confusa, pois as decisões do presidente constituem dessa forma uma desautorização dos militares, cuja análise técnica seria sempre imprescindível.

Na tarde de Terça, após uma reunião com o ministro da defesa, deputados em Brasília disseram à imprensa que a decisão afinal não estava tomada e que nada de definitivo podia ser afirmado quanto à escolha do caça.


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Gripen NG Saab (Suécia)
Raio de combate 1.300 km
Velocidade máxima 2.100 km/h
Motor 1 (GE 414)
Peso máximo de armamentos 6,5 toneladas
Ponto forte: Seria o mais barato e poderá agregar tecnologia até o início da produção
Ponto fraco: Como é um projeto em desenvolvimento, poderá ficar mais caro que o previsto
Nunca foi testado em combate
Passos atrás
Na Quarta-feira de manhã, o Ministério da Defesa emitia uma nota à imprensa em que afirmava claramente que não tinha sido tomada qualquer decisão, mas que o Brasil tinha recebido uma proposta da França para a compra do cargueiro KC-390 da Embraer.

Nesse comunicado o texto pode ser interpretado como uma afirmação de que a decisão técnica poderia se alterar, com base na proposta de compra por parte dos franceses.

A afirmação do ministério é críptica como convém, mas poderia implicar que a decisão da Força Aérea Brasileira não era favorável ao Rafale, e que a proposta de comprar cargueiros KC-390 poderia levar a uma reanálise da situação por parte dos militares.

No final de Quarta-feira a imprensa brasileira já afirmava que o presidente Lula se precipitou na divulgação do resultado, tendo tomado a decisão praticamente sozinho, sem respaldo técnico e baseado apenas em sua relação de confiança com o presidente da França.

Lula, terá agido por impulso ao tomar a decisão de anunciar a parceria estratégica com a França, depois de Sarkozy lhe comunicar que a França compraria o KC-390 da Embraer para substituir os C-130 Hercules mais antigos ao serviço na França.


Entretanto fontes próximas do ministério da defesa tentavam controlar os danos afirmando que o FX-2 não está escolhido, embora aparentemente exista preferência para o caça da França.

Mas ainda na Quarta Feira, vários jornais brasileiros tornavam público que o principal problema do Rafale era o preço, e que era isso que tinha que ser negociado. Depois disto, foi também anunciado que havia problemas com a famosa transferência de tecnologia.

A França, não se propunha transferir para o Brasil a tecnologia de fabrico dos caças, mas sim os códigos dos vários sistemas de software, que são vitais para integrar a aeronave no sistema de defesa aérea do país.

Super Hornet F-18
Fabricante Boeing (EUA)
Raio de combate 1.800 km
Velocidade máxima 2.100 km/h
Motores 2 (GE 414)
Peso máximo de armamentos 8 toneladas
Ponto forte: É o mais testado. Foi muito usado no Afeganistão, Bosnia e Iraque e está sendo produzido em larga escala, a fabricante garante abrir mercado americano exatamente no momento em que a USAF re-lança requerimento para comprar 100 aeronaves similares ao Super Tucano.
Ponto fraco: Há poucas chances de o Brasil aperfeiçoar a tecnologia, pois o modelo já está consolidado.
Concorrentes reforçam propostas
Na Quinta-feira, os restantes fabricantes vieram dizer que não tinham qualquer informação sobre o fim da concorrência, dizendo os dois que suas condições eram das melhores. A Boeing afirmou mesmo que havia uma total disponibilidade para fornecer ao Brasil todas as informações necessárias para garantir a utilização irrestrita da aeronave F-18E/F, enquanto que a SAAB afirmava que a maior parte do caça seria fabricado no Brasil, algo que os outros fabricantes nunca garantiram.
A Boeing descartou a possibilidade, embora afirmasse nos últimos dias que aceitava a montagem e a Dassault deverá montar a maior parte dos aviões no Brasil.

O chefe da Força Aérea veio deitar água na fervura atribuindo a recente confusão à precipitação da imprensa, que terá concluído que as palavras do presidente teriam outro sentido.

No entanto, o presidente afirmou que o Brasil e a França iriam negociar a venda do Rafale, e o presidente da França adiantou mesmo que a França estava disponível para comprar o cargueiroso KC-390 da Embraer.

Seria virtualmente impossível que qualquer imprensa, mesmo não estando habituada aos normais tramites destas questões de compra de armamento não concluísse a única coisa que era possível concluir quando dois presidentes da república afirmam publicamente que os respectivos países até estão interessados em troca de compra de aeronaves.


Em uma entrevista exclusiva Nassif (clique para ler a matéria e acessar ao Blog do Nassif) conversou com o Ministro da Defesa Nelson Jobim que esclareceu a situação do programa FX da Força Aérea Brasileria.

Situação constrangedora para Lula
A situação entretanto gerada deixa o presidente numa situação complicada pois ele aparentemente decidiu já qual será a aeronave escolhida.
A FAB ainda terá que apresentar seu relatório mas Lula afirmou que lerá o relatório, mas que será ele quem vai decidir a compra e não a FAB.

As declarações de Lula podem ter acabado por decidir a escolha do caça Rafale, pois caso contrário, isso implicaria o total descrédito para o presidente.

Entretanto, embora várias fontes tenham apresentado o Rafale e o pacote geral francês como o mais vantajoso, aparentemente não foi confirmada a transferência irrestrita de tecnologia por parte da França (algo absurdo quando se compreende a extrema complexidade de um caça de combate), nem sequer a montagem dos caças franceses no Brasil.

Outro fator que joga nos últimos tempos contra o Rafale é a atual cotação da moeda europeia, que vale presentemente 1.44 para cada dólar americano. Esta diferença torna todos os produtos europeus extremamente caros quando comparados com os seus equivalentes norte-americanos e exige negociações adicionais para prever futuras flutuações cambiais.

Disputa final por caças foca sistema de compensação
Empresas se comprometem a investir valor igual ao da compra em pesquisas do Brasil Executivos da empresa dos EUA afirmam agora que a FAB poderá usar todos os sistemas de armas próprios ou os de sua preferência

ELIANE CANTANHÊDE - COLUNISTA DA FOLHA DE SÃO PAULO

A principal corrida na reta final de aperfeiçoamento das propostas para o programa FX-2, de renovação da frota da FAB, é no sistema de compensações, pelo qual os vencedores (país e empresa) se comprometem a investir o equivalente a 100% da compra no desenvolvimento da pesquisa, da tecnologia e da indústria no Brasil, não necessariamente só no setor aeroespacial.

O pacote de 36 aviões pode chegar a 4 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões), e a americana Boeing, por exemplo, enviou dois de seus vice-presidentes para contatos com uma lista de 150 empresas nacionais para acrescentar às 27 já listadas como parceiras na sua proposta original de compensações. O prazo para melhorar as propostas vai até a próxima segunda.

Concorrem o F-18 Super Hornet da Boeing, o Gripen NG da sueca Saab e o Rafale da francesa Dassault -que vem sendo apontado explicitamente como o preferido do governo brasileiro, inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, o vice-presidente da Rede Global de Fornecedores da Boeing, Ronald Shelley, e o vice-presidente do programa F-18, Bob Gower, rebateram em São Paulo o argumento de que o Brasil tem uma "aliança estratégica" com a França.

Segundo eles, com apoio do cônsul-geral em São Paulo, Thomas White, a Embraer já vende aviões para os EUA e os dois países já têm parceria há 30 anos na área aeroespacial.

A intenção agora, segundo eles, é ampliar uma aliança restrita a empresas e à área civil para um acordo entre governos e para a área militar, transformando o Brasil em fabricante e exportador -uma plataforma de venda de componentes, principalmente da fuselagem, para outros países.

A Boeing se compromete, por exemplo, a incluir fornecedores brasileiros nas próximas propostas de venda que fizer do F-18 pelo mundo, se vencer o processo de seleção, a ser concluído em outubro, com a decisão da FAB, depois da Defesa e enfim do presidente.

As três concorrentes respondem publicamente a uma exigência da Aeronáutica: a de que a transferência de tecnologia não se limite à fabricação do avião em si, mas inclua sistema de armas (mísseis) e a conexão entre os dois.

Os executivos da Boeing disseram que o Brasil vai poder usar todos os seus sistemas de armas próprios ou de sua preferência no F-18, caso opte pelo norte-americano -um avanço no que vinha sendo dito.
Eles, porém, não foram tão afirmativos quando a Folha perguntou se, no futuro, o Brasil estará livre para vender seus próprios aviões Super Hornet para a Venezuela, por exemplo.

"Nenhum dos três concorrentes pode dar essa garantia. No momento, por exemplo, ninguém aceitaria vender caças para a Coreia do Norte", disse White, sobre país que está sob cerco internacional por causa de testes não autorizados com mísseis. "Se um [dos concorrentes] disser algo diferente, não estará sendo honesto."

Eles disseram que ninguém pode dar garantias de que o Congresso norte-americano jamais venha a rever a autorização para o repasse de tecnologia para vender os caças ao Brasil. Segundo White, é assim "em todos os países democráticos", não apenas nos EUA.

Compromissos

Nesta última semana até o fim da coleta de dados pela FAB, os três concorrentes afiaram o discurso e todos dizem que se comprometem a transferir tecnologia de armamentos, sensores, sistemas de navegação e radares. A questão trancada a sete chaves é o quanto cada um aceita abrir.

Enquanto a Boeing assume uma tática mais agressiva de convencimento via imprensa, a Saab e a Dassault trabalham nos bastidores. A Saab diz que o Gripen NG é um projeto que vem sendo executado com participação de técnicos brasileiros, num modelo de transferência direta de tecnologia, ou "fazendo e aprendendo".

Já a Dassault diz que, apesar das manifestações públicas, o governo brasileiro não deu nenhuma palavra à empresa confirmando a preferência antecipada. A empresa tem o aval do governo Nicolas Sarkozy para vender o Rafale pelo preço que vende à Força Aérea Francesa.

As três fazem negócios à parte, também como compensação, com a brasileira Embraer.