Talvez um dos mais interessantes conceitos de aerodinâmica de aeronaves seja o das asas voadoras. É sabido que as fuselagens contribuem para uma grande parcela do arrasto parasita produzido pelos aviões. Se fosse possível eliminar a fuselagem, e transportar os tripulantes e a carga útil dentro das asas, teoricamente a aeronave resultante seria muito mais eficiente.
Baseado nesse princípio, a fábrica americana Northrop Corporation, baseada na Califórnia, produziu diversas aeronaves do tipo "asa voadora", aeronaves sem fuselagem e sem empenagem, com o apoio da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos. A maioria tinha problemas sérios e jamais entrou em serviço ativo, mas o conceito finalmente se provou válido, quase cinquenta anos depois de experimentado pela primeira vez.
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No ano seguite, a Northrop construiu e fez voar o N-9M. Esse avião fazia parte de um projeto que Jack Northrop tentava vender para a Força Aérea do Exército ainda durante a Segunda Guerra Mundial, o B-35, um enorme bombardeiro estratégico do tipo "asa voadora" de quatro motores. Na verdade, o N-9M era praticamente um B-35 em escala de um terço, e serviria para testar a aerodinâmica do bombardeiro antes de se construir um custoso protótipo em escala integral. O primeiro voo dessa aeronave ocorreu em 27 de dezembro de 1942.
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O B-35 era um ambicioso bombardeiro estratégico de 4 motores Pratt & Whitney R-4360, de 3.000 HP cada um. Deveria levar 23 toneladas de bombas a 13 mil km de distância, voando a 393 MPH a 39 mil pés. O contrato da Força Aérea previa a aquisição de 200 aeronaves. O primeiro protótipo voou em junho de 1946.
A Northrop construiu inicialmente 2 protótipos XB-35 (foto abaixo), que tinham motores Pratt & Whitney R4360 e hélices contra rotativas coaxiais. Esse grupo motopropulsor apresentou muitos problemas na caixa de redução e, depois de apenas 19 voos de teste, o primeiro protótipo foi re-equipado com hélices quadripás simples. O segundo protótipo sofreu a mesma modificação depois de apenas 8 voos de teste. A troca de hélices mostrou-se decepcionante, pois apareceram problemas de vibração e o desempenho caiu consideravelmente.
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Três aeronaves YB-49 foram construídas a partir da conversão dos cancelados YB-35, e começaram seus testes a partir de 21 de outubro de 1947, data do primeiro voo do avião. Os YB-49 eram equipados com 8 motores turbojatos Allison-General Eletric J-35 A-5, de 4.000 libras de empuxo cada um, com exceção do protótipo denominado YRB-49A, que tinha apenas 6 motores., dois dos quais montados em naceles abaixo das asas.
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O primeiro protótipo foi destruído em um acidente ocorrido durante testes de táxi em alta velocidade. O trem de pouso do nariz vibrou excessivamente e quebrou-se. A aeronave acabou pegando fogo na sequência e foi inteiramente destruída. No mesmo dia, 15 de março de 1950, o programa B-49 foi cancelado definitivamente, e as aeronaves remanescentes, ainda incompletas, foram sucateadas (foto abaixo). O YRB-49 voaria até 26 de abril de 1951, sendo sucateado em dezembro de 1953.
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No início dos anos 80, o Departamento da Defesa americano procurava um bombardeiro stealth, que pudesse penetrar e atacar áreas fortemente defendidas sem aparecer no radar inimigo. A Northrop apresentou então uma nova asa voadora. Os antigos problemas de instabilidade dessas aeronaves puderam ser resolvidos com tecnologia, utilizando comandos de voo do tipo Fly-by-Wire. Finalmente, depois de grandes controvérsias no Congresso Americano, devido ao custo do programa, o Governo adquiriu 21 aeronaves Northrop B-2 Spirit, ao preço de US$ 737 milhões de dólares cada um. O primeiro desses aviões voou pela primeira vez em 17 de julho de 1989. Contando com os custos de desenvolvimento, o projeto custou aos americanos US$ 44,75 bilhões de doláres, o que dá cerca de US$ 2,1 bilhões por aeronave produzida. A última versão das asas voadoras da Northrop tornou-se enfim um sucesso, já que em 12 anos de serviço nenhuma dessas aeronaves sofreu qualquer baixa em combate, embora sejam intensamente usadas, e apenas uma acidentou-se em 2008. O B-2, entretanto, merece um artigo à parte.
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