O chanceler chileno, Mariano Fernández, disse neste domingo (4) que seu país busca junto à Bolívia "uma fórmula satisfatória" para dar a La Paz uma saída ao mar, o que tem sido possível pelo fato de o governo do presidente Evo Morales ser "um interlocutor estável".
"Estamos avançando... a Bolívia sente que estamos avançando e se encontramos alguma fórmula [de saída ao mar] que seja satisfatória para os dois, vamos informar. Continuamos trabalhando", disse o chanceler à rede de TV estatal.
Bolívia mantém uma histórica demanda para recuperar uma saída para o mar, perdida para o Chile em uma guerra travada entre 1879 e 1883. Desde 1978, os dois países não mantêm relações diplomáticas e, atualmente, trabalham em uma agenda bilateral de 13 pontos.
"Vamos tentar avançar o máximo que pudermos", continuou Fernández, que fez referência ao fim do mandato da presidente Michelle Bachelet, que será encerrado em 11 de março de 2010, e que, portanto, o acordo deve ser negociado até o início do próximo ano.
Fenández disse ainda que o "governo do presidente Morales resultou em um interlocutor muito mais estável do que os anteriores", o que permitiu o avanço nas discussões.
Sobre o motivo de não ter se chegado a um acordo sobre as águas do rio Silala, o ministro disse que "eles [os bolivianos] têm um problema, que não me corresponde qualificá-lo, é um país com uma divisão interna muito forte".
Segundo ele, chegou-se a "um pré-acordo [sobre o Silala]. O que ocorre é que quando o governo que firmou este acordo o apresentou a sua opinião pública se encontrou com uma opinião adversa". "Estamos à espera de que a Bolívia termine sua revisão", disse.
A divergência sobre o rio Silala se deve ao fato de a Bolívia afirmar que tem o direito exclusivo sobre o manancial, e que o Chile deveria pagar pela utilização das águas. Santiago, por seu lado, considera que o Silala é um rio de curso internacional, o que lhe dá o direito de usufruir suas águas gratuitamente.
Fernández recordou ainda que são 180 litros de água por segundo que vão da Cordilheira em direção ao Chile, cujo uso foi cedido por concessão da região de Uyuni, no século XIX, a uma companhia privada, e no ano de 1998 a concessão caducou.
"Levamos uns dez anos nisto, que está sem regulamentação. O que estamos fazendo é regulamentar com o objetivo de que quem usa a água pague a parte boliviana à Bolívia de forma séria", completou.
O ministro da Defesa da Bolívia, Walker San Miguel, disse hoje que os países sul-americanos não devem se incomodar com a realização do exercício militar Salitre 2009, que ocorrerá ainda neste mês no norte do Chile, e anunciou que enviará um grupo de observadores para acompanhar o operativo.
Em uma breve visita a Santiago, San Miguel se reuniu com seu homólogo chileno, Francisco Vidal, e com o chanceler Mariano Fernández, com os quais já havia se encontrado em Quito, durante a cúpula do Conselho Sul-Americano de Defesa, no dia 15 de setembro.
Entre os dias 19 e 30 de outubro, a Força Aérea chilena realizará exercícios militares em conjunto com efetivos de Estados Unidos, França, Brasil e Argentina.
"Todos os exercícios militares, sem exceção, partem de uma hipótese de conflito, mas a realidade nos mostra que estamos em outro momento na região", declarou o ministro, em entrevista ao jornal El Mercúrio, de Santiago.
Walker San Miguel ressaltou que a realidade hoje "é completamente diferente" e que, "deste ponto de vista, não há porque se inquietar". O ministro também elogiou a postura do Chile de convidar a Bolívia para participar da operação como observadora.
"Em relação à confiança mútua, os exercícios conjuntos são positivos, ainda mais se forem compartilhados com outros países que os assistam", ressaltou San Miguel, que também refutou a ideia de que a região viva uma corrida armamentista, como tem insinuado o governo do Peru.
"Enquanto alguns consideram [a operação] o reinício da corrida armamentista dos anos 60, outros a veem como reposição de material. A Bolívia não está em corrida armamentista. Acredito que, no caso do Chile, haja uma modernização da frota aeronáutica", explicou.
Ele ainda garantiu que a "Bolívia não é uma ameaça para nenhum país e nem se sente ameaçada por ninguém".
Bolívia e Chile não mantêm relações bilaterais desde que travaram a Guerra do Pacífico, entre 1879 e 1883. Por causa do conflito, a Bolívia perdeu sua saída para o Oceano Pacífico, o que ainda hoje é reivindicado.
O Peru, por sua vez, tem manifestado preocupação com o exercício Salitre 2009 e com compras de armamentos feitas recentemente pelo Chile e demais nações sul-americanas. O presidente do país, Alan García, chegou a sugerir a assinatura de um pacto de não-agressão no subcontinente.
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