F-1: a era do dinheiro curto
Dois chefões da Fórmula 1 dizem que orçamentos mais enxutos não comprometem os benefícios que a categoria traz para a indústria automotiva

José Sergio Osse - Isto é Dinheiro

photos: Mark Thompson/Getty Images
Atenção redobrada: Head e Fry (à dir.) acompanham sessão da F-1 para descobrir formas de baixar custos em suas equipes

Patrick Head é uma lenda da Fórmula 1. Sócio e diretor da Williams, ele está na categoria há mais de 30 anos. Nesse período, faturou nove títulos de construtores e sete de pilotos - um deles com o brasileiro Nelson Piquet. Nick Fry representa o que há de novo no esporte. Há nove anos na F-1, é atualmente o executivo-chefe da Brawn GP, a equipe líder do campeonato de pilotos e construtores de 2009. Detalhe: a Brawn está em seu primeiro ano na categoria, formada sobre as cinzas da Honda, que abandonou o circo no fim da temporada passada. Durante evento sobre tecnologia e negócios no Consulado Britânico em São Paulo, ambos falaram com exclusividade à DIN HEIRO . Na conversa, discorreram sobre os rumos da F-1 atual. Em tempos de vacas magras e de cortes de gastos para garantir a sobrevivência da categoria, Head e Fry esbanjaram otimismo em relação ao futuro da F-1.

Crise na indústria

PATRICK HEAD - As montadoras foram muito afetadas pela crise. Mas agora que a torneira foi fechada, elas reclamam e tentam limitar os orçamentos. No geral, porém, o perfil de gastos das equipes tende a se equilibrar, o que será melhor para times como Williams e Brawn do que para os das montadoras.

NICK FRY - Os problemas das montadoras não afetam significativamente a F-1. Haverá mudanças, mas a F-1 continuará forte. A F-1 sobrevive sem as montadoras ?
Sem dúvida alguma. Ela sobreviveu à proibição de patrocínio da indústria de tabaco e, hoje mesmo, já está se reinventando para sobreviver.

Corte de gastos

HEAD - Há uma expressão que diz que boas coisas vêm em pequenos pacotes. Isso se aplica muito bem à F-1 no contexto da redução de gastos. À medida que um time cresce, a produtividade de cada funcionário diminui. O desafio é sempre crescer mantendo a eficiência de uma equipe menor. Em comparação com uma organização de 200 pessoas, um time com entre 450 e 500 funcionários como o nosso é grande, mas ainda pequeno o suficiente para ser eficiente.

FRY - Não acredito que a redução nos gastos seja um problema. As equipes que Patrick e eu comandamos são, para os padrões da F-1, de tamanho médio. E temos demonstrado que os times menores são capazes. Acredito que, em muitos aspectos, trabalhar com menos dinheiro é muito vantajoso. Isso nos força a usar mais a inteligência, priorizar projetos que realmente trarão benefícios à equipe.

Tecnologia

HEAD - A F-1, muitas vezes, funciona como um catalisador para o desenvolvimento tecnológico, mesmo em situações de restrição orçamentária. Uma de nossas empresas, a Williams Hybrid Power, que desenvolve sistemas de armazenamento e recuperação de energia para uso em carros de corrida, hoje trabalha mais com montadoras do que para nós, na F-1. Esse é apenas um exemplo do tipo de contribuição que a F-1 pode oferecer.

FRY - A primeira contribuição da F-1 é realmente o desenvolvimento de tecnologia, seja na forma de materiais mais leves e resistentes, seja na forma de sistemas mais eficientes que, eventualmente, serão transferidos para a indústria automotiva e outros setores da economia. Mas outra contribuição importante é que a F-1 é uma vitrine sensacional e ajuda a promover ideias e conceitos com muita eficácia.

Sustentabilidade

HEAD - Nossa contribuição é incidental. É a necessidade que nos leva a desenvolver novas técnicas e compostos mais leves e resistentes, que deixam o carro mais leve e reduzem o consumo de combustíveis. Acredito que a F-1 precisa mostrar que tem alguma relevância para um futuro sustentável, embora sua contribuição seja motivada por sua própria necessidade.

FRY - Na F-1 somos pagos para ganhar corridas e essa é nossa prioridade. Mas, ainda assim, existimos no mesmo planeta que todo o mundo e não seria nada bom se a F-1 não se preocupasse com a questão da sustentabilidade. Essa é uma das razões que nos levaram a adotar o Kers (sistema que economiza energia gerada em freadas para elevar, por alguns segundos, a potência dos carros de F-1), porque sabemos que temos que contribuir de alguma forma.