Para se tornar potência global, o governo aumenta gastos militares e cria oportunidades de negócios para novas e velhas empresas do setor
José Sergio Osse - Isto é Dinheiro
O Brasil é reconhecidamente uma das nações mais pacíficas do mundo. Em sua história, participou de apenas dois conflitos armados de grande porte: a Guerra do Paraguai, na segunda metade do século XIX, e a Segunda Guerra Mundial, nos anos 1940. Durante a ditadura, a indústria bélica floresceu, mas foi abandonada com a redemocratização.
Nos últimos anos, porém, esse cenário mudou para apoiar a disposição do governo de fortalecer sua inflência global - o que exige uma força militar de peso. Em 2008, o País gastou US$ 23,3 bilhões com defesa, montante recorde e 5% maior que o gasto no ano anterior. Projeções indicam que esse valor deve aumentar neste ano e que serão ainda maiores em 2010, caso a compra de aviões de caça para a Aeronáutica seja concluída.
Os senhores das armas: Moreira, da Orbisat, com seu radar terrestre (à esq.); Buffara e Klabin, da SantosLab, com seu UAV (acima); e Farina, da Equipaer, com seu lançador de foguetes (à dir.) |
Para muitas empresas do setor de defesa, os novos investimentos representaram uma oportunidade histórica de crescimento. É o caso da Orbisat que, embora exista desde 1984, é nova no ramo - entrou no mercado militar em 2005, a pedido do próprio Exército, que precisava desenvolver um radar de vigilância para áreas terrestres.
O trabalho da Orbisat, dona de uma tecnologia de ponta em sensoreamento remoto por radares, agradou tanto que o Exército decidiu ampliar o pedido original de oito unidades para 20 no total. O que começou como uma aventura hoje já responde por um terço do faturamento da Orbisat, na casa dos R$ 60 milhões anuais.
"Em dois ou três anos, deveremos triplicar o faturamento da nossa área de defesa, fornecendo apenas para o Brasil", afirma o presidente da companhia, João Moreira Neto. As ambições militares do governo brasileiro criaram novas perspectivas para empresas que floresceram na ditadura militar. Criada em 1970, a Equipaer beneficiou-se na época da venda de lançadores de foguetes para aviões e helicópteros da Força Aérea, mas entrou em crise nas duas décadas seguintes.
Por pouco não fechou e, agora, vê um novo campo de batalha à frente. "O plano de defesa apresentado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que está em discussão no Congresso, certamente dará um apoio sustentável à indústria de defesa nacional", afirma Luís Farina, presidente da empresa. O plano de Jobim consiste em uma série de iniciativas para melhorar o aparato técnico das Forças Armadas, o que evidentemente passa pela modernização dos equipamentos.
A SantosLab deve sua própria existência à retomada dos investimentos na área de defesa. A companhia surgiu para atender a um pedido da Marinha. Seus fundadores, Gilberto Buffara e Gabriel Klabin, dois aeromodelistas amadores, foram convocados pelos militares para desenvolver um avião não tripulado de vigilância (UAV, na sigla em inglês). O primeiro contrato foi para o fornecimento de cinco aeronaves e duas centrais de controle à Marinha.
O sucesso foi tamanho que chamou a atenção do Exército, que também se interessou pelos aviões. A SantosLab, que nasceu para fornecer a militares, em breve deve começar a fornecer para o setor civil. "Empresas como a Petrobrás, com o pré-sal, e a Vale, com suas áreas de mineração, têm demanda para aviões de baixo custo como os nossos", diz Buffara.
A indústria bélica tem um papel fundamental no desenvolvimento de novas tecnologias que, cedo ou tarde, acabam beneficiando a sociedade como um todo. A internet surgiu gracas a testes de comunicação realizados por militares americanos.
Indispensável dizer o impacto que ela gerou no mundo. Pesquisas na área de energias alternativas estão sendo executadas por militares franceses. Por mais que a indústria bélica tenha causado danos irreparáveis à humanidade, o mundo também tem algo a agradecer a ela.
US$ 23 bilhões foi o gasto total do governo brasileiro em 2008 com a área de defesa
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