Empresas concorrentes na venda de caças ouvidas em Comissão
Fonte: O Estado de Minas - Via UAI
Juntos pela primeira vez em uma discussão pública, os representantes das três empresas que participam da concorrência F-X2, para a venda de 36 caças à Força Aérea Brasileira (FAB), reafirmaram, durante audiência convocada pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara, o compromisso de transferir tecnologia ao Brasil. Os deputados não apenas questionaram as ofertas sobre tecnologias que abrangem desde a integração de armamentos até a “invisibilidade” aos radares. Em alguns momentos, os congressistas colocaram os convidados contra a parede.
O diretor da Dassault International do Brasil, Jean-Marc Merialdo, por exemplo, foi questionado pelo fato de o caça Rafale ainda não ter “emplacado” em nenhum outro país. “Perdemos algumas competições, sim, mas em uma época em que o governo da França não havia posto o Rafale em serviço operacional. E nenhum avião foi vendido ao exterior antes de estar em serviço no próprio país”, justificou. Pela primeira vez, a Dassault falou em uma estimativa de offset (contrapartida comercial e industrial) de até 160% do valor referente à oferta.
O diretor da Saab no Brasil, Bengt Janér, teve de responder sobre as garantias de um avião que ainda será desenvolvido, diante das outras duas propostas de aviões “prontos”. “O nosso produto não está sobre uma prancheta. Os pilotos brasileiros que estiveram na Suécia voaram no que vai ser o Gripen NG”, explicou Janér. O executivo reforçou que 40% das atividades de desenvolvimento do Gripen NG seriam realizadas por empresas brasileiras.
Para os norte-americanos da Boeing, as perguntas se concentraram nas garantias do governo e do Congresso para a transferência de tecnologia. O vice-presidente do programa F-18 Super Hornet, Robert Gower, afirmou que a proposta para a concorrência F-X2 foi fruto de “medidas inéditas para atender aos objetivos brasileiros”. “Em relação às garantias legais, na nossa oferta incluímos todas: do Departamento de Estado, Pentágono, Congresso. A noção de que os EUA resistirão ou de alguma forma limitarão a transferência de tecnologia é simplesmente um exagero”, garantiu.
Para o deputado Emanuel Fernandes (PSDB/SP), que é engenheiro aeronáutico, a participação dos três concorrentes foi “muito positiva”, mas ainda há dúvidas sobre o que realmente está “no papel”. “Todos estão dizendo que vão transferir tecnologia, mas, como nós não vimos quais são as demandas do governo brasileiro, não temos condição de saber, ao certo, como será o processo”, ponderou.
A transferência de tecnologia é um dos requisitos do Brasil para escolher a empresa vencedora da licitação. No dia 8, o ministro Nelson Jobim (Defesa) questionou a promessa feita pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, de que a Dassault vai transferir 100% de tecnologia se vencer a licitação para fornecer caças para a FAB. Ele lembrou que a Dassault é uma empresa privada e o governo francês tem ações preferenciais, sem direito a voto.
O prazo para entrega das propostas para participar da licitação acabou no dia 2 deste mês. A FAB deve concluir até o dia 31 o relatório com a análise técnica da melhor proposta. Concluído, o texto será submetido à análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, provavelmente, do Conselho de Defesa Nacional.
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