
Empresa afirma que preços divulgados por concorrentes não são verdadeiros, mas alega "cláusula de confidencialidade" exigida pela FAB para não divulgar valor do pacote francês.
Fonte: Defesa Brasil - Por: Vinicius Pimenta/Colaborou Leonardo Jones
A Dassault promoveu hoje, em Brasília, uma entrevista coletiva com o objetivo principal de esclarecer o que classificou de “um conjunto de inverdades vindo das duas empresas concorrentes" dos franceses no Projeto F-X2 da FAB. Durante cerca de duas horas, o Diretor da empresa no Brasil, Jean-Marc Merialdo, procurou desmentir informações de que preço do Boeing F-18 seja 40% inferior ao Rafale e de que o Gripen NG teria um custo 50% mais baixo que os concorrentes bimotores ao longo do ciclo de vida da aeronave.
Merialdo iniciou a coletiva com um breve discurso. Nele, o executivo explicou que a FAB exigiu uma cláusula de confidencialidade das empresas concorrentes e que, em respeito a isso, a Dassault nunca divulgou e nem divulgaria valores de suas ofertas. Ele criticou abertamente Boeing e Saab que teriam declarado estimativas de valores e percentuais, numa referência clara de que os concorrentes estariam quebrando a exigência da FAB.
“Nós estamos fazendo de tudo para apresentar ao Brasil a proposta mais adequada às suas necessidades e requisitos. A afirmação de 40% [Rafale mais caro que F-18] não tem fundamento. Nossa preocupação é não deixar no ar algumas inverdades trazidas nesses meios [imprensa, através dos concorrentes]", disparou Merialdo. Questionado pelos jornalistas se a Dassault pretendia tomar alguma medida contra os concorrentes, Merialdo se esquivou. O executivo disse que não estava afirmando que os demais competidores estariam quebrando a cláusula e que o objetivo da coletiva era apenas “esclarecer as inverdades”. Perguntado sobre se enxergava uma ação coordenada dos concorrentes, Merialdo foi mais cauteloso: "O que eu leio na imprensa é um conjunto de ataques ao Rafale. Não sei se orquestrados ou não", respondeu.
Com a insistência de parte da imprensa em obter alguma referência de valores, o executivo fez uma analogia entre carros do mesmo segmento. Para ele, por Rafale e F-18 serem da mesma classe, o preço não pode ser tão diferente. Perguntados se não seria possível que um governo subsidiasse parte do preço da oferta, o Cel. Av. da Reserva Rogerio Bonato, consultor da Dassault presente na coletiva, respondeu que é possível que um governo faça um desconto no preço, mas que tecnicamente não há como os EUA baixarem em 40%. Segundo ele, em teoria um governo pode até oferecer as aeronaves de graça, disse o coronel admitindo que a Dassault não tem como saber o que os EUA oferecem.
“O compromisso que foi firmado pelo governo francês e cumprido pela empresa era o de preços compatíveis com as Forças Armadas francesas”, garantiu Merialdo. Segundo ele, as únicas diferenças de preço do Rafale vendido ao Brasil estarão em itens como os custos de translado, seguro e câmbio.
O Diretor da Dassault também criticou o projeto Gripen NG, alegando riscos em o Brasil assumir um projeto em desenvolvimento e com custos desconhecidos.
Confira outros trechos da entrevista:
Possibilidade de derrota do Rafale
Possibilidade de derrota do Rafale
"Eu estou aqui para ganhar”, afirmou Merialdo, admitindo, porém que, até o contrato estar assinado, há possibilidade de derrota francesa.
Crise Financeira
Entre as informações que circularam na imprensa estava a de que saúde financeira da Dassault dependia da venda do Rafale ao Brasil, o que Merialdo classificou de “desinformação total”. "A crise afeta a empresa como todas as outras, mas em nível completamente sustentável", rebateu.
Transferência de Tecnologia
Com a maior parte da coletiva tendo sido utilizada para discutir componentes políticos, pouca tempo foi dedicado para a apresentação de mais detalhes da oferta. Os franceses voltaram a afirmar que a tecnologia do Rafale está 100% aberta ao Brasil e que o país dará um “salto tecnológico” ao adquirir o Rafale. A transferência de tecnologia proposta inclui projetos com o DCTA, envolvendo áreas como nanotecnologia, motores aeronáuticos e eletrônica. "
Montagem no Brasil e vendas na América Latina
A oferta da Dassault prevê que os seis primeiros Rafale sejam montados na França e os demais 30 no Brasil, com uma nacionalização de até 50% ao final do lote. Os franceses afirmam que é possível aumentar esse índice com lotes futuros. A Dassault não confirmou onde as aeronaves seriam montadas. Segundo a empresa, essa seria uma decisão brasileira, mas admitiu que a Embraer é a que reúne hoje as melhores condições, embora atualmente ainda não tenha instalações para montar o Rafale. A empresa afirma que na proposta está incluída essa capacitação, mas ressaltou que "tudo tem um custo".
A oferta garante ao Brasil direitos de venda do Rafale na América Latina. Sobre mercado para Rafale na região, Merialdo citou exemplos de Venezuela com Su-30 e Peru com Mig-29 e o crescimento econômico dos países latino-americanos para demonstrar que há um mercado em potencial. Sobre a falta de vendas externas do Rafale, o executivo disse que tem certeza que o Rafale ainda será um sucesso de vendas.
KC-390 e outros produtos nacionais
Merialdo por várias vezes fez questão de ressaltar que a proposta da Dassault era a única com o compromisso assumido de adquirir 10 KC-390 da Embraer. Além disso, a França também oferece parceria no desenvolvimento da aeronave. Perguntado pelo Defesa Brasil se a França vislumbrava alguma outra compra de produtos brasileiros como o Super Tucano, o Diretor afirmou que disse o acordo do KC-390 foi feito entre governos e até o momento não foi negociada uma compra extra, além do KC-390.
Questionado se não poderia haver um problema na operação do KC-390 pela França, já que o país participa do desenvolvimento do cargueiro A-400, Merialdo afirmou que por tratar-se de aeronaves de classes diferentes, é possível a operação de ambos os modelos. O KC-390 substituiria a frota de C-130 franceses e por isso o compromisso mínimo foi de 10 aeronaves, mas é provável que haja necessidade de compra de mais aviões no futuro.
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