Acidente em 2009 com F-18 dos Marines na Florida EUA

Jobim diz que caças não são "jujubas" e transferência de tecnologia é mais importante que preço

MÁRCIO FALCÃO - da Folha Online

O ministro Nelson Jobim (Defesa) reafirmou nesta segunda-feira que a proposta da Boeing para a licitação aberta pelo governo para a compra de 36 caças enfrenta problemas devido à falta de tradição dos Estados Unidos com transferência de tecnologia. Jobim afirmou que o governo está atrás de capacitação tecnológica e não de um objeto.

O ministro disse que a proposta norte-americana evoluiu nessa questão, mas que o governo ainda avalia o que as três empresas que participam da disputa classificam de capacitação tecnológica. Estão na disputa F-18 Super Hornet da Boeing, o Gripen NG da sueca Saab e o Rafale da francesa Dassault.

"O que eu vi em determinado momento é que os Estados Unidos mudaram. É que eles fariam transferência necessária de tecnologia. Os franceses fariam transferência irrestrita de tecnologia. O que eu quero saber é o que significa em termos de proposta essa transferência de tecnologia e que está sendo examinado pela força aérea, que dará as informações necessárias.

Questionado se alguma empresa teria reduzido o valor da proposta, Jobim ironizou e disse que o governo não está comprando jujuba. "Se o primeiro elemento [aeronave] a gente ver que não presta, se a força aérea disser que não presta, não vamos nem analisar. Vencido essa etapa, nós vamos analisar os outros requisitos. Agora, preço, não adianta oferecer por um real e não oferecer transferência de tecnologia. Não faz sentido, não estamos comprando jujuba", disse

Durante uma palestra nesta segunda-feira para a cúpula das três forças militares, Jobim voltou a sinalizar que o governo não tem simpatia pela proposta da Boeing por causa da transferência de tecnologia.

Jobim já afirmou outras vezes que os americanos estavam em desvantagem porque o governo identificou em outras situações que a tradição americana não era favorável. No final do ano passado, o Brasil e França firmaram um acordo para fornecimento de quatro submarinos à Marinha brasileira, sendo que as negociações também envolveram Estados Unidos, Israel e Rússia.

"As empresas estão se degladiando na imprensa. Nós estamos assistindo essa brigalhada toda, mas o que interessa para nós é basicamente o desenvolvimento de tecnologia. Eu estive com representantes do governo norte-americano e fui claro que eu não era oficial, não era general, era um advogado e um juiz com um sério defeito. Todo juiz e advogado trabalha com jurisprudência e pelos embargos excessivos de transferência até vocês [americanos] mostrarem outra postura a situação é essa", afirmou.

Segundo o ministro, serão levados em consideração quatro fatores para a escolha do vencedor da licitação --sendo que a preferência política do governo declarada publicamente é pelos franceses.

"É a capacidade operacional de cada uma dessas, que tipo de ciência e tecnologia estão sendo propostas pelas três, o comprometimento com a capacitação nacional e o quarto é o preço de equipamento e logística. São esses quatro elementos que vão decidir", disse.