Caças: francesa nega ser 40% mais cara que as concorrentes

Fabrício Calado - Terra - Direto de Brasília

Receosa com os rumos da disputa para fornecer aviões caça ao Brasil, a fabricante de aviões francesa Dassault chamou a imprensa nesta quinta-feira e mobilizou o diretor da empresa e três coronéis aviadores, militares da reserva que atuam como consultores da empresa, para esclarecer o que chama de "inverdades" divulgadas pelas duas concorrentes da Dassault, a americana Boeing e a sueca Saab. Como exemplo, menciona a divulgação de que os caças da empresa francesa vão custar 40% mais caro que os dos concorrentes.

"O que eu leio nos jornais são ataques dos nossos concorrentes e desinformação, acho que deve haver um certo limite para isso", afirmou o diretor da Dassault no Brasil, Jean-Marc Merialdo. Segundo ele, informação "não tem fundamento algum, nossos concorrentes estão imaginando coisas".

O diretor, porém, não diz quanto custarão os aviões Rafale que a Dassault quer oferecer ao Brasil. A justificativa para o sigilo é que é preciso respeitar os termos de confidencialidade com a Força Aérea Brasileira (FAB) enquanto durar a disputa.

No dia 7 de setembro deste ano, durante a visita do presidente da França ao País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou publicamente o interesse do governo brasileiro na proposta da Dassault. As concorrentes reclamam de favorecimento à empresa. O diretor da Dassault evitou comentar a polêmica. "A escolha pelos caças é uma decisão política, não sei como essa intervenção pode afetar".

Comparação
Sem falar em valores, o diretor da Dassault afirmou que o jato Gripen NG oferecido pela Saab é de uma classe mais baixa que o Rafale, e, portanto, a comparação é despropositada. "O preço de um carro 2.2. não é o mesmo de um 1.6. Se eu comparar o preço de um 1.6 com outro 1.6 com as mesmas características, haverá diferenças, mas não tremendas", disse.

Questionado sobre quanto a empresa ofereceu de desconto após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o coronel aviador Roger Bonatto também não abriu cifras da negociação, mas disse que "não se pode esperar descontos de última hora para quem tinha apresentado uma oferta limpa, sem excessos".

"Pode acontecer de uma empresa oferecer descontos estratégicos e até operar no vermelho em um contrato para ganhar no outro, mas não é esse o caso", afirmou Bonatto. "A concorrência não terminou ainda, ninguém pode falar em preço", completou outro coronel aviador, Fernando Passos.

Saúde financeira
O diretor da empresa no Brasil também rechaçou informações de que a Dassault tem interesse no acerto com o Brasil porque estaria prestes a quebrar.

"É uma desinformação total, a empresa tem faturamento estável e dívida nula", afirmou. Ele admitiu que a crise afeta a empresa, "como faz com as outras", mas "num nível sustentável". "Não há nenhum risco de desaparecimento ou falência da Dassault ou das outras empresas do consórcio, a Snecma e a Thales"

Conclusão ainda em 2009
O Ministério da Defesa pretende anunciar o vencedor da licitação para a compra de 36 aviões caça até o fim do ano. A Aeronáutica ainda avalia as propostas recebidas. Os concorrentes são os Rafale da Dassault, os caças Super Hornet da Boeing e o Gripen NG da Saab.

Na semana passada, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que o principal motivo de polêmica entre os fornecedores é a questão da troca de tecnologia e destacou que, neste ponto, os Estados Unidos não têm antecedentes favoráreis. "O problema com os Estados Unidos são as questões do passado. O passado é um grande exemplo de embargo da transferência de tecnologia." Segundo Jobim, relatos de militares dizem que as empresas americanas só forneceriam tecnologia para a conclusão de equipamentos militares, como baterias, pilhas térmicas e propelentes, após 10 anos.

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Dassault critica concorrência por vazamento de informações e nega preço 40% maior

GABRIELA GUERREIRO - da Folha Online, em Brasília

Em meio à disputa entre França, Suécia e Estados Unidos pela venda de 36 aviões caça ao Brasil, o diretor da empresa francesa Dassault no Brasil, Jean Marc Merialdo, rebateu nesta quinta-feira críticas das concorrentes contrárias ao Rafale --aeronave produzida pela empresa europeia. Ao classificar de "falta de compostura" algumas informações divulgadas pelas empresas Gripen (Suécia) e Boeing (EUA) contra o Rafale, Merialdo negou que a aeronave tenha um preço 40% mais alto que as demais.

O representante da Dassault, que convocou entrevista coletiva para rebater as críticas das concorrentes, não quis revelar o preço da aeronave ao argumentar que a concorrência firmada pela FAB (Força Aérea Brasileira) impede divulgação de valores. "Respeitamos o termo de confidencialidade que assinamos com a Força Aérea Brasileira, o que deveria ter sido feito pelos outros concorrentes. Vimos a informação de que a proposta do Rafale seria 40% mais cara que do F-18 [Boeing]. Essa informação não tem fundamento", afirmou.

Segundo Merialdo, o valor oferecido ao governo brasileiro é "compatível" com a de outras aeronaves da mesma classe, assim como segue o preço oferecido ao governo francês pelos Rafale.

"Eu não posso sair da posição de confidencialidade em relação aos preços. As últimas propostas já foram entregues à FAB. O compromisso inicialmente firmado pelo governo francês, e cumprido pela empresa, era que os preços eram compatíveis com os preços oferecidos à Força Aérea Francesa."

A redução de preços do Rafale teria sido resultado de pressões do presidente francês, Nicolas Sarkozy, cedendo ao governo brasileiro.

Durante sua visita ao Brasil, em setembro, Sarkozy teria se comprometido diante das autoridades brasileiras a oferecer um preço equivalente ao que as Forças Armadas francesas pagam pelos Rafale --estimado em 50 milhões de euros cada um. Há especulações de que o valor inicial seria de 98 milhões de euros por aeronave vendida ao Brasil, mas a Dassault não confirma a informação.

O representante da Dassault disse não acreditar que o F-18 (da Boeing) tenha preços menores que o Rafale. "Não posso abrir mão do meu compromisso de confidencialidade, mas certamente o Rafale e o F-18 são aeronaves de classes comparáveis. A diferença de preço entre eles não é de 40%", disse.

Apesar de não falar em valores, Merialdo desmentiu rumores de que o avião sueco Gripen (da empresa Saab) custaria a metade de cada Rafale. Na tentativa de minimizar a proposta da Suécia, Merialdo disse que seriam necessários dois Gripen para executar a mesma missão de um Rafale.

"Não é correto comparar valores de caças de classes diferentes. O Gripen é um monomotor da classe Mirage 2000, de classe diferente do Rafale, seu sucessor. O Rafale é bimotor que traz mais segurança e capacidade operacional superior. A depender da missão, são necessários dois Mirage 2000 para executar a missão de um Rafale", disse.

Tecnologia

O representante da Dassault reiterou que, na oferta feita à Força Aérea, há o compromisso de transferência integral de tecnologia para que o Brasil tenha acesso ao sistema tecnológico da aeronave. Na proposta da Dassault, no entanto, está claro que a França vai transferir apenas 50% de tecnologia de produção da aeronave para o Brasil.

"As seis primeiras aeronaves serão construídas na França com participação brasileira e entrega rápida dos caças à FAB. Os demais 30 serão montadas no Brasil, com transferência gradativa, chegando a 50% na 36ª aeronave", explicou.

Também está prevista, segundo o representante da Dassault, a compra de dez aviões KC-390 da Embraer pelo governo francês. "O consórcio Rafale se compromete em ser parceiro para desenvolver o KC junto com a Embraer, transferindo ainda novas tecnologias", disse.

Merialdo também desmentiu críticas das concorrentes de que somente a França tem os Rafale em atividade, sem interesse de outros países pela aeronave.

No início de outubro, as três empresas que disputam a preferência brasileira apresentaram suas propostas ao governo brasileiro para a venda de 36 caças, o que incluía a transferência de tecnologia e, em alguns casos, o compromisso de compra de aviões brasileiros. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai dar a palavra final sobre a proposta escolhida, depois de análise técnica feita pela FAB.