Veterano japonês reconta os horrores na China
por Natsuko Fukue - Fonte: The Japan Times, 9 de abril de 2009 - Via Sala de Guerra
por Natsuko Fukue - Fonte: The Japan Times, 9 de abril de 2009 - Via Sala de Guerra
A agenda de Ichiro Koyama está cheia de palestras, conversas e entrevistas. O antigo soldado do Exército Imperial Japonês, de 88 anos, que estava postado em Jinan, na província chinesa de Shandong, acredita que tem o dever de passar suas experiências de guerra para os jovens.
“Estou velho agora. Esta pode ser minha última chance de contar o que realmente aconteceu”, disse Koyama numa recente entrevista, acrescentando que a guerra transformava num monstro aqueles que não hesitavam em matar.
Koyama trabalhava em uma metalúrgica quando foi convocado aos 20 anos de idade, e cinco dias depois enviado para Qingtao, na China. Ele foi depois para Jinan, onde foi informado por um Major-General de que estava em território inimigo.
“Ele nos deu 5 balas, dizendo que 4 eram para o inimigo e uma para nos matarmos. Eu era um assalariado uma semana antes, e a primeira coisa que aprendi no campo de batalha foi como cometer suicídio”. Uma das mais terríveis experiências de Koyama foi ser ensinado a torturar prisioneiros civis chineses.
Um dia, Koyama viu sete ou oito homens chineses de uma vila em Zaozhuang, na Província de Shandong, vendados e amarrados a árvores. Eles estavam sendo punidos por não revelarem a localização do Exército Comunista Chinês. Veteranos ordenaram os recrutas novatos a executar os prisioneiros por falta de cooperação.
“Eu estava com medo de matar um homem no começo”, disse Koyama. “Me senti muito mais culpado matando alguém com uma baioneta do que com uma pistola a 100 metros de distância”.
Com seus camaradas, ele tentou perfurar o coração do homem, mas não conseguiu porque a vítima se contorcia para evitar ser atingida. Koyama eventualmente perfurou o homem no estômago e nos ombros. Após matar pela primeira vez, disse que não conseguiu comer. Mas, tempo depois, ele também começou a treinar novos recrutas a executar seus prisioneiros, justificando suas ações argumentando que ele não tinha escolha, pois era guerra. “Era o inferno”, disse. “Ainda não consigo esquecer o sangue deles espirrando”.
Koyama disse que os novos recrutas, neste processo, também se acostumaram à matança. No entanto, um camarada, que era professor de dança clássica japonesa, cometeu suicídio por não agüentar a pressão. O professor perdeu o treinamento uma noite, dizendo estar doente. Koyama disse-o que descansasse, e saiu. Quando voltou, encontrou o homem morto.
O comandante decidiu reportar seu suicídio como morte em combate, porque o suicídio durante o treinamento era desonroso. “Ele era um homem bom. Não podia se tornar um monstro”, disse Koyama, que estava prioritariamente envolvido em patrulhar cidades que o Exército Imperial conquistara. Mas em 1944 sua unidade foi pega numa luta com o Exército Chinês numa vila da Província de Shandong.
Foi um ataque-surpresa noturno em terreno aberto que não oferecia lugar para esconder-se. De acordo com suas lembranças, sete ou oito companheiros morreram e mais de 10 ficaram feridos. Koyama se lembra que levou muitas horas para cremar os camaradas mortos, e que achou terrível imaginar-se virando cinzas também.
Em 15 de agosto de 1945 ele recebeu a notícia da rendição do Exército Imperial enquanto estava em Hamhung, na atual Coréia do Norte, preparando-se para lutar contra os soviéticos. Koyama disse ter-se sentido aliviado por não mais ter que enfrentar a morte no campo de batalha.
No entanto, ele e seus camaradas foram capturados pelos soviéticos alguns dias depois e mantidos em campos de prisioneiros na URSS e China por 10 anos. Por cinco anos ele foi mantido na União Soviética, trabalhando em minas de carvão. Ele estava sempre faminto e comia tudo o que encontrava, incluindo folhas de Dente-de-Leão. Outros estavam tão famintos que confundiam tijolos caídos no chão com pedaços de pão. “Tudo que fiz foi contar os dias para voltar ao Japão”, confessou.
Em 1950, ele foi transferido para Fushun, na Província de Liaoning, na China. Embora tenha ficado preso lá por cinco anos como criminoso de guerra, ele disse estar grato pelo bom tratamento que recebeu. Os chineses o davam três refeições por dia, muito diferente do que faziam os soviéticos. “Eu costumava ter preconceitos contra os chineses... mas fui bem tratado na China. Minha opinião mudou”.
Enquanto ficou preso na China, Koyama disse que gradualmente conscientizou-se da tragédia e sofrimento que a guerra causou, e arrependeu-se do que fez aos chineses. Quando foi posto num julgamento militar em Shenyang, ele viu-se tremendo, mesmo sentindo-se pronto para aceitar qualquer punição por seus atos. Após saber que seria libertado, ele chorou e ajoelhou-se perante o juiz.
“Não devemos recorrer à guerra para resolver nossos problemas”, disse Koyama, que é muito versado em notícias mundiais e política doméstica. Desde que Barack Obama foi empossado presidente dos EUA, ele diz esperar que o mundo se torne mais pacífico.
“Devemos procurar a paz verdadeira, e isso significa dar valor à vida de todas as pessoas”, concluiu.
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