Após um ano, Obama não tem doutrina para a América Latina, diz especialista

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Crise econômica e guerras no Iraque e Afeganistão monopolizaram atenção de presidente americano, que até final do ano não contava com equipe para a região

A eleição de Barack Obama criou a expectativa de melhora nas relações entre os Estados Unidos e a América Latina. Um ano depois de tomar posse, Obama se mostra mais aberto ao diálogo com os líderes latinos do que seu antecessor, George W. Bush, mas ainda não deixou clara sua política para a região.

Para Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, a crise econômica e as guerras no Iraque e no Afeganistão monopolizaram a atenção de Obama, ao menos em seu primeiro ano no poder. “A América Latina não é a prioridade dos EUA”, afirma Nasser. “Mas isso não significa que não vá existir uma política para a região.”

Durante 2009, Obama também enfrentou uma longa batalha legislativa pela aprovação da reforma de assistência à saúde, cuja aprovação é esperada para o início deste ano, e oposição no Congresso aos seus indicados para postos-chave na América Latina.

Arturo Valenzuela, indicado para suceder Thomas Shannon como secretário de Estado adjunto dos EUA para a América Latina, só assumiu o cargo em 10 de novembro. Shannon, indicado para assumir a Embaixada dos EUA em Brasília, só foi aprovado em 26 de dezembro. A previsão é de que assuma o posto em 4 de fevereiro.

A oposição republicana no Congresso usou os diplomatas como peça de barganha para forçar o governo americano a amenizar sua posição durante a crise de Honduras, iniciada com a destituição do presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho.

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Política da boa vizinhança

Até agora, a atuação política de Obama se concentra na política da boa vizinhança. Sua participação na Cúpula das Américas, realizada em Trinidad e Tobago em abril, foi festejada pelos países latinos.

No mesmo evento, Obama conversou com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que o governo venezuelano classificou de “saudação histórica”.

“Na parte diplomática, Obama tem feito o máximo para aparar as arestas do governo anterior”, afirma Nasser. “Mas a diplomacia e o discurso não bastam, e até o momento não se notam realizações ou mudanças práticas na relação com a América Latina.”

Para o professor, o melhor exemplo disso está na área militar. “A percepção sobre o conflito e o tráfico na Colômbia é a praticamente a mesma de Bush, incluindo a sinalização de ter presença militar no país”, afirma, referindo-se a um polêmico acordo assinado em outubro, que permitiu o uso de sete bases colombianas pelos americanos. “Também não há mudança concreta em relação ao combate às drogas no México”, acrescenta.

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Na opinião de Nasser, o primeiro ano de Obama no poder foi marcado pela ausência de uma política para a América Latina. “Ainda não está clara qual é a doutrina do governo Obama”, diz o professor. “Ele tem atuado de forma mais pontual: apagando incêndios, participando de reuniões, mas sem dar sinal de uma direção específica.”

A postura do governo Obama em relação ao golpe de Estado de Honduras foi o principal ponto de atrito com os líderes latinos até agora. Os EUA condenaram a deposição de Zelaya, mas reconheceram a legitimidade da eleição presidencial realizada em 29 de novembro, ao contrário da maioria dos países da América Latina, entre eles o Brasil. “O episódio de Honduras passou uma impressão de hesitação, ambiguidade, de que o governo Obama age de forma muito pragmática, mas sem direcionamento”, opina.

O professor acredita que o Brasil não tem alternativa a não ser reconhecer a votação que elegeu Porfírio ‘Pepe’ Lobo, que toma posse no próximo dia 27. “O Brasil deve esperar decisões sobre uma possível anistia a Zelaya e sobre a condenação aos militares golpistas, para ficar em uma posição mais confortável e, futuramente, reconhecer o governo”, afirma.

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Entre os desafios de Obama para os próximos anos de mandato está a política de combate às drogas e a criminalidade na Colômbia e no México, cuja proximidade fronteiriça apresenta, também, questões relativas à imigração. Uma reforma migratória, prometida por Obama durante a campanha, não foi trabalhada neste primeiro ano de governo.