O incidente de Palomares: as bombas nucleares perdidas

Fonte: Cultura Aeronautica - por JONAS LIASCH

Durante as décadas de 1950 e 1960, auge da Guerra Fria, tanto as aeronaves soviéticas quanto as americanas carregavam regularmente armas nucleares a bordo, para poder entrar em combate de imediato para "revidar uma agressão". Naturalmente, um medo era constante: e se uma aeronave armada com bombas nucleares sofresse um acidente?

Os cientistas que projetavam e construíam as bombas tinham essa preocupação e, já que os acidentes com os aviões eram tidos como praticamente inevitáveis, eles projetaram os artefatos de maneira a evitar, a qualquer custo, uma explosão nuclear acidental, que poderia ser catástrofica. De fato, embora tenham ocorrido acidentes, nenhuma bomba nuclear explodiu acidentalmente até hoje. Mesmo assim, é claro que um acidente envolvendo bombas nucleares é um evento dramático, e o que ocorreu em 17 de janeiro de 1966 na costa mediterrânea da Espanha, perto da localidade de Palomares, foi um dos piores.

O acidente envolveu um bombardeiro Boeing B-52G, que transportava quatro bombas termonucleares B28, de 1,5 megatons, e um avião-tanque KC-135, ambos da Força Aérea dos Estados Unidos, que carregava 110 mil litros de combustível. O B-52 tinha decolado da Turquia, junto com outras aeronaves do mesmo grupo, e voavam para sua base na Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

As duas aeronaves voavam a cerca de 31 mil pés de altitude, sobre o Mar Mediterrâneo, quando se aproximaram para iniciar a operação de reabastecimento, a segunda da missão, às 10 horas e 30 minutos de 17 de janeiro de 1966. O B-52 se aproximou demais, sendo atingido em cheio pelo boom de abastecimento, já estendido pelo operador, e chocou-se com a barriga do KC-135, que explodiu em seguida, matando seus quatro ocupantes. O B-52 também explodiu, mas 4 dos 7 tripulantes conseguiram escapar, saltando de para-quedas antes da explosão, e não se feriram.
Das quatro bombas nucleares a bordo, três caíram em terra, no vilarejo pesqueiro de Palomares, e uma caiu no mar. Explosivos convencionais em duas das bombas que caíram em terra explodiram, espalhando pela área fragmentos de plutônio, o mais perigoso elemento químico conhecido. Felizmente, e para espanto dos tripulantes sobreviventes do B-52, não houve explosão nuclear.

A Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) rapidamente montou uma operação de guerra para resgatar as bombas nucleares e limpar a área. Três das bombas foram encontradas em menos de 24 horas após o acidentes. Duas estavam destruídas e outra estava relativamente intacta. A quarta bomba não foi encontrada, e logo se concluiu que tinha caído no mar.

Os civis da área foram todos evacuados, devido ao perigo dos resíduos de plutônio espalhados pela explosão. As bombas e destroços em terra foram removidos, assim como uma grande quantidade do terreno próximo. Entretanto, 15 por cento do plutônio espalhado pela explosão, aproximadamente 3 Kg, nunca foi encontrado. O plutônio é um metal pirofórico, e sua combustão provocou uma nuvem radioativa que se espalhou rapidamente por fortes ventos de 30 Knots, por uma grande área ao redor de Palomares.

O maior problemas, entretanto, era localizar a bomba que caiu no mar. Em 22 de janeiro, a USAF pediu ajuda ao Secretário da Marinha, e a Marinha despachou para o local nada menos que 19 navios de guerra, para localizar o artefato.
Não foi fácil encontrar a bomba. Oitenta dias de busca foram necessários até que a mesma foi encontrada por um mini-submarino Alvin, a 869 metros de profundidade e 5 milhas náuticas da costa. A Marinha contou com a ajuda de um pescador local, que testemunhou o acidente e conduziu as equipes de busca até lá.

A bomba foi finalmente recuperada, graças a um aparelho denominado "CURV", projetado para recuperar torpedos do fundo do mar. Tanto a bomba resgatada intacta em terra quanto a resgatada do fundo do mar foram desarmadas e encontram-se hoje no Museu Atômico Nacional em Albuquerque, Novo México (foto abaixo).

Após o incidente de Palomares, vários países, especialmente na Europa, proibiram o voo de aeronaves portando armas nucleares sobre seus territórios, e a USAF restringiu fortemente os voos com bombas nucleares ativas, para evitar novos e custosos acidentes. os Estados Unidos gastaram na operação 80 milhões de dólares da época, e removeram 1.400 toneladas de terra e destroços, que foram levadas aos Estados Unidos.

Mesmo assim, Palomares é, ainda hoje, a localidade mais radioativa da Espanha, e traços de plutônio foram encontrados em muitos dos moradores da vila. O Ministro da Informação e do Turismo da Espanha da época, Manoel Fraga Iribarne, junto com o Embaixador dos Estados Unidos, tomaram um banho de mar em Palomares para afastar os rumores de que o local é perigoso para a saúde, o que prejudicaria o turismo na região. Entretanto, alguns afirmam que tal banho de mar foi uma farsa, e que ocorreu não em Palomares, mas sim em outra praia distante cerca de 15 Km.