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O Governo da Argentina começou hoje a tomar medidas para evitar que o Reino Unido dê andamento ao plano de iniciar prospecção petrolífera nas ilhas Malvinas, cuja soberania é disputada pelos dos países.

Hora de enterrar o cadáver.

Em psicologia fala-se em enterrar cadáveres. Trata-se de imagem que traduz a necessidade de livrar-se do passado para viver o presente. Dito de outra forma: enquanto não se põe ponto final, fatos que ficaram para trás continuarão a ocupar tempo e espaço necessários para o avanço. O conceito, baseado em experiências pessoais, se aplica a acontecimentos coletivos ou nacionais. É o caso da Argentina.

No século 18, espanhóis e ingleses disputaram o controle do arquipélago — Malvinas para os argentinos, Falklands, para os britânicos — porque era estratégico para a navegação no Atlântico Sul e à ligação com o Oceano Pacífico. Independentemente do colonizador, Buenos Aires herdou o território. Mas o Reino Unido o retomou em 1833. Há, pois, 177 anos sob domínio inglês, as ilhas foram sendo povoadas pelos kelpers, colonos do reino de Sua Majestade. Hoje eles são maioria. Dos 3 mil habitantes, só 300 pertencem a outras nacionalidades.

A discussão a respeito da soberania sobre as Malvinas, porém, nunca chegou ao fim. Processos diplomáticos se arrastam governo após governo. A questão é usada como artimanha para desviar a atenção da sociedade de problemas domésticos. Arranja-se um inimigo externo para aliciar a solidariedade política interna. Em 1982, o general Leopoldo Galtieri, a pretexto de defender a soberania do país, invadiu o arquipélago. Na verdade, queria apenas criar ameaça para se manter no poder. Na aventura irresponsável, morreram 649 soldados argentinos e 258 ingleses.

Agora, acossada por inflação que beira os 30%, resistência do setor rural ao impostos escorchantes e denúncias contra a liberdade de imprensa, a presidenta Cristina Kirchner torna a aviar a receita. Contrariada com a possibilidade de exploração de petróleo nas ilhas, ela acusa o Reino Unido de ações próprias de metrópole colonial — em desrespeito a acordo de 1995. O documento prevê a possibilidade de exploração conjunta de riquezas. Mas a atitude intempestiva da presidenta ignora os caminhos da negociação.

Ela parece perseguir o mesmo objetivo do ditador que quis se manter no poder à custa da vida dos cidadãos — mobilizar nacionalismos para ofuscar o cenário de incertezas. Talvez tenha chegado a hora de enterrar o cadáver que se mantém insepulto há quase dois séculos. Depois de tantas idas e vindas, falta perguntar aos ilhéus o que eles querem. Em processo democrático acompanhado de observadores internacionais, a decisão dos moradores poria fim à novela cuja reprise não interessa nem a ingleses, nem a argentinos, nem aos países do Atlântico Sul.

Fonte: Correio Brasiliense