Novo embaixador da França no Brasil diz que espera "ardentemente"
que o governo brasileiro escolha os caças Rafale para o programa da FAB
À frente do Conselho de Segurança da ONU,
França lutará por vaga permanente para o Brasil
Novo embaixador disse que deseja “ardentemente” que Lula escolha caças franceses
Dayanne Mikevis, do R7
O novo embaixador da França no Brasil, Yves St. Geours, disse em entrevista ao R7 que um dos projetos da Presidência de seu país no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) é lutar por uma vaga permanente do Brasil no órgão.
St. Geours, que foi presidente do comissariado francês do Ano da França no Brasil, entregou suas credenciais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quinta-feira (4) em meio ao burburinho sobre a possível escolha do governo pelos caças franceses Rafale. A data coincidiu com a mesma cerimônia para o novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, cujo país também participa da concorrência. O outro país que disputa a preferência brasileira é a Suécia.
O embaixador francês disse que deseja “ardentemente” que o governo brasileiro opte pelos Rafale. Sobre a cerimônia de posse, St. Geours disse que conversou com Lula a respeito da coordenação entre Brasil e França para a ajuda ao Haiti. Confira a íntegra da entrevista:
R7 - Como o senhor vê a evolução da parceria estratégica entre a França e o Brasil? O ano eleitoral brasileiro pode mudar alguma coisa nesta área?
Yves St. Geours - A parceria estratégica nunca foi tão legítima. Tem por objetivo elevar o nível de diálogo político, aumentar nossas relações econômicas e comerciais, ampliar nossos intercâmbios acadêmicos e científicos, propiciar o encontro de nossas sociedades, compartilhando nossos valores.
Tudo isso para propormos, juntos, soluções para uma nova governança em um mundo que queremos multipolarizado. Paz, mudanças climáticas, florestas, regulação financeira internacional, trata-se de questões urgentes, e nossas ações conjuntas já mostraram sua eficácia. Daqui até o próximo G20 ou a conferência da Cidade do México sobre mudanças climáticas, no final do ano, podemos agir juntos.
Em todos os países democráticos, os períodos eleitorais freiam um pouco a ação, mas as coisas estão bem encaminhadas: vamos continuar trabalhando.
R7 - Uma eventual vitória da oposição poderia, na sua opinião, mudar a intensidade desta parceria?
St. Geours - Não estou preocupado. O que dá vida a esta parceria são projetos de grande porte que são objetos de consenso no Brasil. Além disso, graças a esta parceria, recíproca e equilibrada, França e Brasil reforçam-se mutuamente e ganham em capacidade. Não há motivo algum para desistir de uma parceria que não é dirigida contra ninguém.
R7 - Você acredita que o governo brasileiro vai se pronunciar a favor do caça Rafale em breve?
St. Geours - Sim, acredito sinceramente, e desejo ardentemente.
R7 - A França já expressou, em diversas oportunidades, seu apoio à candidatura do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Este apoio poderia ser alterado em caso de rejeição do Rafale?
De forma alguma. É uma parceria de longo prazo, estruturante. É uma escolha de fundo, uma visão da organização do mundo atual, que não se reduz a este projeto.
R7 - Na sua opinião, quais os maiores obstáculos para a candidatura do Brasil ser aprovada?
St. Geours - É claro que certos países não desejam uma reforma do Conselho de Segurança. Já outros querem, mas não contam com a integração do Brasil. A França, que está atualmente na presidência do Conselho, tem boas esperanças para que, enfim, se possa avançar no caminho da reforma. Estamos nos esforçando ao máximo porque temos certeza de que é algo indispensável.
R7 - A respeito do trem de alta velocidade, a França está se preparando para entrar na concorrência?
St. Geours - Claro. A “Equipe França” está fortemente mobilizada, envolvendo todos os atores franceses que possuem uma vasta experiência em construção, manutenção e gestão do Trem de Alta Velocidade há quase 30 anos. Também temos a competência em tudo o que está vinculado a este tipo de projeto, inclusive a gestão do território. E, como todos sabemos, somos recordistas de velocidade sobre trilhos: 578 km/h.
R7 - Quais serão os papéis do Brasil e da França na reconstrução do Haiti?
St. Geours - Antes do terremoto, já havia projetos conjuntos da França e do Brasil no Haiti, no âmbito da nossa parceria estratégica. Com a Minustah, o Brasil está muito presente e pagou um preço altíssimo com a catástrofe. Tradicionalmente, a história dá à França um papel importante neste país de língua francesa. Vamos trabalhar juntos na organização da grande conferência para a reconstrução, sob égide da ONU. Juntos, podemos fazer propostas de desenvolvimento em áreas como agricultura, saúde e água. Também podemos participar juntos da reconstrução do Estado. Já nesta semana, vamos a Porto Príncipe para consultas sobre projetos conjuntos. Conversei a respeito, na última quinta-feira (4), com o Presidente Lula, ao apresentar minhas credenciais.
R7 - Na área do clima, após Copenhague, será dada continuidade às iniciativas do Brasil e da França?
St. Geours - Esta foi outra questão que também abordamos. No dia 14 de novembro de 2009, os Presidentes Lula e Sarkozy assinaram uma declaração conjunta em que consta quase tudo: os objetivos, os meios para que sejam alcançados, as modalidades posteriores de organização. Em Copenhague, não fomos tão longe. É preciso que, muito rapidamente, possamos agir juntos para adotarmos um programa específico. É o que ambos os presidentes querem.
R7 - Uma última pergunta: o fato de que três franceses ainda estejam retidos no Brasil pode, de alguma forma, afetar as relações entre França e Brasil? A Embaixada expressou algum protesto formal?
St. Geours - A embaixada protestou porque houve um problema de proteção consular que foi resolvido rapidamente, porém, somos muito respeitosos com a Justiça brasileira e seu funcionamento. Apenas desejamos que ela tome decisões rápido, porque hoje faz dois meses que meus conterrâneos estão esperando.
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