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Thomas Shannon e Zelaya

Novo embaixador dos EUA no Brasil é especialista em questões espinhosas
Vetado duas vezes, Thommas Shannon assume cargo após mediar conflito em Honduras
Lucas Bessel, do R7

O americano Thomas Shannon, 50 anos, assume oficialmente o cargo de embaixador dos Estados Unidos no Brasil nesta quinta-feira (4), oito meses após a indicação feita pelo presidente Barack Obama. Em cerimônia oficial em Brasília, o diplomata apresentará suas credenciais ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

Profissional tarimbado, especialista em América Latina e fluente em português, ele foi vetado duas vezes por senadores do Partido Republicano, de oposição, antes de finalmente obter aprovação para assumir o cargo no Brasil.

Shannon é o chamado "diplomata de carreira", um homem cuja trajetória profissional sempre esteve ligada à representação dos interesses americanos em diversos países e organizações. Já esteve na Venezuela, na África do Sul e até mesmo em Brasília, onde trabalhou como assessor diplomático entre 1989 e 1992.

Quem o conhece diz que ele tem o típico perfil diplomático, apaziguador e tranquilo. Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos EUA, trabalhou com o americano em 2002:

- Thomas Shannon é uma pessoa muito simples, direta e afável, é um diplomata clássico. Ele conhece os assuntos importantes e busca abrir pontes.

O americano tem mesmo muita experiência com temas espinhosos. Em 2002, enquanto o mundo despejava desconfiança sobre o futuro do Brasil com a perspectiva da eleição de Lula, um presidente de esquerda que assumiria o governo pela primeira vez, Shannon atuava nos bastidores da Casa Branca, estabelecendo contato entre o então presidente americano, George W. Bush, e o futuro governante brasileiro.

Na recente crise deflagrada pelo golpe de Estado que depôs o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, em 2009, Shannon, no cargo de subsecretário americano de Estado para a América Latina, foi o responsável por costurar um acordo que permitiria a restauração do governo legítimo. O acordo foi estabelecido, mas acabou desrespeitado tanto por golpistas quanto pelos partidários do líder deposto.

Principal missão é se aproximar do governo

Para o ex-embaixador Barbosa, a principal missão de Shannon no Brasil será retomar o contato mais próximo com as esferas governamentais, que, segundo o diplomata, tinham sido deixadas de lado pelo embaixador anterior, Clifford Sobel:

- O embaixador anterior era muito ativo e tinha visão de negócios, valorizava o aspecto econômico, mas não dava tempo para as relações com o governo. Agora, o governo americano tem interesse em aumentar o contato direto com o governo brasileiro.

Para Aldo Musachio, professor do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade de Harvard, nos EUA, a América Latina e o Brasil não são prioridade na diplomacia americana, o que torna o trabalho de Shannon mais complicado:

- A demora em nomear um embaixador para o Brasil mostra que os EUA estão muito mais preocupados com o Iraque, o Afeganistão e a crise econômica, por exemplo.

Nesse cenário inóspito, o novo embaixador tem uma missão difícil e importante logo de cara: aparar as arestas surgidas entre Brasil e EUA após o terremoto do Haiti. O Brasil, que comanda as tropas de paz da ONU na região, questionou a decisão dos americanos de enviar soldados ao Haiti de forma unilateral, assumindo o controle do aeroporto da capital, Porto Príncipe.

Mesmo com todas as diferenças, o Brasil ainda é a melhor esperança americana de estabilidade em um continente que abriga desafetos declarados, como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. É em questões delicadas como essa que a habilidade de Shannon será realmente colocada à prova.