A QUE PONTO CHEGAMOS: "RISCO EUROPA JÁ É MAIOR QUE O DO BRASIL"
TENSÃO GLOBAL
150 pontos era o risco brasileiro ontem, expresso nas negociações do instrumento financeiro CDS. O risco Grécia estava em 415 pontos, o de Portugal, em 227, e o da Espanha, em 165
FONTE: reportagem Leandro Modé publicada hoje (06/02) no jornal O Estado de São Paulo [título e entre colchetes colocados pelo Blog Democracia & Politica].
"O crescente temor sobre a situação fiscal de vários países europeus - que voltou a castigar os mercados globais ontem -, aliado à melhora das condições macroeconômicas brasileiras nos últimos anos, transformou em realidade algo impensável há não muito tempo: os investidores temem mais um calote de Portugal, Espanha, Irlanda, Itália e Grécia do que do Brasil.
É o que revelam os dados da medida de risco mais usada no mercado global atualmente.
Trata-se do prêmio expresso nas negociações de um instrumento derivativo chamado de CDS (do inglês, credit default swap). Em uma definição coloquial, o CDS pode ser traduzido como um seguro anticalote.
Exemplo prático: um banco empresta dinheiro para um país e, ao mesmo tempo, compra um CDS de um investidor. Se o tal país não honrar seu compromisso, o banco vai ao investidor cobrar o prejuízo.
No auge da crise global, em outubro de 2008, o prêmio do Brasil chegou a 355 pontos - ou seja, o investidor que comprava seguro contra eventual inadimplência brasileira pagava 3,55 pontos porcentuais a mais de juros sobre o CDS dos EUA, referência do mercado.
Na mesma época, o CDS de Portugal era de 85 pontos, da Espanha, 82, da Irlanda, 113, da Itália, 117, e da Grécia, 134 pontos. Ontem, esses valores eram, respectivamente, de 150 (Brasil), 227, 165, 169, 155 e 415 pontos (ver gráfico na pág. B4).
"Há duas explicações para a melhora do risco brasileiro em comparação com o desses países: de um lado, o Brasil saiu fortalecido da crise e tem boas perspectivas de crescimento; de outro, essas nações europeias enfrentam enorme desafio fiscal", explicou a economista-chefe do banco ING, Zeina Latif.
Um dos efeitos da mudança é que as empresas e o governo do Brasil podem pagar menos para se financiar no exterior do que esse grupo de países, que, pelos critérios do Fundo Monetário Internacional (FMI), constituem economias avançadas.
"Isso já ocorre na prática", disse Eduardo Nascimento, diretor do BB Securities em Londres. Segundo ele, um papel emitido pelo governo da Grécia na semana passada pagava ontem ao investidor, nas negociações de mercado secundário, juro de 7% ao ano. "Um título do Banco do Brasil com vencimento em 10 anos está pagando 6%." Quanto maior o retorno, maior o risco da aplicação.
Em janeiro, a área do BB em que trabalha Nascimento liderou o ranking das instituições financeiras responsáveis por estruturar captações de empresas e do governo brasileiro no exterior, com US$ 3 bilhões. O especialista afirma que as perspectivas para o resto do ano são positivas, mas podem mudar se a situação na Europa continuar a se deteriorar.
Ontem, por exemplo, as bolsas mantiveram a tendência de baixa. O Ibovespa caiu 1,83%, a Bolsa de Madri perdeu 1,53%, a de Paris, 3,40% e a de Londres, 1,53%. O dólar subiu 0,37%, para R$ 1,890.
Aparentemente, o desempenho do risco brasileiro expresso nas negociações de CDS é contraditório com o que tem ocorrido na Bovespa e no mercado de câmbio. "O CDS reflete mais os fundamentos do País, enquanto a bolsa e o câmbio sofrem com a volatilidade do momento", ponderou a professora do Instituto de Economia da Unicamp Daniela Magalhães Prates.
O economista Ricardo Amorim, da Ricam Consultoria Empresarial, não se mostra surpreso com a alteração do status relativo do Brasil frente a algumas nações europeias. "Enquanto a China e a Índia estiverem em um processo de migração das pessoas do campo para a cidade (o que deve levar mais 20 ou 30 anos), os países frágeis serão eles (ricos), não nós (emergentes)", afirmou.
Isso porque a demanda desses dois países é por produtos exportados pelos emergentes (commodities), não pelos desenvolvidos (serviços e bens industrializados). Além disso, os produtos chineses reduziram a inflação global, o que diminuiu as taxas de juros e o custo do dinheiro (os maiores demandantes de empréstimos são os emergentes).
Nem todos são tão otimistas [os demotucanos e a 'grande' mídia, desde o início da crise em 2008, insuflam o pessimismo no Brasil, com "especialistas" e "professores" que tentam ocultar o sucesso brasileiro, na esperança de assim o governo Lula ser prejudicado e a direita voltar ao poder]. O professor do Insper Marcelo Moura pondera que as contas públicas brasileiras também são frágeis e lembra que o País terá déficits crescentes na conta corrente. "O Brasil melhorou porque não sofre tanto quando há uma crise, mas ainda paga mais para rolar sua dívida interna do que esses países europeus", disse. "Discordo desse ufanismo com o País."
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