Exercício de tiro Axalp
Demonstração especial é realizada nos Alpes, acima de 2 200 metros, com munição real e espectadores expressamente convidados
Aqui, se desafia a famosa precisão suíça. Com até 900 km/h, dois Hornet investem contra as peças de madeira de cor laranja. O ruído de seus canhões de 20 mm é quase discreto – o mesmo não pode ser dito para o efeito dos disparos.
Após o “tstst-tstst” que identifica o fogo contra o alvo no solo, ele é envolvido pela fumaça, enquanto o Mcdonnell Douglas (hoje, Boeing) F/A-18C mergulha no vale alpino. Nesse momento, dois outros jatos já efetuaram os seus disparos. Tudo é parte da rotina no estande de tiro que, com 2 200 m, é o mais elevado do mundo. No começo de outubro de cada ano, é o local onde as mais difíceis manobras aéreas de tiro são treinadas pelos pilotos militares suíços – há mais de 66 anos.
Em 1942, o país já havia se convencido que a sua força aérea tinha de treinar as suas missões de ataque ao solo nas montanas. O local julgado mais adequado para a realização do treinamento de tiro foi a região de Axalp, no Cantão de Berna.
O primeiro exercício ocorreu em 7 de outubro de 1942, com diversos monomotores a pistão Morane D-3801. O objetivo do programa, estabelecido na época, não mudou até hoje: a eficiência máxima do armamento contra as posições inimigas através do aproveitamento do cenário montanhoso para efetuar ataques de surpresa e evasões igualmente protegidas e rápidas.
Com a introdução dos jatos, o grau de dificuldade dos exercícios aumentou. Isso é notado principalmente em demonstrações como o Axalp, devido à proximidade do terreno alpino.
Os pilotos precisam calcular a distância de seus aviões com relação ao solo com a máxima exatidão. O que significa que não pode haver erros. Essa é a posição da Força Aérea Suíça. Daí, a ênfase nos exercícios sobre o terreno acidentado, que são uma parte imutável do tradicional treinamento. No decorrer do ano, são definidas as semanas de tiro, períodos em que são realizados os programas de treinamento – naturalmente, não só para a esperada demonstração em Axalp.
Quando o outono se aproxima, as manhãs são reservadas para o treinamento intensivo da demonstração. Os pilotos dos Hornet são determinados pelos respectivos comandantes do esquadrão. Os pilotos dos Northrop F-5E Tiger II são de um mesmo esquadrão. Nesse caso, vale igualmente a determinação do respectivo comandante.
A cada ano, um novo esquadrão, dos três disponíveis, participa do evento. As apresentações, que hoje atraem milhares de espectadores (que enfrentam a pé os penosos caminhos que levam ao Axalp), são tradicionais.
As primeiras demonstrações públicas de tiro começaram na década de 1940. As tripulações deveriam testemunhar o exercício do solo, antes de sua própria participação no evento. Em fevereiro de 1950, chegaram os primeiros convidados internacionais : o marechal de campo Montgomery e o brigadeiro Lord Tedder da Grã-Bretanha. O último parece ter ficado profundamente impressionado com o que viu e teria dito : "Não é boa coisa fazer guerra contra os suíços".
O treinamento deste ano foi aberto por quatro Hornet que apareceram de repente, vindos do fundo do vale, surpreedendo-os com uma chuva de iscas pirotécnicas para, em seguida, cumprir toda a trajetória do exercício de tiro.
Esses jatos são velhos conhecidos. A frota de Hornet já acumulou 50 000 horas de voo. Hoje, os esquadrões operam 26 monopostos e 7 bipostos. Até 2015, os MDD F/A-18C devem ser modernizados com a inclusão de um novo sensor infravermelho, um sistema de aviso de radar de maior eficiência com novas antenas, novos monitores no cockpit, um receptor GPS atualizado e um sistema digital multicanal de comunicação de dados.
O investimento de cerca de 265,7 milhões de euros faz parte da verba de defesa votada em 2008. A sua aprovação ainda teve o mérito de criar mais dois programas: o de capacitação de pilotos de aviões turboélice PC-21 e o de pilotagem de helicópteros leves de transporte e treinamento EC-635.
Em 14 de julho, os primeiros alunos iniciaram os seus programas de transição para jatos no PC-21, última etapa para garantirem o seu espaço no cockpit dos Hornet. A primeira avaliação da adequação do PC-21 com relação à preparação para os Hornet foi muito favorável, principalmente, com relação à aviônica moderna e aos sistemas, o que não é possível com os F-5 Tiger. É claro que o desempenho do PC-21 não pode ser comparado com o de um jato. Também a demora na aquisição de um simulador de voo – por falta de verba – foi objeto de críticas.
Os problemas mais imediatos envolveram o Eurocopter EC 635. A Suíça encomendou 20 unidades como sucessores do Alouette III – 16 dos quais seriam montados até 2010 pela RUAG Aerospace em Alpnach, mas a primeira aeronave foi entregue à Força Aérea em 4 de setembro de 2009. O volume de aviônicos especificado para os helicópteros suíços causou um deslocamento do centro de gravidade para trás, neutralizado por um contrapeso fabricado e instalado no nariz da aeronave pelo fabricante, a Eurocopter, o qual quase não alterou o peso vazio determinado para cada aeronave.
As demonstrações mais recentes, de 8 e 9 de outubro em Axalp tiveram de ser canceladas em razão do mau tempo, restando aos espectadores se contentar com os não menos impressionantes voos de treinamento.
Resta a esperança de um tempo excelente para o próximo Axalp, que será realizado em 2010.
Fonte: Avião Reuve - Fernando Fischer / texto: Patrick Hoeveler
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