A polêmica sobre a compra dos caças

Já se falou muito sobre a compra - que vem sendo inutilmente adiada - dos novos caças, necessários para revitalizar nossa frota.

Dos três modelos avaliados, a última tentativa de "marketing", capitaneada nada menos do que por Hillary Clinton, se mostrou exatamente capaz de produz o efeito contrário e colocar uma pá de cal na possível compra dos aviões norte-americanos: uma cláusula, segundo a imprensa, de redução de 5% nos preços, caso a transferência de tecnologia não seja realizada. Ora, qualquer vendedor preferiria perder 5% do pacote - aliás bem polpudo - do que fazer a total transferência, desejada e necessária ao comprador.

Porém, houve uma manifestação pública de diversos membros da Aeronáutica, que assinaram, mostrando-se contrários à escolha do aparelho francês. Ora, quanto ao tema político, já foram feitas compras de vários bilhões em navios e submarinos franceses - de modo que a possível não escolha do Rafale não venha a representar propriamente um grande sinal de desagrado ou uma falta de comprometimento político da parte de nosso país. Trata-se apenas de uma escolha técnica, que representa deixar à vontade aqueles que irão simplesmente pilotar - e colocar suas vidas em risco - diariamente nos treinamentos, e em caso de engajamentos bélicos, provavelmente inexistentes, a prevalecer nossa diplomacia, que tem solucionado todos possíveis conflitos sem a necessidade de armas.

Porém, um país de nossos recursos e dimensões não pode apresentar-se continua e completamente desarmado. Ou seja, a decisão precisa ser tomada, e não parece nenhum desdouro à equipe governamental - muito pelo contrário - a escolha dos aparelhos suecos, que se comprometeram a transferir tecnologia à Embraer, empresa criada pelo Governo e que ainda nela detém uma golden share. Talvez, caso possível, a opção política, seria a de ampliar a compra daqueles aparelhos Mirage, usados, que recentemente vieram ao país visando evitar uma completa falta de equipamentos mais avançados em caso de combate. Desse modo, ter-se-ia uma situação de compromisso político, com a vantagem de um número maior de aparelhos de uso imediato, além da escolha técnica feita pelos membros da Força Aérea prevalecer - o que é crucial em uma democracia, pois não serão os políticos a utilizar os aviões em caso de guerra, nem a ensinar o seu uso nas Academias aos novos pilotos.

Existe espaço, portanto, para um misto entre a escolha eminentemente técnica e um adicional - que tenha origem em uma escolha política, porém, amparado em algo sólido: ampliar o número de aparelhos iguais aos recebidos recentemente, e que, portanto, já se encontram em uso, e que sabidamente são em número pequeno. Assim, enquanto se ultimam os projetos, preparativos e a efetiva montagem para a entrada total em operação do novo aparelho brasileiro-sueco, os novos Mirage seriam uma importante parte de uma Força Aérea ampliada no que se refere ao poder imediato de defesa. Imaginar-se-ia que se a França já vendeu unidades usadas ao Brasil, poderia vender um novo lote, até por dispor de inúmeros aparelhos de ponta e por necessitar estreitar laços com os países com os quais vende ou já vendeu produtos de alta tecnologia - caso dos caças supersônicos.

De qualquer forma, não se poderia deixar para o próximo Governo uma escolha de tal responsabilidade, pois não é bom critério "empurrar com a barriga" as decisões importantes, e esta em especial vem sendo adiada há muitos anos. Parece que a solução proposta se não é a ideal - algo impossível para este mundo, ainda mais em se falando de armas, pois o ideal seria um mundo sem elas - ao menos se trata de uma solução viável e salomônica: harmoniza a política exterior, e não atropela uma decisão tomada com os devidos critérios estabelecidos no âmbito da Força Aérea Brasileira.

Fonte: Monitor Mercantil Por: Roberto Minadeo - Professor do curso de Mestrado em Administração da Unieuro.