Oportunidades de tecnologia e independência na aquisição dos caças: Diversificação Estratégica x dependência excessiva
O Projeto FX-2 é a “OPORTUNIDADE” de mudar o quadro até o momento apresentado pelo Brasil. Nosso país, como nação que vem assumindo uma posição de extrema importância no cenário econômico mundial, ganha poder de barganha e por via de conseqüência sai da condição de mero comprador para parceiro de desenvolvimento e produção de equipamentos bélicos, assim como a Rússia, China, França, Reino Unido e Estados Unidos, os cinco membros do conselho de segurança e Suécia.
O poder econômico alcançado pelo Brasil foi percebido no ano de 2009, onde diversas nações do planeta passaram e estão passando, por uma crise financeira sem precedentes na história recente do capitalismo, tendo como conseqüência a retração do consumo interno e a imersão dos mesmos em uma perigosa recessão. No entanto, o Brasil no ano de 2009 bateu recorde de vendas de automóveis, passando da marca de três milhões de carros produzidos. As classes da base da pirâmide vêm aumentando seu poder de consumo continuamente, satisfazendo suas necessidades e atendendo a uma demanda reprimida bilionária, gerando perspectiva para a indústria e o varejo.
Nosso país passa a ser o único da América Latina a sediar uma Olimpíada e se direcionarmos os recursos e a organização do evento com sabedoria, teremos a chance que a Espanha teve nas Olimpíadas de Barcelona, isto é, de injetar bilhões de dólares em seus cofres. Devemos lembrar que ainda seremos sede da Copa Mundial de Futebol e necessitaremos, para ambos os eventos, investir bilhões em infra-estrutura, como, por exemplo, a construção do trem bala entre São Paulo e Rio de Janeiro. Projeto cujo qual a França vem participando da concorrência com seu famoso TGV (Trem de Grande Velocidade).
O Brasil, nitidamente, encontra-se em uma posição extremamente confortável para exigir mais do que a entrega de caças prontos: o Brasil não pode mais ficar relegado a receber manuais de produtos de prateleira e apenas com Know-How de montagem.
Devemos lembrar que o país teve negado, por diversos momentos, o direito à compra de equipamentos que desejava por estar ainda em uma posição de “terceiro mundo”, com uma economia inexpressiva e sem atributos que gerassem interesse efetivo das Nações fornecedoras.
Todas as grandes potências econômicas do mundo passam então a estar interessadas nos benefícios econômicos que o Brasil pode trazer. Portanto hoje podemos e temos todas as condições de exigir dos fornecedores condições que nos permitam entrar no seleto clube de potência militar, tornando o Brasil um país desenvolvedor, produtor e exportador de armamento bélico de última geração, ferramenta crucial para nos tornarmos NAÇÃO SOBERANA.
Na concorrência FX-2 temos três grandes participantes, sendo eles, a americana Boeing com o F18, a francesa Dassault com o Rafale e a sueca SAAB com o Gripen.
Dada a alta complexidade e importância geopolítica e militar do tema, a escolha lógica diante dos fatos apresentados anteriormente exige que alguns pontos sejam necessariamente satisfeitos, sendo eles: a diversificação da origem dos materiais bélicos a serem adquiridos; a capacidade de projetar, produzir e integrar os sistemas de armas; ter fornecedores não alinhados; buscar benefícios econômicos para a Nação.
A História nos ensina que qualquer Nação que pretenda ser candidata à potência econômica, para proteger-se de embargos ou qualquer tipo de retaliação necessita multiplicar seu leque de parceiros estratégicos. A “palavra de ordem”, nesse caso, é diversificação estratégica.
Super Hornet F-18
Fabricante Boeing (EUA)
Raio de combate 1.800 km
Velocidade máxima 2.100 km/h
Motores 2 (GE 414)
Peso máximo de armamentos 8 toneladas
Ponto forte: É o mais testado. Foi muito usado no Afeganistão, Bosnia e Iraque e está sendo produzido em larga escala, a fabricante garante abrir mercado americano exatamente no momento em que a USAF re-lança requerimento para comprar 100 aeronaves similares ao Super Tucano.
Ponto fraco: Há poucas chances de o Brasil aperfeiçoar a tecnologia, pois o modelo já está consolidado.
Desse ponto de vista, a compra de caças norte-americanos é, sem dúvida, a menos interessante. A despeito da crise recente, os EUA permanecerão ocupando o posto de maior potência econômica e militar pelas próximas décadas. Nossos laços comerciais são sólidos e antigos. E a própria aviação comercial brasileira já tem na Boeing um fornecedor vital. Desta forma a escolha da aeronave americana iria reduzir ainda mais a diversificação de fornecedores nesta área.
A França, atualmente, é fornecedora de diversos equipamentos militares para as Forças Armadas Brasileiras, como, por exemplo, helicópteros Super Puma que estão tanto na Marinha, Força Aérea e Exército. Recentemente, aumentou ainda mais o efetivo com a aquisição de 50 helicópteros EC-725, a serem distribuídos para as três forças. O Exército ainda dispõe de helicóptero Pantera e a Marinha acabou de assinar um bilionário contrato com a França para aquisição de submarinos convencionais e do casco de um nuclear para equipar a futura força naval brasileira. No segmento civil, a TAM dispõe de mais de uma centena de aeronaves francesas. Por fim, a França ainda concorre com grandes chances de vencer a concorrência do trem bala, que tem orçamento de aproximadamente 32 bilhões de dólares, ou seja, quase 15 vezes o valor da compra dos caças. Portanto a França, se escolhida, aumentará extremamente nossa dependência a este país.
A Suécia vem fornecendo materiais bélicos em quantidades inexpressivas para as forças armadas brasileiras, sendo a única que não representa a perigosa concentração em fornecedores já estabelecidos no país. Portanto em se tratando de diversificação, a Suécia é a escolha que mais beneficiará ao Brasil.
Sobre os autores
Fernando Arbache - Doutor em Sistemas de Informação (COPPE/UFRJ) e Inteligência de Mercado (ITA), atualmente é docente das cadeiras de Logística e Administração de Projetos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Professor do Alto Comando da Marinha de Guerra Brasileira, nas cadeiras de Logística e Sistemas de Informação. Pesquisador do ITA, em Inteligência de Mercado e Simulação, e do CNPq. Também é desenvolvedor de sistemas de novas tecnologias em CRM, ERP e Business Intelligence. Além disso, é autor do livro Logística empresarial, da editora Petrobras, e Gestão de Logística, Distribuição e Trade Marketing, da Editora FGV.
Anderson Correia - Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (1998), mestrado em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (2000) e doutorado em Engenharia de Transportes - University of Calgary (2004). Foi Superintendente de Infraestrutura Aeroportuária da ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil. Foi Chefe do Departamento de Transportes do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo. Prestou consultoria em logística e transportes para as seguintes empresas: Petrobrás, ANAC, Embraer, Infraero, Correios, BIRD - Banco Interamericano de Desenvolvimento, Unilever Best Foods, Procter & Gamble, Gillette do Brasil, SGAL (Lisboa) e Calgary International Airport. Tem experiência na área de Engenharia de Transportes, com ênfase em Planejamento de Transportes, atuando principalmente nos seguintes temas: aeroportos, transporte aéreo e logística.
Fonte: SEGS
3 Comentários
Um caça em desenvolvimento ninguém sabe quanto precisará de investimento.
O custo do grifo vair ser como no AMX, várias vezes superior ao proposto pela Saab, quém vai arcar com esse desnvolvimento?
Com a Saab só caberia uma parceria, onde os dois parceiros invistam pesado e a Suécia também compre o avião.
Não da para acreditar os "argumentos" (lobby e márketing) usados pela Saab, acham que nós não temos raciocínio.
Caro V.M.(Vinna), muito obrigado pela possibilidade de participar e parabéns pelo blog, um site focado no Brasil do século XXI.
[]s