Jordânia atrai empresas brasileiras
Jordânia é vista como vitrine para grupos do país no Oriente Médio
A Jordânia, país de pouco mais de 6 milhões de habitantes, de economia fortemente dependente da ajuda externa, entrou nos planos internacionais de empresas brasileiras como a melhor oportunidade para alcançar os mercados ricos do Oriente Médio, segundo executivos da comitiva que acompanhou, ontem, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país.
A EMBRAER negocia com os jordanianos a venda de aviões Super-Tucano, numa transação que ultrapassa US$ 150 milhões. A Eurofarma, terceiro maior fabricante de genéricos no Brasil, pretende associar-se a empresas jordanianas para exportar e lançar novos produtos no Brasil.
"Esse país tem elementos dos dois mundos, o árabe e o ocidental", disse o diretor de Assuntos Institucionais da Eurofarma, Ciro Mortella, entusiasmado com os contatos feitos com companhias farmacêuticas jordanianas. "Eles têm centros de pesquisa ativos e se interessaram pelo desenvolvimento de produtos no centros universitários brasileiros", relata.
Mortella pediu ao governo brasileiro que inicie contatos entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a agência reguladora na área de saúde na Jordânia para facilitar os negócios entre farmacêuticas dos dois países. "Eles têm bons laboratórios, nós temos uma rede hospitalar de grande porte e sofisticação em análises clínicas", diz, ao sugerir o teste, no Brasil, de produtos desenvolvidos a partir de pesquisas jordanianas.
A EMBRAER quer vender os Super-Tucanos. As negociações envolvem a possível instalação, na Jordânia, de um entreposto de peças de reposição, desejado pelas autoridades jordanianas. Iniciada há três anos, a negociação, que conta com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), anda não tem data para terminar.
"É uma grande oportunidade para entrar no mercado do Oriente Médio", diz o diretor de marketing e vendas do mercado de defesa da EMBRAER, Acir Padilha. Eurofarma e EMBRAER estavam entre as cerca de 70 empresas brasileiras que participaram do seminário empresarial que acompanhou a visita de Lula, encerrada ontem. O presidente incorporou às discussões com os jordanianos a proposta de participação de empresas brasileiras na construção do túnel para deter a degradação do Mar Morto, levantada originalmente pela Camargo Corrêa, por sugestão de um de seus sócios, Fernando Barreto.
Lula gostou da defesa feita por Barreto do projeto como algo capaz de gerar energia e água para tornar férteis terras hoje desérticas, enfrentando um dos principais problemas que alimentam os conflitos no Oriente Médio. A Jordânia dá preferência a projeto em estudo no Banco Mundial, mais caro e de mais difícil execução, para levar águas do Mar Vermelho ao Mar Morto - o que daria ao país maior controle sobre a obra.
A Camargo Corrêa propõe levar água do Mediterrâneo, o que tornaria a água e a energia mais baratas, permitindo financiamento privado, mas isso implicaria ter a obra em território de Israel, o que levanta temores nos jordanianos de dependência de futuras ações do governo israelense. Ontem, autoridades jordanianas indicaram que o plano não está descartado, o que animou os brasileiros a estimular a obra.
Lula anunciou durante o seminário que pretende concluir, ainda neste ano, as negociações entre Mercosul e Jordânia para um acordo de livre comércio. Em abril haverá uma reunião técnica na Argentina, e o Itamaraty acredita que a pequena dimensão da economia jordaniana pode facilitar a conclusão do acordo, ainda que haja dúvidas sobre o tratado em prazo tão curto.
Lula, ao defender o acordo de livre comércio, lembrou que a diversificação da pauta de exportações brasileiras permitiu ao país ter menor impacto com a crise financeira. Ao lembrar que defende que o governo haja como "mascate", Lula lembrou que imigrantes árabes eram conhecidos como "turcos" no Brasil e, no que alguns executivos presentes consideraram uma gafe, comentou que o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Salim Chaim, ao lado dele, "deveria ser chamado como turco naquele tempo", e emendou: "Aqui tem muita gente com cara de turco". Os imigrantes árabes, fugindo do império otomano que oprimia seus países, portavam passaportes turcos, o que os levou a serem chamados de turcos no Brasil. "É o jeito dele, não causou mal-estar", minimizou, rindo, Chaim, após o seminário.
Fonte: Valor Econômico - Por: Sergio Leo
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