EUA dizem esperar que Brasil tenha sucesso em diálogo com Irã
Os Estados Unidos esperam que os esforços do Brasil para engajar o Irã nas negociações sobre seu programa nuclear sejam bem-sucedidos, disse nesta terça-feira o porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley.
"Nós esperamos que esses esforços por parte da Turquia, do Brasil e de outros possam ser bem-sucedidos", disse Crowley, em entrevista coletiva, ao comentar o encontro mantido na segunda-feira pela secretária de Estado, Hillary Clinton, e o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim.
No entanto, Crowley reforçou o ceticismo americano quanto à possibilidade de o Irã mudar de postura e aceitar interromper seu programa nuclear, como exigem os Estados Unidos e outros países.
"Como a secretária disse ontem, eu acho que nós estamos cada vez mais céticos de que os iranianos vão mudar seu curso se não houver um gesto forte e significativo da comunidade internacional", disse.
Hillary e Amorim se reuniram durante 20 minutos na tarde de segunda-feira, durante a conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), realizada em Nova York.
A questão nuclear iraniana dominou a abertura da conferência, com discursos pontuados por críticas e acusações mútuas por parte de Hillary e do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
Reconhecimento
Ao ser questionado sobre se Hillary havia dito a Amorim que os Estados Unidos são gratos pelos esforços do Brasil, Crowley disse que seu país reconhece as tentativas de engajar o Irã nas negociações.
"Certamente, nós estamos. Nós reconhecemos o valor e a importância de diversos países (tentarem) engajar o Irã", afirmou Crowley.
"Eu acho que nós todos estamos enviando a mesma mensagem - de que o Irã tem de responder às questões da comunidade internacional, tem de responder de uma maneira formal e significativa à oferta que foi colocada na mesa no último outono (no Hemisfério Norte)", disse.
Em outubro do ano passado, os Estados Unidos e outros países propuseram ao governo iraniano trocar urânio com baixo nível de enriquecimento pelo material enriquecido no exterior a um nível suficiente para uso pacífico, não militar.
O Irã exige receber o urânio enriquecido no momento em que entregar o seu mateiral e que a troca seja feita em seu território, possibilidades rejeitadas pelos Estados Unidos e outros países.
"Pode ainda haver uma diferença de opinião sobre em que ponto estamos nesse processo", disse Crowley. "Eu acho que há um processo de duas vias aqui, engajamento e pressão."
Viagem de Lula
Segundo Crowley, durante o encontro, Amorim também conversou com Hillary sobre sua recente viagem ao Irã e sobre a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país, programada para o dia 15.
"Nós também estaremos esperando para ouvir os resultados dessa viagem", disse Crowley.
Brasil e Estados Unidos têm posições divergentes sobre a questão nuclear iraniana.
Os Estados Unidos buscam a aprovação pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas de uma nova rodada de sanções contra o Irã, como maneira de pressionar o governo iraniano a interromper seu programa de enriquecimento de urânio.
O temor é o de que o Irã esteja tentando construir armas nucleares secretamente. Essa alegação é negada pelo governo iraniano, que diz que seu programa nuclear é pacífico e tem o objetivo de gerar energia.
O Brasil, que tem uma vaga rotativa no Conselho de Segurança, sem direito a veto, é contra as sanções e defende uma solução negociada para a questão iraniana.
As três rodadas anteriores de sanções não foram suficientea para fazer o Irã mudar de ideia.
Nesta terça-feira, em entrevista coletiva em Nova York, Ahmadinejad disse que ameaças de novas sanções não vão impedir o Irã de manter seu programa nuclear.
O presidente iraniano disse também que seu país não pretende se retirar do TNP, mas quer que o tratado seja reformado e se torne um sistema "justo".
Fonte: O Globo
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