Volta ao debate o problema da compra de caças para a Força Aérea Brasileira. Dizia Clemenceau que a guerra é assunto muito grave para ser deixado aos militares. O grande homem de Estado francês não estava desdenhando os soldados e seu heroísmo, mas apenas lembrando que as guerras – e mais ainda as guerras modernas – envolvem toda a nação em combate, e sua condução terá de ser, assim, política. O problema da modernização das nossas Forças Armadas é assunto nacional. Os povos criam, armam e sustentam seus militares a fim de que eles possam assegurar a inviolabilidade das fronteiras e a soberania política. Sendo assim, os militares estão a serviço da pátria, entendida como a comunidade brasileira como um todo. Como especialistas, eles podem apontar as vantagens técnicas da compra de um equipamento ou outro, mas não basta a avaliação do desempenho para determinar essa ou aquela aquisição. O Brasil vem tratando do assunto há algum tempo. Qualquer decisão a ser tomada nos trará desgastes com os governos preteridos. A avaliação dos riscos, diplomáticos, técnicos e financeiros, deverá ser cautelosa. O que parece melhor pode não nos convir, se considerados todos os aspectos do problema. Daí a necessidade de alianças estratégicas, no setor tecnológico, com países emergentes.
O Brasil perdeu tempo demais, ao não investir em ciência e tecnologia. Enquanto outros países multiplicavam as pesquisas e formavam centenas de milhares de engenheiros, químicos, físicos, biólogos, nós não agíamos com a mesma visão de futuro. Conseguimos criar instituições universitárias de excelência para a formação técnica, sem abandono das preocupações humanísticas, como a Escola de Minas, de Ouro Preto, ainda no século 19, mas não continuamos nesse caminho. O mais grave é que abandonamos a educação elementar, ao abandonar a formação tradicional de professores, como o fazíamos com as escolas normais e as universidades do passado. Temos, é certo, algumas escolas privadas de excelência, destinadas à reprodução das elites, mas a educação pública continua presa à burocracia e incompetência.
Não obstante isso, havia setores em que caminhávamos bem, como no de pesquisas em telecomunicações. O governo neoliberal de 1995-2003, ao privatizar as empresas estatais do setor, além de entregar aos estrangeiros processos técnicos que havíamos desenvolvido, fechou os laboratórios realmente nacionais, privando- nos do desenvolvimento autônomo nessa área. Mais ainda: sucateou as universidades públicas, ao mesmo tempo que estimulava o crescimento da indústria do ensino privado, com os resultados que nos assustam.
Necessitamos retomar a indústria bélica, que os governos militares haviam promovido. Pelas revelações do WikiLeaks, soubemos que os norte-americanos não querem o desenvolvimento da indústria aeroespacial brasileira. Os esforços nesse setor são tanto mais meritórios quanto maior é a resistência de Washington. Não nos esqueçamos de que, em 22 de agosto de 2003, 21 técnicos brasileiros morreram ao explodir, na plataforma de lançamento, o foguete que conduziria satélites de nossa tecnologia para órbita equatorial a 750 quilômetros de altitude.
Não podemos comprar “caixas-pretas”; devemos dominar toda a tecnologia dos aviões adquiridos. O mais importante é mobilizar toda a inteligência nacional no esforço de fortalecimento da capacidade de defesa – e isso compreende, além das pesquisas específicas, o desenvolvimento acelerado da economia, a vigilância sobre as fronteiras e a atualização do projeto nacional que Vargas começou a cumprir, com a criação das grandes empresas estratégicas, entre elas a Petrobras e a Eletrobras. O poder militar não é um capricho da arrogância. É um dever de patriotismo.
Fonte: Jornal do Brasil - Via: NOTIMP/FAB
6 Comentários
Ao mesmo tempo, fechamos com os suecos, e participamos do desenvolvimento do Gripen, para em breve, voarmos sozinhos com a Embraer...Sem cabimento é essa aventura com o Rafale; caro, de 4ªgeração, e tão bom que nunca foi vendido a não ser para o própria França.
Terceira caminho? Compramos f15 ou 15 dos sauditas com mais uns 15 de serviço, e abrimos o FX3!!!! Com Russos no pacote!!!!
Sim, tinhamos desenvolvido uma importante base cientifica e de laboratório que dominavam a tecnologia no setor das telecomunicações, tecnologia essa brasileirissíma porém, alguém lembra de quanto custava uma linha telefônica em 1995? Ou a qualidade das ligações em 1998? Melhor, a velocidade da internet em 2000 ou o preço das linhas de celulares? Não? É claro que não! Não acho que o povo brasileiro seja preguiçoso como o amigo ai danilotte fez questão de enfatizar com tanta eloquencia. O povo é muito esquecido isso sim. Não estou defendendo as privatizações ocorridas na época citada na reportagem, ou meu ver elas tiveram seus meritos e desmeritos (como a transferencia de nossa tecnologia, mais barata e em certos pontos melhor, a estrangeiros). Mais vamos deixar de ser hipocritas, sem essas privatizações as comunicações brasileiras (e outros setores) estariam no mesmo nível da África do Sul e ai haveria mais reclamações e mais exautações com opiniões inflamadas reclamando dos governos e governantes.
Como eu disse mais acima: brasileiro é esquecido, isso sim. Mais é também reclamão. Reclama disso, daquilo outro e NUNCA arregaça as mangas para fazer até porquê, como diz o ditado: "É mais fácil mandar do quê fazer".
Sem ufanimos nenhum e sendo realista:
1° O Brasil deveria comprar 24 caças F-18 E/F. É testado em combate, tem uma excelente logistica de peças de reposição o que bareteia a manutenção e o ciclo de vida da aeronave, tem tecnologia avançada em radares e sistemas de combates. A compra deveria ser condicionada a transferencia de tecnologia dos códigos fontes da aeronave, da tecnologia do radar e dos computadores de bordo. É besteira em pensar que haverá 100% de transferencia de tecnologia ou transferencia "total" da tecnologia. Isso não existe. Haverá no máximo 30% a 40% de transferencia. Nenhum país do mundo transfere 100% da tecnologia dos seus sistemas de combates a terceiros, isso é fato.
2° Assinariamos com os suecos para o desenvolvimento do Gripen NG, absorvendo o restante da tecnologia que não fosse repassada para nós dos americanos. Aprenderiamos a fazer integração dos sistemas, motores, contrução em materiais compositos (a EMBRAER tá ainda nos estágios inicias no desenvolvimento desses materiais) e desenvolvimento de sistemas de combate, navegação e controle da aeronave (esse último cobiçado pela EMBRAER que não detem 100% dessa tecnologia). Os suecos nos prometeram 40% do projeto do Gripen, sendo construiriamos, no Brasil 80% da fuselagem do avião e 30% dos sitemas. Comprariamos dos suecos (país neutro diga-se de passagem e com grande histórico de desenvolvimento conjunto com o Brasil e outros países nas mais diversas áreas) lotes de 12 a 16 aeronaves, substituíndo gradualmente a nossa frota de AMX e dos F-5 modernizados até o ano de 2025 quando o último F-5 saíra de serviço.
Assim fircariamos com uma frota de 24 F-18 E/F e 96 Gripens baratenado as horas de voos dos nossos pilotos dando maior treinamento aos mesmo e tendo maior disponibilidade na frota.
Para finalizar, quero dizer mais uma coisa: Há no Brasil um defeito cronico que é a não continuidade nos projetos. Esta ai o projeto do submarino brasileiro, que por falta de verba, esta a 30 anos em desenvolvimento, e verdade seja dita o único merito foi o desenvolvimento das ligas metálicas S-300 e das ultra-centrifugas. Cadê o submarino depois de 30 anos? Não existe por que governo nenhum teve visão para investir o necessário na tecnologia de construção, tecnologias essas que seriam usadas em outras áreas e não somente na área militar. Cadê o foguete brasileiro? Tá convulsionando em Alcantara sem sair do chão passados 40 anos desde os estudos inicias para a implantação da primeira familia de veiculos lançadores de satélites (VLS).
É por falta de visão e memoria que esse país não avança para frente. Há capacidade cientifica no país, só não há recursos para manter essas mentes trabalhando aqui.