A notícia da reabertura das negociações para a compra de novos caças pela Força Aérea Brasileira (FAB) foi comemorada por um dos mais altos funcionário da equipe militar do presidente democrata Barack Obama, o secretário da Marinha, Ray Mabus. Em entrevista ao GLOBO, depois de reunião em Brasília com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, Mabus sinalizou que o uso progressivamente maior de biocombustíveis pelo robusto sistema de defesa americano pode pesar a favor dos interesses da Boeing, na disputa com o caça Rafale francês e o Gripen, da Suécia.

Além de reafirmar a garantia de transferência de tecnologia do F/A-18 Super Hornet para o Brasil, a Boeing – que disputa com a francesa Dassault e a sueca Saab um contrato para a venda de 36 caças ao país – melhorou a sua oferta com pelo menos duas iniciativas. Uma delas é a promessa de que empresas brasileiras passariam imediatamente a produzir peças para aviões da Marinha americana; e também, em parceria com a própria Boeing, entrar no mercado global da aviação, passando a fornecer outros equipamentos – inclusive asas e fuselagem do Super Hornet – tanto para os Estados Unidos como para vários outros países. Assim a indústria aeroespacial brasileira se tornaria o principal fornecedor e parceiro da Boeing no mercado global, e especificamente no mercado de defesa dos EUA, que é dez, cem vezes maior que os mercados dos competidores. O Governo Americano foi autorizado pelo Congresso daquele país a transferir, em termos de tecnologia, “tudo aquilo que foi exigido pela Força Aérea do Brasil”, sem restrições. A Boeing obteve autorização sem precedentes de todos os setores do governo, inclusive do Congresso, pois ela foi alcançada antes mesmo de haver um contrato. Autorizaram inclusive o uso de sistema de armas 'made in Brazil' no caça. Essa integração jamais foi feita com os Super Hornets.

Mabus disse que os EUA mantêm a proposta inicial, mas acrescentou que os americanos estão determinados a permitir que, até 2020, metade da força da Marinha, com orçamento anual de US$ 150 bilhões e mais de 900 mil militares, seja movida por energia renovável.

- Se o F-18 for escolhido aqui, ele vai dividir a pesquisa e as aplicações práticas dos biocombustíveis. E eu quero dizer que a nossa relação de defesa com o Brasil é muito maior do que isso (a compra dos caças). Estamos contentes que o processo está aberto porque nós estamos absolutamente convencidos que o F-18 é a a melhor aeronave - afirmou.

Sob o comando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a disputa estava praticamente decidida a favor da França . Lula não escondia sua preferência pelo modelo Rafale. Já boa parte da área militar defendia, nos bastidores, o sueco Gripen, produzido pela Saab.

Mabus assegurou que é "absurdo" o receio que algumas pessoas têm, incluindo autoridades brasileiras, em relação à Quarta Frota no Atlântico Sul. Disse que a presença dos equipamentos não significa qualquer ameaça à soberania do Brasil. E revelou que os navios americanos na região podem ser usados em projetos de cooperação para combater o narcotráfico e o tráfico de armas.

O diretor da Saab no Brasil, Bengte Janér, disse que vê com naturalidade a decisão do governo brasileiro de rever o processo de escolha dos aviões. Para ele, a prorrogação da concorrência não vai alterar o quadro atual da disputa entre a sueca Saab, com os caças Gripen NG, a americana Boeing, com os F-18 Super Hornet, e a francesa Dassault, com os Rafale. Janér não acredita na inclusão de outras empresas nem em alterações profundas nas propostas já apresentadas.

O embaixador da França Yves Edouard Saint-Geours não quis comentar o assunto. Mas diplomatas franceses dizem que não há problema na decisão do governo brasileiro de rever a disputa pelos caças. O ex-presidente Lula e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deram sinais de que a proposta da empresa francesa, que inclui transferência total de tecnologia, era a que mais se encaixava nos interesses estratégicos do governo brasileiro.

- Como o presidente Lula não tomou a decisão, a presidente Dilma precisará de mais tempo para estudar as propostas. Não é um adiamento - afirmou um auxiliar do embaixador.

Fonte: O Globo