Uma tentativa de aliados de Kadhafi para retomar o porto petroleiro de Brega (leste) lançou luz sobre o relativo poderio das forças do regime e a desorganização do exército oposicionista.
Oficialmente, Kadhafi tem 115 mil soldados e milicianos, mas a maioria é mal armada e mal treinada por causa dos anos em que o ditador concentrou poder em uma brigada de elite baseada em Trípoli, liderada por um de seus filhos.
Juntamente com milhares de mercenários africanos contratados por até dois mil dinares líbios (1.435 euros) por dia, as milícias são sua única esperança real de resistir ao maior desafio vivido por seu regime em 41 anos.
"Há um exército dentro de um exército. Há brigadas especiais que são chefiadas por pessoas de sua mais alta confiança. O resto do exército é história", disse à AFP Saad Djebbar, analista sobre a Líbia baseado em Londres e advogado.
Em 2010, as forças armadas líbias tinham uma força nominal de 76 mil homens, a maioria recrutas, segundo o Balanço Militar, uma pesquisa publicada pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), situado na Grã-Bretanha.
Mas Kadhafi conhece os riscos que um exército forte pode representar para um líder impopular, já que ele próprio tomou o poder, em 1969, quando era um jovem coronel, em golpe de Estado no qual depôs o rei Idris.
Kadhafi enfraqueceu o exército durante os anos 1970 e 1980, dando poder à "milícia do povo", composta por 40 mil homens, com a qual tem laços de sangue.
"Ele armou sua tribo e membros da tribo, sua família e os clãs que foram aliados dele e os promoveu no exército e no serviço de inteligência", explicou.
A mais próxima de Kadhafi é a 32ª Brigada, baseada em Trípoli e conhecida como "Brigada Khamis" porque é chefiada por seu filho Khamis. Na maioria, compreende membros da tribo de Kadhafi e é a mais bem equipada e treinada unidade do país.
Shukri al-Sinki, um analista independente sobre a Líbia radicado no Cairo, explicou que o ataque a Brega foi, provavelmente, uma tentativa de Khadafi de convencer as pessoas leais a ele de que está no controle.
"Se ele não controlar este lado (seus aliados) significa que ele já era", disse.
Enquanto isso, o auto-proclamado "rei dos reis" da África também acena seus petrodólares para seduzir mercenários de todo o continente, que são particularmente repudiados pelos rebeldes.
Cerca de 25 mil combatentes contratados de Chade, Níger, Mali, Zimbábue e Libéria estão recebendo entre 300 e 2.000 dinares líbios por dia para lutar pelo seu regime, segundo o chefe da Liga de Direitos Humanos da Líbia, Ali Zeidan.
Três mercenários estavam entre os mortos em Brega, inclusive um com documento de identidade do Níger.
No entanto, a maior ameaça aos rebeldes, e que impulsiona as potências ocidentais a considerar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, é a Força aérea do país.
De novo, oficialmente ele teria 374 aviões de combate, incluindo caças franceses Mirage e russos MiG, potentes helicópteros de combate russos e de transporte de tropas Chinook, de fabricação americana.
Mas, segundo o IISS, muitas aeronaves estão fora de serviço ou armazenadas após anos de sanções.
Os recentes ataques aéreos a Brega não causaram baixas, mas nos primeiros dias da rebelião, eles foram culpados por muitas mortes entre os manifestantes.
Por outro lado, as forças rebeldes somam 8.000 pessoas, segundo a consultoria americana de segurança Stratfor. Com exceção de alguns desertores do exército, a maioria é de voluntários inexperientes.
Correspondentes da AFP viram alguns indo para o combate armados com facões e até um espeto de carne de metal, enquanto outros disseram ter tido lições de 15 minutos sobre como usar uma Kalashnikov.
No entanto, as tropas oposicionistas conseguiram roubar armamento pesado das forças leais a Kadhafi em fuga, inclusive baterias antiaéreas e até agora defenderam a maior parte do território conquistado.
Sinki disse que os rebeldes seriam capazes de se segurar, mas a questão era se conseguiriam atacar Trípoli, a cerca de 1.000 km de distância.
O caminho é árduo porque passa pela cidade costeira de Sirte, cidade natal de Kadhafi.
A melhor opção para os rebeldes seria que a pressão internacional consiga fazer com que aqueles que são leais a Kadhafi lhe deem as costas.
"Havendo influência externa, acredito que as pessoas em volta dele não responderão ao seu comando. Ou eles vão matá-lo ou ele tentará escapar", explicou Sinki.
Fonte: AFP
0 Comentários