Apontada em 2002 e em 2004 como a provável vencedora da disputa entre empresas do setor aeronáutico para venda de caças ao Brasil, a fábrica russa Sukhoi tenta voltar ao jogo em andamento com as outras três concorrentes. A compra das aeronaves pelo governo brasileiro foi tema ontem da conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, logo depois da reunião do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O russo saiu animado da quase meia hora de conversa, porque Dilma respondeu que “o assunto está em aberto”.

Medvedev puxou o assunto perguntando à presidente brasileira se ela havia recebido a carta que ele enviara no último dia 4. O russo oferecia os caças. Ela disse que sim e comentou que “nada estava decidido a esse respeito”. Ministros presentes à reunião entenderam que Dilma vai zerar a corrida para a compra dos aviões, mas o chanceler Antonio Patriota comentou que ela acenou com interesse em retomar o projeto do Sukhoi, porém a conversa não foi conclusiva. “O tema da cooperação militar, de defesa, também foi levantado no encontro com o primeiro-ministro da Índia. Eles estão interessados em adquirir caças de treinamento, além de uma proposta de compra de nove aviões tucanos da Embraer, que já está sendo negociada há algum tempo”, afirmou Patriota.





A compra dos caças foi um dos primeiros projetos que a presidente Dilma tirou da bandeja de assuntos urgentes e colocou sobre a mesa de estudos para analisar melhor antes de tomar uma decisão. Afinal, o projeto F-X 2, da compra de 36 caças, envolve e uma série de cláusulas que precisam de uma negociação exaustiva, caso, por exemplo, da transferência de tecnologia.

Ao longo do segundo mandato do presidente Lula, os caças Rafale (França), Super Hornet (EUA) e o Grippen (Suécia) travaram uma disputa em que, a cada ano, um estava mais acima que os outros dois concorrentes. Primeiro, foi o caça sueco, Grippen, apontado como o favorito pelas autoridades aeronáuticas. Depois, em setembro de 2009, quando o presidente da França, Nicolas Sarkozy, veio ao Brasil, a bola da vez eram os Rafale. Por último, apareceu o Super Hornet, da Boeing, com um intenso trabalho de propaganda. Diante de tanto vaivém, o presidente russo tenta agora pegar a sua onda nesse projeto.

Se a presidente Dilma decidir mesmo zerar o jogo, como pareceu inclinada para alguns ministros, a compra dos caças pode deixar de ser uma mera decisão e produto para fazer parte da geopolítica nacional. E o fato de a Rússia pertencer ao Brics, grupo ao qual o governo deseja dar uma prioridade em vários assuntos, pode acabar representando uma vantagem. Mas antes de avançar esse sinal, a ordem é conversar com o setor de Defesa. Afinal, se tem algo que a presidente não gosta é avançar num tema sem combinar com o time. A questão dos caças é um deles.

Fonte: Correio Braziliense – Denise Rothenburg, via Blog Cavok