Às 3h da madrugada de segunda feira (2 de maio), dois caças F-16 paquistaneses levantaram voo para abaterem os helicópteros norte-americanos que tinham realizado a operação contra Osama bin Laden, revelou ontem o chefe da diplomacia paquistanesa, Salman Bashir. Para o local foram também enviadas tropas especiais, mas era demasiado tarde.
Sexta foi um dia de declarações das mais altas autoridades militares e civis do Paquistão, reagindo finalmente ao raid norte-americano do qual resultou a morte de Osama bin Laden e mais quatro dos seus acólitos. Depois de quase uma semana de declarações defensivas, procurando explicar como fora possível que bin Laden tivesse vivido longamente, durante cinco anos segundo agora se sabe, na cidade militar de Abbotabad, as autoridades paquistanesas desencadearam na quinta feira uma contra-ofensiva política.
Parece duvidoso que essa contra-ofensiva sirva para alguma outra coisa além de salvar a face, perante governos ocidentais altamente críticos da protecção concedida a bin Laden pelos serviços secretos paquistaneses e, por outro lado, perante a opinião pública paquistanesa, que inversamente tem dado sinais de indignação pela subserviência do seu governo face aos Estados Unidos.
Exército paquistanês ameaça EUA
Com efeito, nem o Governo nem os militares anunciam qualquer represália pela violação do espaço aéreo e do território paquistanês, antes se limitando ambos a ameaçar que em caso de idêntica violação futura serão revistos os termos da cooperação com os EUA ao nível militar e ao nível de serviços de informações. A ameaça resulta, à luz do comportamento da ISI (serviços secretos paquistaneses) na questão de bin Laden, pouco menos que irónica.
Em todo o caso, não deixa de ser significativo que tenha proferido a ameaça precisamente o chefe de Estado-Maior do Exército, general Ashfaq Kayani, destinatário de uma ajuda norte-americana que se cifrou em 10 mil milhões de dólares ao longo da última década. Além disso, existe uma efectiva decisão de reduzir ao "mínimo essencial" o número de quadros militares norte-americanos no Paquistão.
Segundo o comunicado do Exército, citado no site de Al Jazeera, "qualquer violação semelhante da soberania paquistanesa desencadeará uma revisão do nível de cooperação militar e de inteligência com os Estados Unidos".
A ameaça teria um peso considerável, se não se encontrasse condicionada à hipótese mais do que improvável de se repetir um caso semelhante ao de bin Laden: é que o Paquistão desempenha um papel essencial na logística do conflito no Afeganistão e qualquer retirada de apoio aos EUA nesse conflito agravaria ainda mais a situação difícil que as tropas da ISAF padecem no teatro de guerra.
Ministro paquistanês revela detalhes alarmantes
Antes ainda do comunicado militar, falara ontem o ministro paquistanês dos Negócios Estrangeiros, Salman Bashir, para revelar que, na madrugada de segunda feira, aviões paquistaneses e tropas especiais foram enviadas para o local da intervenção norte-americana, com o objectivo de enfrentar o ataque.
Segundo a declaração de Bashir, também citada pelo site de Al Jazeera, dois caças F-16 levantaram voo "assim que se tornou claro que os helicópteros não eram nossos". A formulação pode ser um eufemismo para não admitir abertamente que aviões paquistaneses tinham a missão de abater heliucópteros norte-americanos. Para além de saberem que os helicópteros não eram paquistaneses, os membros do Governo e os comandos militares envolvidos na decisão não necessitariam de muita perspicácia para saberem que se tratava de aparelhos norte-americanos.
Estes, por seu lado, realizaram a operação no tempo-recordce de 38 minutos e puseram-se em fuga para a sua base no Afeganistão. Só depois disso o cadáver de bin Laden terá sido transportado para um porta-aviões no Golfo de Oman. A Casa Branca contava com a possibilidade de uma reacção militar paquistanesa e, logo no dia seguinte, admitiu que só comunicou ao Governo de Islamabad o fim da operação, quando os seus aparelhos tinham deixado o território paquistanês, para evitar confrontos com forças paquistanesas.
Fonte: RTP
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