A França rejeitou nesta sexta-feira as críticas dos EUA à participação europeia na operação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Líbia, enquanto o governo norte-americano conseguiu escapar à rejeição dos parlamentares de oposição em uma votação sobre o financiamento da missão.

Após meses de bombardeios aéreos ocidentais para ajudar grupos rebeldes, o ditador Muammar Gaddafi consegue se manter no poder na Líbia, e os relatos sobre mortes de civis nas ações da Otan agravam as divisões entre os governos da aliança a respeito de uma operação que não tem um final à vista.

Refletindo sua insatisfação com as múltiplas guerras em andamento, deputados dos EUA fizeram uma repreensão simbólica ao presidente Barack Obama por sua participação na missão da Otan, mas em uma segunda votação rejeitaram uma proposta para impedir as forças norte-americanas de participarem dos bombardeios.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, saudou o resultado da votação, que poderia acarretar em restrições orçamentárias à missão. "Estamos gratos que a Câmara tenha rejeitado os esforços para limitar o financiamento da missão na Líbia", disse ela a repórteres.




REAÇÃO FRANCESA

Em Bruxelas, onde participa de uma cúpula da Otan, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, reagiu a críticas feitas no começo do mês pelo secretário norte-americano de Defesa, Robert Gates, para quem a União Europeia (UE) estaria demonstrando fraqueza militar na Líbia.

"Foi particularmente inadequado por parte do sr. Gates, e além do mais completamente falso, diante do que está ocorrendo na Líbia", afirmou. "Certamente há outros momentos na história em que poderíamos dizer isso, mas não quando os europeus pegaram corajosamente a questão líbia nas suas mãos, e quando França e Reino Unido, junto com seus aliados, na maior parte, estão fazendo o trabalho."

Os EUA recusaram um papel de liderança na campanha militar da Otan na Líbia, iniciada em 31 de março, mas continuam contribuindo com aviões e outros recursos.

Em um discurso de despedida do cargo em 10 de junho, Gates disse que a campanha na Líbia revelou limitações, já que um centro de operações aéreas projetado para coordenar 300 voos diários estava tendo dificuldades para operar cerca de 150.

"Acho que a aposentadoria dele pode tê-lo levado a não examinar a situação na Líbia muito de perto, porque, a despeito do que as pessoas queiram dizer, não tenho a impressão de que os norte-americanos estejam fazendo o grosso do trabalho na Líbia", disse Sarkozy.

Gates deixará o cargo no final deste mês.

DIVERGÊNCIAS

Nesta semana, vieram à tona também discordâncias entre aliados europeus da Otan, quando a Itália pediu a interrupção das hostilidades para permitir o acesso de agências humanitárias a zonas de conflito, proposta que foi rejeitada com veemência por Reino Unido, França e outros países.

Nos EUA, a oposição republicana se ressente do fato de Obama não ter buscado aval do Congresso para o envolvimento militar na Líbia, e, por isso, a Câmara rejeitou por 295-123 votos uma resolução endossando a participação na missão da Otan.

No entanto, Obama obteve uma vitória amplamente simbólica com a rejeição, por 238-180 votos, de uma proposta republicana para proibir os militares dos EUA de realizarem bombardeios aéreos contra as forças de Gaddafi. Oito parlamentares republicanos se juntaram à bancada democrata contra a medida.

POLÊMICA

Legisladores que apoiam a autorização da participação dos EUA em ações da Otan contra Gaddafi advertiram que a medida pode prejudicar as operações militares no país norte-africano.

"Temos uma responsabilidade com nossos aliados", disse o representante democrata Alcee Hastings. "Enquanto continuarmos dando apoio logístico, material e de inteligência, temos que apoiar nossos aliados que estão engajados em operações de confronto direto. Temos de ficar ao lado da Otan", afirmou.

Outros representantes são críticos à maneira com que Obama lidou com a intervenção na Líbia, e ao fato de ele não ter consultado o Congresso americano, como prevê a Constituição americana.

"Provavelmente grande parte do Congresso apoiaria a operação, caso a autorização fosse pedida", disse o republicano David Dreier. "Acredito que tanto democratas quanto republicanos sabem que essa ação [na Líbia] foi muito mal administrada".

Fonte: UOL