A JetBlue, que vem enfrentando dificuldades, foi a cliente lançadora do avião Embraer 190, de 100 passageiros, com pedido firme de 100 unidades e outras 100 opções de compra, em contrato assinado em 2003 avaliado à época em até 6 bilhões de dólares.
"Já deveriam ter sido entregues os 100 (aviões do pedido firme) há bastante tempo, era para terem sido entregues em quatro, cinco anos e isso não aconteceu. Temos tido uma enorme flexibilidade em termos de ajustar as entregas", disse Curado na véspera da abertura da Paris Air Show, em Le Bourget.
A multa prevista em contrato para a JetBlue no caso de cancelamento do pedido acaba não sendo uma alternativa pelo valor irrisório diante da possibilidade de perda de um cliente dessa relevância.
Até o final de março, a Embraer tinha entregue apenas 49 aviões para a JetBlue. Segundo Curado, se a companhia norte-americana adotar em sua frota o novo avião A320neo, da Airbus, a fabricante brasileira "pode ter um risco maior" com as 51 aeronaves restantes da encomenda firme.
Questionado sobre as 100 opções de compra da JetBlue, o executivo foi taxativo: "Exercer as opções é pouco provável, sinceramente".
Ele frisou, contudo, que dada a diversificação da base de clientes --são cerca de 60 companhias aéreas atualmente no mundo voando com os E-Jets de 70 a 122 assentos da Embraer-- o impacto no resultado da empresa não seria dramático.
A Embraer tinha no final do terceiro trimestre pedidos firmes por 270 aviões comercias, o equivalente a entre dois e três anos de entregas. Além disso, a carteira contava com 705 opções de compra, número considerado expressivo por analistas.
Segundo Curado, a Embraer tem conseguido transformar mais de 50 por cento das opções em encomendas firmes. A manutenção dessa taxa de sucesso dependerá da conjuntura econômica.
PETRÓLEO E EUROPA
As ameaças à indústria no horizonte vêm do preço em alta do petróleo, consequência dos conflitos políticos no Oriente Médio e Norte da África, e da crise de dívida soberana na Europa. Nada suficiente, até agora, para que companhias aéreas posterguem decisões de compra de aviões ou adiem o recebimento de aeronaves.
Apesar do discurso cauteloso, Curado afirmou que sua visão hoje sobre a indústria aeronáutica "é um pouco melhor que a do ano passado". Se comparado à edição anterior da Paris Air Show em 2009, que "estava um clima de velório diante da recessão econômica global, a indústria está bem mais animada".
ENTREGAS
Sobre a meta de entregas de aviões comerciais em 2011, de 102 unidades, Curado disse que ela será cumprida apesar de problemas no fornecimento de componentes do Japão após o terremoto e o tsunami que atingiram o país asiático em março.
O atraso no recebimento de motores da General Electric com peças japonesas fará com que as entregas de jatos no segundo e no terceiro trimestres fiquem um pouco baixas, mas haverá concentração de outubro a dezembro para compensar.
Curado disse ainda que a Embraer pretende ter pelo menos 1 pedido novo para cada entrega de avião comercial feita em 2011, para fazer a carteira de pedidos "crescer um pouco".
O executivo afirmou que a Embraer já sente mais pressão de novos concorrentes nas campanhas de vendas, sobretudo da russa Sukhoi com o Superjet 100. Ele citou também o CSeries, da rival canadense Bombardier, ainda em desenvolvimento.
Diante do aumento da competição, a Embraer tem sido criticada por alguns analistas pela demora em decidir seu próximo passo na aviação comercial, se remodela sua atual família de jatos ou se parte para um custoso e arriscado desenvolvimento de uma aeronave maior que a colocaria em disputa com as gigantes Boeing e Airbus.
"Estamos sentindo o aumento da competição e não podemos ter ilusão de que vamos ficar de braços cruzados sem anunciar nossos planos e está tudo bem. A expectativa começa a aumentar. Eu continuo achando que até o final do ano a gente já tem um direcionamento", disse.
Fonte: Estadão
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