A insatisfação de parte dos militares foi revertida graças a uma operação minuciosa, que contou com assessores do Ministério da Defesa nas primeiras horas em que Amorim foi indicado na sexta-feira. Também contribuiu a atuação decisiva de Dilma, que se reuniu pessoalmente com os comandantes das Forças e o chefe do Estado-Maior. Ela abriu caminho para a conversa que o novo ministro teve com os quatro na tarde de sábado. “Os comandantes receberam bem, as insatisfações foram distensionadas. O Celso Amorim vai assumir o posto e vai jogar o jogo. A bola está nos seus pés e o sucesso depende dele”, comentou um oficial com cargo no Ministério da Defesa que pediu para não ser identificado.
Otimismo
O general Leônidas Gonçalves, que foi ministro do Exército do governo José Sarney (1985-1990), disse estar otimista com relação à atuação de Amorim. “É um homem de experiência em altos cargos, conhece a questão internacional e tem todas as condições para se sair bem.” Gonçalves espera que Amorim saiba reunir bem todas essas qualidades e use a proximidade com a presidente Dilma para conseguir recursos para o Ministério da Defesa. Gonçalves acredita que todos os cinco ministros antecessores de Jobim não conseguiram consolidar o papel institucional do Ministério da Defesa. “Os ministros anteriores foram muito fracos e sem condições técnicas de realizar o que se devia.”
Hoje, essa questão está ultrapassada, na visão do capitão-de-mar-e-guerra reformado da Marinha Adalberto de Souza Filho, professor de estratégia e planejamento da Escola Superior de Guerra (ESG). “Não se questiona mais a importância de o Ministério da Defesa estar nas mãos de um civil”, avaliou. “Essa etapa está ultrapassada. O que se discute é o revigoramento político do Ministério da Defesa”, afirmou Souza Filho. Segundo ele, conta a favor de Amorim o fato de haver uma convergência entre as políticas de Defesa e Externa. “Não existe país que busque um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU sem estrutura de defesa respeitável”, disse o professor da ESG.
Na avaliação do general Leônidas Gonçalves, o Brasil é um país pacífico, mas o crescimento da economia e o papel de destaque brasileiro no cenário internacional podem ocasionar choques de interesses daqui a 30 ou 40 anos. Por isso, um Ministério da Defesa forte é necessário para se preparar para o futuro. Ele lamentou que a pasta tenha sofrido diversos reveses orçamentários este ano. “As prioridades do governo para as Forças Armadas estão equivocadas. Tem novos patrimônios que precisam ser defendidos”, afirmou.
As mulheres e os parentes dos militares realizaram protesto ontem pedindo reajuste salarial. Durante a tradicional troca da Bandeira Nacional, na Praça dos Três Poderes, eles cobraram o reajuste de 135% no soldo, para atingir o poder de compra de 10 anos atrás. Segundo manifestantes, a conta foi feita com base na perda salarial e na diferença entre as polícias e o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Durante a cerimônia, a manifestação foi silenciosa. Mas assim que acabou o evento, o grupo promoveu um panelaço e usaram um megafone para chamar a atenção de oficiais do Exército.
Fonte: O Rio Branco
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