Três toques de corneta assinalaram o começo da cerimónia: um de
silêncio, outro de homenagem aos mortos e outro de alvorada. Duas coroas
de flores foram então depositadas na réplica em aço do Santa Cruz,
perto da Torre de Belém, avião que descolou a 30 de março de 1922 com
Sacadura Cabral e Gago Coutinho para a primeira travessia aérea do
Atlântico sul. A cerimónia celebrou os 90 anos da viagem e também o
reconhecimento, pela UNESCO, da necessidade de preservação dos diários
de bordo dos dois aviadores.
Junto à réplica do avião juntaram-se vários militares, de entre os quais
se destacavam o Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas,
General piloto-aviador Luís Araújo, o Chefe do Estado-Maior da Força
Aérea, General José Araújo Pinheiro e o Chefe do Estado-Maior da Armada,
Almirante Saldanha Lopes, assim como antigos Comandantes de Estado
Maior das Forças Armadas.
Também no local para a homenagem estiveram familiares de Artur Sacadura
Cabral, como o ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas e a sua
mãe, Helena de Sacadura Cabral, sobrinha do piloto.
Faltavam os cigarros
O caminho do monumento para o Museu da Marinha fez-se rapidamente e foi
no Pavilhão das Galeotas que decorreu o «evento de justificada
relevância, pelo patriotismo dos seus intervenientes», disse o
comandante Cirne de Castro, antigo Secretário-Geral da Academia de
Marinha, que aproveitou para contar um pouco mais a história deste feito
de cariz mundial.
«Foi um acontecimento excecional de duas pessoas memoráveis. Em 1922,
Artur de Sacadura Cabral falou com Gago Coutinho para que tentassem
atravessar o Atlântico sul de avião, usando técnicas da navegação em
avião, tendo em conta a velocidade do meio de transporte e a influência
do vento», começou por dizer o comandante. «Na altura ofereceram-se 20
conto para quem conseguisse o feito de atravessar de avião entre Lisboa e
o Rio de Janeiro. Os brasileiros desistiram da ideia e sobraram os
portugueses. Por em Fernando de Noronha, no Brasil, não haver local para
aterrar, escolheu-se um hidroavião... monomotor, porque os fundos da
tutela não davam para mais», continuou.
Até que 60 horas após a partida de Lisboa, no Cais do Bom Sucesso, o
Santa Cruz aterrou na Baía de Guanabara. «Sacadura Cabral previra 60
horas de voo. Mas foram 60 horas e 14 minutos. Era realmente um homem
genial», sentenciou Cirne de Castro. Sacadura Cabral só se queixou de
uma coisa: «da falta de cigarros».
UNESCO protege diários
Na cerimónia foi também entregue uma placa que simboliza o compromisso
da UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura na proteção dos diários de bordo de Sacadura Cabral e Gago
Coutinho. Estes serão mantidos no registo de memória da organização de
forma a perdurar o feito de ambos os pilotos.
Fonte: Bruno Abreu (A Bola - Portugal) - Foto: Alexandre Pona/ASF - Via Noticias Sobre Aviação
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