Para o presidente da Boeing, um dos três concorrentes na venda de
caças ao país, a proposta de transferência de tecnologia aos brasileiros
“já é muito agressiva”. A americana Boeing concorre com a francesa
Dassault e a sueca Saab pelo contrato de venda de 36 caças à Força Aérea
Brasileira, um projeto de 10 bilhões de reais que se arrasta desde 2006
e não tem prazo para ser fechado. O Brasil quer ampliar a transferência
de tecnologia, mas a Boeing argumenta que há pouco espaço para avançar.
“Nossa proposta já é muito agressiva”, diz James McNerney, presidente
da empresa.
1) Por que o governo brasileiro está demorando tanto tempo para tomar uma decisão sobre a compra dos caças?
As idas e vindas desse projeto são da natureza do negócio. A escolha
leva em conta critérios políticos e técnicos. Mas. de fato, o Brasil tem
demorado um pouco mais.
2) É a burocracia que emperra o processo aqui?
Não é o caso. Estamos falando, afinal, de defesa nacional, a decisão
mais importante que um país pode tomar. Não diria que o Brasil é mais
burocrático que os Estados Unidos numa decisão como essa.
3) Uma das exigências do governo brasileiro é a transferência de tecnologia. Qual é a posição da Boeing sobre isso?
A nossa proposta de transferência de tecnologia já está em um nível
bastante elevado. Há algum elemento adicional a ser oferecido no acordo?
Talvez. Mas nenhum parceiro nos- so obtém acordo melhor.
4) Nenhum outro país consegue nada melhor do que foi oferecido ao Brasil?
Não. Para os nossos padrões, a transferência de tecnologia já é muito
agressiva. Além do mais, nosso equipamento é o melhor – e o governo
brasileiro tem consciência disso.
5) Em 2011, a Embraer venceu uma concorrência para a venda de
aviões à Força Aérea americana, mas a compra foi cancelada,
supostamente, para beneficiar uma empresa local. A Boeing cogitou a
hipótese de interceder a favor da Embraer?
Não nos envolvemos em projetos da Embraer, assim como ela não se
envolve nos nossos. Há quem encare o cancelamento do contrato da Embraer
como uma posição anti-Embraer ou anti-Brasil. Mas metade dos contratos
que a Boeing vence é contestada pelos derrotados. Isso acontece o tempo
todo, infelizmente.
6) O governo brasileiro pretende prosseguir com a concessão de
aeroportos federais para a iniciativa privada. A Boeing tem interesse
nessa área?
Não costumamos encarnar o papel de investidor. Em geral, prestamos
consultoria a governos para ajudar a gerenciar essas privatizações –
propondo padrões para a construção de aeroportos e analisando a malha
aérea. Com rotas mais eficientes, podemos ganhar com a economia de
combustível, a redução de poluentes e – claro – a venda de mais aviões.
7) No Brasil, duas companhias aéreas têm, somadas, 80% do mercado
de aviação. Não seria o caso de o Brasil abrir o mercado às companhias
estrangeiras?
O crescimento aqui é muito agressivo. Além do mercado das companhias
de aviação, há um grande espaço, por exemplo, para empresas de
manutenção e de serviços. Já sabemos que pelo menos três empresas dessas
áreas devem chegar ao país em breve.
Fonte: EXAME, Patrick Cruz – via CAVOK
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