Desde que chegou ao Brasil, em setembro
do ano passado, o espanhol Emilio Díaz vem se esforçando para aprender
português. O processo tem sido prejudicado pelas constantes viagens, o
que deixa o executivo um pouco nervoso em sua primeira entrevista desde
que assumiu o comando no Brasil da também espanhola Indra, especializada
na terceirização de serviços na área de tecnologia da informação (TI).
Durante a conversa com o Valor, foram vários os pedidos de desculpas
pelos tropeços em algumas palavras.
Assim como aprender português tornou-se
um desafio pessoal para Díaz, entender o ambiente de negócios no Brasil
passou a ser um imperativo para a Indra. Com a compra da brasileira
Politec , em julho do ano passado, por R$ 219 milhões, o país passou a
ser o maior mercado para a companhia fora da Espanha, respondendo por
praticamente 10% de sua receita global. O Brasil ganhou tanta relevância
que a Indra transferiu para o país o centro de comando de suas
operações internacionais: ao todo são 44 países, que respondem por 50%
da receita total, de R$ 6,2 bilhões.
A mudança trouxe Díaz ao Brasil.
Responsável por essa área desde 2010, ele assumiu também o comando do
escritório brasileiro. "O Brasil e a América Latina são muito
importantes. Estar aqui é fundamental para ficar perto dos profissionais
e dos clientes", disse o executivo ao Valor. Atualmente, a Indra tem 13
mil funcionários na América Latina (um terço do quadro total, de 40 mil
pessoas). Da equipe regional, 6,5 mil profissionais estão no Brasil.
Com presença no país há mais de 15 anos, a
Indra tinha 2,5 mil pessoas no Brasil até a aquisição da Politec, com
atuação concentrada nos mercados de telecomunicações, energia e serviços
financeiros. Depois do negócio, incorporou 4 mil funcionários e herdou
contratos nos segmentos de governo e finanças. De acordo com Díaz, a
receita ficou bastante equilibrada entre as várias áreas. Com a
aquisição, a Indra também anunciou um aporte de R$ 100 milhões na
operação brasileira.
Entre as oportunidades no país, o
executivo destacou os investimentos em TI feitos pelo governo nas áreas
de tributos e serviços eletrônicos para os cidadãos, além de projetos na
área de transportes. Nesse segmento, a companhia mantém, há dois anos,
uma joint venture com a brasileira Esteio, que já rendeu projetos na
região Sul.
A Indra também pretende fazer parte de algum consórcio para participar da disputa pela construção do trem-bala no Brasil. Além
disso, tem estreitado o relacionamento com as Forças Armadas para
participar dos projetos de reaparelhamento do governo. A empresa foi a
responsável, por exemplo, pela instalação do sistema de comunicação por
satélite do porta-aviões São Paulo, da Marinha.
Desde a aquisição da Politec, a Indra
adicionou a marca da companhia brasileira à sua, passando a ser chamada
localmente de Indra Politec. Mas ao longo dos últimos meses -
principalmente depois de fevereiro, quando acabou o plano de 120 dias de
integração estabelecido por Díaz - a empresa vem paulatinamente
retirando o nome da Politec de suas comunicações oficiais. Segundo Díaz,
o plano é que essa mudança seja completa, e que o nome Politec seja
abandonado. Mas não há um prazo determinado para que isso aconteça. "A
marca Politec é muito forte. Não podemos deixá-la de uma hora para
outra", disse.
Na avaliação do executivo, o Brasil será
um importante combustível para o crescimento da Indra em um período de
até quatro anos, com crescimento percentual de dois dígitos por ano. Com
a expansão das atividades no país, o objetivo é ganhar porte suficiente
para colocar a companhia entre as cinco maiores empresas de TI locais
em dois ou três anos. Hoje, a Indra ocupa a oitava posição. "O Brasil é
um país muito grande, é preciso ter um porte adequado. Agora, podemos
aproveitar melhor as oportunidades", afirmou.
Uma das estratégias é a expansão na
região Nordeste do país. O movimento tem dois objetivos: obter novos
negócios e recrutar talentos. "É mais fácil achar talentos fora do Rio,
de São Paulo e de Brasília", disse o executivo. A procura vai ocorrer
principalmente a partir do centro instalado no parque tecnológico de
Salvador, o Tecnocentro, que tem previsão de ser inaugurado em julho.
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