Desde que chegou ao Brasil, em setembro do ano passado, o espanhol Emilio Díaz vem se esforçando para aprender português. O processo tem sido prejudicado pelas constantes viagens, o que deixa o executivo um pouco nervoso em sua primeira entrevista desde que assumiu o comando no Brasil da também espanhola Indra, especializada na terceirização de serviços na área de tecnologia da informação (TI). Durante a conversa com o Valor, foram vários os pedidos de desculpas pelos tropeços em algumas palavras.
Assim como aprender português tornou-se um desafio pessoal para Díaz, entender o ambiente de negócios no Brasil passou a ser um imperativo para a Indra. Com a compra da brasileira Politec , em julho do ano passado, por R$ 219 milhões, o país passou a ser o maior mercado para a companhia fora da Espanha, respondendo por praticamente 10% de sua receita global. O Brasil ganhou tanta relevância que a Indra transferiu para o país o centro de comando de suas operações internacionais: ao todo são 44 países, que respondem por 50% da receita total, de R$ 6,2 bilhões.

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A multinacional espanhola de serviços de TI Indra assinou acordo para a aquisição da Politec, fornecedora brasileira de serviços de tecnologia. Com a operação, cujo valor não foi revelado, os negócios internacionais passam a responder por 47% da receita total da companhia espanhola, que somente no ano passado atingiu 2,55 bilhões de euros. Ainda de acordo com a Indra, o Brasil será o segundo mercado nacional para a empresa – 10% das vendas – e a América Latina o primeiro mercado regional, com 22% das vendas. (AQUI)

A mudança trouxe Díaz ao Brasil. Responsável por essa área desde 2010, ele assumiu também o comando do escritório brasileiro. "O Brasil e a América Latina são muito importantes. Estar aqui é fundamental para ficar perto dos profissionais e dos clientes", disse o executivo ao Valor. Atualmente, a Indra tem 13 mil funcionários na América Latina (um terço do quadro total, de 40 mil pessoas). Da equipe regional, 6,5 mil profissionais estão no Brasil.
Com presença no país há mais de 15 anos, a Indra tinha 2,5 mil pessoas no Brasil até a aquisição da Politec, com atuação concentrada nos mercados de telecomunicações, energia e serviços financeiros. Depois do negócio, incorporou 4 mil funcionários e herdou contratos nos segmentos de governo e finanças. De acordo com Díaz, a receita ficou bastante equilibrada entre as várias áreas. Com a aquisição, a Indra também anunciou um aporte de R$ 100 milhões na operação brasileira.
Entre as oportunidades no país, o executivo destacou os investimentos em TI feitos pelo governo nas áreas de tributos e serviços eletrônicos para os cidadãos, além de projetos na área de transportes. Nesse segmento, a companhia mantém, há dois anos, uma joint venture com a brasileira Esteio, que já rendeu projetos na região Sul.
A Indra também pretende fazer parte de algum consórcio para participar da disputa pela construção do trem-bala no Brasil. Além disso, tem estreitado o relacionamento com as Forças Armadas para participar dos projetos de reaparelhamento do governo. A empresa foi a responsável, por exemplo, pela instalação do sistema de comunicação por satélite do porta-aviões São Paulo, da Marinha.
Desde a aquisição da Politec, a Indra adicionou a marca da companhia brasileira à sua, passando a ser chamada localmente de Indra Politec. Mas ao longo dos últimos meses - principalmente depois de fevereiro, quando acabou o plano de 120 dias de integração estabelecido por Díaz - a empresa vem paulatinamente retirando o nome da Politec de suas comunicações oficiais. Segundo Díaz, o plano é que essa mudança seja completa, e que o nome Politec seja abandonado. Mas não há um prazo determinado para que isso aconteça. "A marca Politec é muito forte. Não podemos deixá-la de uma hora para outra", disse.
Na avaliação do executivo, o Brasil será um importante combustível para o crescimento da Indra em um período de até quatro anos, com crescimento percentual de dois dígitos por ano. Com a expansão das atividades no país, o objetivo é ganhar porte suficiente para colocar a companhia entre as cinco maiores empresas de TI locais em dois ou três anos. Hoje, a Indra ocupa a oitava posição. "O Brasil é um país muito grande, é preciso ter um porte adequado. Agora, podemos aproveitar melhor as oportunidades", afirmou.
Uma das estratégias é a expansão na região Nordeste do país. O movimento tem dois objetivos: obter novos negócios e recrutar talentos. "É mais fácil achar talentos fora do Rio, de São Paulo e de Brasília", disse o executivo. A procura vai ocorrer principalmente a partir do centro instalado no parque tecnológico de Salvador, o Tecnocentro, que tem previsão de ser inaugurado em julho.

Fonte: VALOR ECONÔMICO/NOTIMP