Rio de Janeiro, 12 de junho de 1931. Os
Tenentes Casimiro Montenegro Filho (foto) e Nelson Freire Lavenère-Wanderley,
da Aviação Militar, decolam do Campo dos Afonsos para uma viagem
histórica. A bordo de um avião Curtiss “fledgling”, matrícula K-263,
levam a primeira mala postal do Correio Aéreo Militar (CAM) – duas
cartas precisam chegar a São Paulo. Era a concretização do sonho de um
grupo de pilotos, liderados pelo então Major Eduardo Gomes.
Para entender o que isso significou à
época, é necessário voltar no tempo para saber o que era voar nesse
período. Os pilotos não tinham os modernos equipamentos de navegação de
hoje, voavam com as referências do solo e enfrentavam as variações
meteorológicas, a falta de comunicação e as limitações de autonomia de
combustível, entre outros problemas. Também viajavam bem perto dos
obstáculos naturais contra os quais poderiam colidir.
O que era para durar pouco mais de três
horas, na verdade, terminou com mais de cinco horas de voo. Quando
chegaram a São Paulo, já com as luzes da cidade acesas, os pilotos da
primeira missão do Correio Aéreo não conseguiram localizar o Campo de
Marte. A saída foi improvisar o pouso no Jockey Club do bairro da Mooca.
Pularam os muros, tomaram um táxi até o centro da cidade e entregaram o
malote na estação central dos Correios.
A partir daí, o país nunca mais foi o
mesmo. As linhas para outras regiões do Brasil abriram o interior para a
aviação civil e militar – até então, as aeronaves voavam pelo litoral,
aumentando as distâncias, para escapar dos perigos que habitavam o
sertão, o cerrado e a floresta Amazônica brasileira.
As atividades do Correio Aéreo Francês e
de aviadores das Linhas Aéreas Latécoère, depois Aéropostale, foram a
inspiração para o Correio Aéreo Militar brasileiro. Aviadores como Jean
Mermoz, Henri Guillaumet e Antoine de Saint-Exupéry provaram que
atravessar o Mediterrâneo e o Atlântico em um serviço postal não era
impossível.
A ideia era criar diversas rotas com
destino a lugares isolados do Brasil. Os militares estavam convencidos
de que o avião de correspondência que chegava a determinada cidade
obrigava a respectiva prefeitura a fazer um campo de aviação. Logo,
outras localidades procurariam, por certo, fazer a mesma coisa a fim de
receber as mesmas vantagens. Assim, as cidades também se modernizariam
com a chegada do CAM.
Expansão - Em novembro de 1931, o
Correio Aéreo iniciou a rota Rio-Minas Gerais. No ano seguinte, mesmo
com a Revolução Constitucionalista, as linhas chegaram ao Mato Grosso e
Paraná. Dos anos mais tarde, o Nordeste, com voos para Fortaleza,
percorrendo e apoiando a população ribeirinha do São Francisco. Aviões
Waco deram novo impulso ao CAM.
A malha de rotas chegou ao Sul do país em
1934, colocando Porto Alegre e Santa Maria, no Rio Grande do Sul, na
lista de cidades atendidas pelo Correio Aéreo. No Mato Grosso, uma linha
especial interligou as guarnições do Exército. Ainda no mesmo ano, a
Marinha criou o Correio Aéreo Naval, atendendo o litoral sul do Brasil,
no trecho entre Rio de Janeiro e Rio Grande.
Para concluir o projeto de integração
nacional, em 1935, o Correio Aéreo Militar chegou, finalmente, à
Amazônia. No ano seguinte, os pilotos começaram a voar o primeiro
roteiro internacional, para Assunção, no Paraguai.
Em 1932, as linhas tinham 3.630
quilômetros de extensão. Os pilotos voaram nesse ano 127.100
quilômetros, transportaram 17 passageiros e 130 quilos de
correspondências. Sete anos depois, em 1939, o Correio Aéreo chegou 19,7
mil quilômetros de linhas, 1,8 milhão de quilômetros percorridos, 542
passageiros e 65 mil quilos de carga transportada.
União – Com a criação do
Ministério da Aeronáutica, em 20 de fevereiro de 1941, os serviços de
correio aéreo foram reunidos em um só, resultando no Correio Aéreo
Nacional (CAN). Ao final desse ano, com apenas uma década de existência,
o CAN operava 14 linhas e transportava mais de 70 toneladas de
correspondência para diversos pontos do país.
Graças à visão de futuro, o Diretor de
Rotas Aéreas da época, Brigadeiro Eduardo Gomes, o Correio Aéreo
adquiriu dinamismo necessário para superar as dificuldades geográficas,
econômicas e estruturais. Em 1943, a linha Tocantins, uma das mais
importantes da primeira década do CAN, foi ampliada até a Guiana
Francesa. Depois, surgiu a rota Rio-Bolívia.
Em 1944, com a aquisição de 82 aviões C-47 Douglas, a Força Aérea Brasileira expandiu ainda mais as linhas do CAN, chegando ao então território do Acre, Peru, Uruguai, Equador, Estados Unidos e Chile. Por muitos anos, a aeronave foi o principal instrumento de trabalho do Correio Aéreo.
Nos Anos 50, o CAN recebeu o importante
reforço dos aviões-anfíbios Catalina para as linhas da Amazônia. Os
aviões receberam a designação de C-10. Em 1971, o Ministério da Aeronáutica criou o Centro do Correio Aéreo Nacional (CECAN), para coordenar as atividades.
Fonte: Agencia Força Aérea
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