O governo do Equador anunciou nesta quinta-feira (16) que concedeu
asilo diplomático a Julian Assange, fundador do site de vazamentos WikiLeaks, mas o Reino Unido afirmou que o anúncio não muda a decisão de extraditá-lo para a Suécia.
O anúncio foi feito por Ricardo Patiño, chanceler equatoriano, que
argumentou que Assange corre riscos de segurança se for extraditado. "O
Equador decidiu garantir asilo político a Julian Assange, após o pedido
enviado ao presidente", disse Patiño em entrevista em Quito.
Assange, que está refugiado no prédio da embaixada equatoriana em Londres desde junho, disse que o anúncio foi "uma vitória importante".
O australiano de 41 anos
é fundador do WikiLeaks, organização responsável pela divulgação de
documentos, fotos e informações secretas de governos e empresas.
Ele é investigado pelos Estados Unidos por espionagem, após ter
divulgado no site despachos confidenciais do Departamento de Estado,
incluindo dados sobre as Guerras do Iraque e do Afeganistão.
O vazamento, ocorrido a partir de 2010 e repercutido pela imprensa de
vários países, deixou em situação incômoda o serviço diplomático
americano e de outros países.
Assange refugiou-se na Embaixada do Equador, em Londres, no dia 19 de junho.
Ele tenta evitar sua extradição à Suécia, onde é procurado pela Justiça
para ser ouvido sobre acusações de agressão sexual e estupro.
Ele teme que a Suécia possa entregá-lo aos Estados Unidos, onde responderia pela divulgação dos documentos oficiais.
"Caso aconteça uma extradição para os Estados Unidos, o senhor Assange
não terá um julgamento justo, poderá ser julgado por tribunais especiais
ou militares, e não é inverossímil que receba um tratamento cruel e
degradante, e que seja condenado à prisão perpétua ou à pena capital,
com o que não seriam respeitados seus direitos humanos", disse Patiño na
sede da chancelaria equatoriana.
O chanceler equatoriano destacou que, após quase dois meses de "diálogo
do nível mais elevado" com os governos de EUA, Reino Unido e Suécia,
seu país tem "sérios indícios" da possibilidade de "retaliações" contra
Assange, "que podem colocar em risco sua integridade, segurança e
inclusive sua vida".
Na argumentação, o Equador considera que, se Assange "for levado para a
prisão preventiva na Suécia, terá início uma série de eventos que
impediriam evitar uma extradição" para um terceiro país, como os EUA.
Reino Unido 'desapontado'
Pouco após o anúncio equatoriano, o Reino Unido se disse "desapontado" com a decisão e afirmou que pretende levar adiante a decisão de extraditar Assange.
Pouco após o anúncio equatoriano, o Reino Unido se disse "desapontado" com a decisão e afirmou que pretende levar adiante a decisão de extraditar Assange.
"Sob a legislação britânica, o senhor Assange exauriu todas as suas
opções de apelação e as autoridades britânicas têm a obrigação de
extraditá-lo para a Suécia. Nós devemos realizar esta obrigação",
acrescentou o porta-voz britânico.
O governo britânico falou que continua tentando uma "solução diplomática" para o caso, e o impasse prosseguia.
Saída difícil
Mesmo com o asilo já concedido, Assange tem poucas chances de deixar a embaixada do Equador em Londres sem ser preso.
Mesmo com o asilo já concedido, Assange tem poucas chances de deixar a embaixada do Equador em Londres sem ser preso.
Há especulações de que ele poderia ir a um aeroporto em carro
diplomático, ser "contrabandeado" em uma mala diplomática, ou mesmo ser
nomeado diplomata equatoriano para que consiga imunidade.
Mas advogados e diplomatas dizem que esses cenários são impraticáveis.
O presidente do Equador, Rafael Correa, diz ser inimigo da mídia
"corrupta" e do "imperialismo" dos Estados Unidos e faz parte do bloco
de esquerda dos líderes sul-americanos.
Patiño considerou a ameaça britânica de invadir a embaixada de "brutal"
e destacou que o único modo de Assange viajar ao Equador seria se a
Grã-Bretanha concedesse passe livre para ir a um aeroporto.
Mas, antes do discurso de Patiño, o governo britânico já havia
informado ao Equador que qualquer pedido de salvo-conduto para Assange
seria negado.
"Devemos ser totalmente claros que isso significa que, em caso de
receber um pedido de salvo-conduto para Assange, depois que tenha obtido
asilo, será negado", dizia nota entregue às autoridades equatorianas.
Confronto
Manifestantes pró-Assange e policiais britânicos entraram em confronto nesta quinta em frente ao prédio da Embaixada do Equador em Londres após o governo britânico ter dado a entender que pode entrar no prédio para prender o fundador do WikiLeaks.
Manifestantes pró-Assange e policiais britânicos entraram em confronto nesta quinta em frente ao prédio da Embaixada do Equador em Londres após o governo britânico ter dado a entender que pode entrar no prédio para prender o fundador do WikiLeaks.
Um jornalista da Reuters viu pelo menos três manifestantes sendo
levados pela polícia, enquanto os manifestantes cantavam slogans e
gritavam: "Vocês estão tentando começar uma guerra com o Equador".
Pelo menos 20 policiais estavam fora da embaixada, tentando controlar um grupo de cerca de 15 manifestantes.
Fonte: G1
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