https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBH51-vGRuvhcMOLJPgqjGmikK35jt8BZmGyUNFtlRW_EWNbghPP0Tu8M-g2U1I5mBIv7Xqhj0PioaNxVF8xR0pvBQmpoLMt_akNwz2gkw1ippAOQuWnV8doeZ-bt911nyo9xh5siwPAOc/s320/nato_afghanistan.gif
As guerras nem sempre são ganhas com batalhas decisivas; muitas vezes, elas são conflitos nos quais qualquer ação que quebre a vontade de lutar do adversário é mais um passo para a vitória.
No Afeganistão, o Taleban mira justamente a vontade da comunidade internacional e do governo de Hamid Karzai, infiltrando-se de maneira sistemática nas forças de segurança afegãs com a finalidade de miná-las internamente.
Os ataques perpetrados por soldados e policiais afegãos contra membros das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - seus parceiros na coalizão - não constituem incidentes isolados. Ao contrário, refletem uma estratégia taleban profundamente arraigada na história do país.
Desde o início do ano, ocorreram 31 ataques, que deixaram 40 mortos. O brigadeiro Günter Katz, um porta-voz da Otan, disse recentemente aos repórteres que esses episódios eram em grande parte fatos isolados causados em geral por problemas pessoais, stress e fadiga decorrentes da batalha.
Entretanto, se a tendência persistir, 2012 registrará o dobro de incidentes em relação a 2011, apesar da redução do número de tropas da coalizão no Afeganistão.
Somente no caso dos Estados Unidos, essas ameaças internas representam atualmente 33% de todas as baixas. Os soldados estão expostos a um risco cada vez maior de serem mortos pelos colegas afegãos que eles deveriam treinar e assessorar.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIzUTNLNJy0VN-Zu9ZSzI474Yv717TEs9An_dGcDTrRL1M52aOA_WVXTTnqglm0HC7URO9VORIzbEjURDy3D2mvDkBfq9MrG0VIjSXod417MXEZA441FpovdLSnZ1ed1g6aWZe1T1smo3s/s1600/U.S.-DoD-Map-NATO-Afghanistan-Occupation.jpgO aumento dos ataques representa uma mudança catastrófica neste conflito. Os insurgentes estão perdendo terreno no campo de batalha. As bombas colocadas nas margens das estradas e os ataques contra personalidades de destaque, embora sempre mortais, deixaram de produzir um efeito chocante como antigamente. Submetidos a uma pressão cada vez maior, grupos como o Taleban procuram maneiras mais baratas para atacar a coalizão e as forças de segurança afegãs. As ameaças internas permitem aos insurgentes preservar seu poderio de combate empurrando ao mesmo tempo as forças internacionais para a saída.
Esses ataques atuam como uma espécie de cunha que se insere entre os assessores estrangeiros e seus parceiros afegãos. A infiltração quebra a confiança. Os ataques são uma forma de luta desgastante para os assessores estrangeiros, ao mesmo tempo em que prejudicam a qualidade do treinamento.
As forças afegãs vão definhando na medida em que os comandantes não sabem em quem confiar entre suas fileiras. A população tem a impressão de que seu Exército é uma força debilitada. A guerra de vontades torna-se uma guerra pela sobrevivência.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgC_iI4snByTybk63WOVRbjXlIMiBoZ7wlRUIq_svxZhkIiw6IccHUK81Lyr0QnJSR8kEEDzwKKwJT9ILfDYE0qgNXhDH-yTb1U3yhb9C7HHWZrqDd_89TTd-5GbUvm4N2xsJnUjRFLHAM1/s1600/afghanistan.jpgO Taleban não precisa ganhar no campo de batalha. Precisa apenas que os países estrangeiros e os afegãos reduzam o seu apoio ao governo.
A introdução de uma cunha entre os parceiros e a destruição de sua confiança favorece a realização do seu objetivo. O inimigo está se adaptando a essa necessidade. Por outro lado, a infiltração e o subterfúgio são aspectos persistentes da forma de guerrear dos afegãos.
A história afegã está repleta de histórias de intrigas e subterfúgios nos quais o adversário é enfraquecido internamente e os grandes exércitos acabam minguando.
O assassinato de Nader Shah Afshar, o xá da Pérsia de 1688 a 1747, por membros do sua segurança interna levou seu assessor mais próximo, Ahmad Shah Durrani, a fugir com forças leais e ele e a reunir ao seu redor as tribos afegãs em Kandahar, onde constituíram o antecessor do moderno Estado afegão, o Império Durrani.
Durante a Primeira Guerra Anglo-Afegã (1839-1842), os britânicos ajudaram Shah Shuja a retomar o poder do seu irmão, Mohammed Shah. Na Batalha de Maiwand, na Segunda Guerra Anglo-Afegã (1878-1880), frequentemente mencionada na propaganda taleban, os britânicos sofreram graves deserções das tropas afegãs. 

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvfVUEfxIXLy-C89bTeX75Mlga0Bb4VXrsvqbRAUoVJtzRSJLsIzZQZI4_rfkbMtpmHgrDrddtvfGLbhY1BH8THRd21GGlmIeKv1Qg1I3LTX3BOLNaOduUjLUICbj8JjLMKo3Rz8vSuUWG/s1600/nato+trucks.jpgA mesma tendência é evidente na história militar contemporânea do Afeganistão. As deserções em massa de unidades do Exército afegão das forças soviéticas foram frequentes durante a jihad anticomunista.
Durante a guerra civil afegã, as facções mudavam continuamente de lado para ganhar vantagem.
O caudilho usbeque, Abdul Rashid Dostum, trocou de lado três vezes. Em 1996, Gulbuddin Hekmatiar deixou de combater a Aliança do Norte, liderada pelos tajiques, para unir-se às forças destes e combater o Taleban. Karzai fez com que vários líderes tribais aderissem ao Taleban quando tomou Kandahar com o apoio da coalizão, em 2001.
Nesse contexto histórico, será fácil perceber que os ataques contra as forças da Otan não podem ser considerados incidentes isolados, e urge reconhecer a gravidade da situação ou a estratégia taleban.
Os insurgentes estão minando as forças nacionais de segurança afegãs em suas próprias fileiras.
Um adversário com grande capacidade de adaptação visa deliberadamente a confiança conquistada a duras penas entre os parceiros afegãos e as forças da coalizão. Portanto, o primeiro passo para debelar essa doença é o diagnóstico do problema.

Por: Benjamin Jensen*, The New York Times - O Estado de S.Paulo / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
* É PROFESSOR ASSISTENTE DA SCHOOL OF INTERNATIONAL SERVICE DA AMERICAN UNIVERSITY, NA QUALIDADE DE OFICIAL GRADUADO DA GUARDA NACIONAL DE MARYLAND, SERVIU NO AFEGANISTÃO