A nova família de aeronaves da Embraer, o maior e mais bem defendido segredo estratégico da empresa, pode já estar voando - dentro de uma sala grande e escura na fábrica de São José dos Campos, onde engenheiros cobrem o rosto com grandes óculos com capacidade tridimensional, não gostam de dizer seus nomes e veem coisas que, a rigor, ainda não existem: o grupo de novos jatos, por exemplo.

O Centro de Realidade Virtual (CRV) é uma ferramenta moderna, sim, mas é também um recurso fundamental no processo de viabilização das ações ousadas da companhia. Em uso desde 2000, o CRV é empregado intensamente - com ele, a Embraer completou o desenvolvimento do modelo Emb-170 em apenas 38 meses. 

Antes disso, o ciclo da engenharia do birreator Emb-145 consumiu 60 meses utilizando procedimentos convencionais. Os resultados são bem consistentes. Até 30 de junho, a carteira de pedidos firmes a entregar batia em US$ 12,9 bilhões, considerada apenas a aviação comercial, uma frota de 200 unidades.
Competir é inovar. A Embraer credita à inovação o fator determinante no seu posicionamento competitivo. "Essas verdades ganham dimensões especiais na indústria aeronáutica, em que inovação e desenvolvimento tecnológico são as questões da sobrevivência, e não apenas de diferenciação competitiva", posição da companhia revelada em nota formal da diretoria.

A política de aplicação de novidades, definida pelo presidente, Frederico Curado, ocorre em quatro dimensões transversais à cadeia de valor: 1) inovações de produtos e serviços; 2) inovações dos processos; 3) inovação de marketing; e 4) inovações empresariais.

A mais recente ousadia do grupo está na área militar. Como reflexo do desenvolvimento do espetacular cargueiro e reabastecedor de combustível, o KC-390, a empresa criou uma coligada dedicada, a Embraer Defesa e Segurança (EDS), que nasceu rica, dona de uma fábrica em Gavião Peixoto, a 300 km de São Paulo, e da maior pista de decolagem e pouso da América Latina - 5 mil metros de asfalto cercados de monitores e sensores eletrônicos. É lá que é produzido o A-29 Super Tucano, um sucesso em sete países clientes por causa da inovação: o sistema digital embarcado equivale ao dos caças pesados supersônicos, mas o avião é um turboélice - e de custo reduzido. Uma hora de voo do Super Tucano, sai por R$ 1.500, quase seis vezes menos que a de um jato de combate. 

O A-29 é o único turboélice do mundo configurado para missão de contrainsurgência. Provado em combate em cenários do tipo da floresta colombiana, ele está disputando na pole position o grande prêmio da escolha, no Departamento de Defesa dos Estados Unidos, de uma série de 20 aeronaves de ataque leve para forças do Afeganistão. Esse contrato é avaliado em US$ 355 milhões. Tem mais: conta com boas possibilidades de servir na aviação americana. Nesse caso, o negócio chegará a US$ 1 bilhão.

O KC-390 é o único jato de sua classe oferecido no mercado mundial. Segundo o presidente da EDS, Luiz Aguiar, o segmento representa 700 cargueiros médios a serem encomendados até 2025 - um viés de US$ 50 bilhões. O KC-390 leva 20 toneladas de carga, tropa equipada e blindados. Cerca de 60 deles estão na carteira internacional de pedidos. O primeiro voo real está previsto para 2014. 

Fonte: Estadão