Sob nova administração desde maio, quando o presidente socialista
François Hollande assumiu o Palácio do Eliseu, a França quer recomeçar
os contatos na área de Defesa com o Brasil falando menos em negócios e
mais em "parcerias militares". A mudança na estratégia, que tira os
caças Rafale do foco das atenções, será visível neste fim de semana,
quando o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, chega ao Brasil
para uma visita oficial.
Le Drian desembarca em Brasília
domingo e fica até segunda-feira. Nesse meio tempo, cumpre duas agendas
oficiais: encontro com o ministro Celso Amorim e com industriais
franceses instalados no Brasil.
A mudança de discurso do
governo francês em relação à venda dos Rafale já é perceptível em
diferentes escalões e vale não só para o Brasil, mas também para os
Emirados Árabes Unidos, outro cliente em potencial.
Na
visão do ministro, a ênfase dada à venda de equipamentos durante a
gestão do ex-presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012) atrapalhou as
relações bilaterais e não resultou na venda dos 36 caças ao Brasil - um
contrato estimado em cerca de 4 bilhões.
A ideia agora é
separar os papéis. De um lado, o Ministério da Defesa da França vai
tentar estreitar os laços políticos, sem enfatizar os negócios. De
outro, as empresas envolvidas, como a Dassault, fabricante do avião,
terão de propor o melhor negócio possível. Há três semanas, a companhia
incluiu os radares RBE2 AESA na proposta da empresa, que disputa a
seleção F-X2, iniciada há 17 anos, mas ainda sem resposta. Para tanto, a
Dassault teve o aval da Direção Geral de Armamentos (DGA), órgão
subordinado ao Ministério da Defesa.
"Queremos centrar a nossa viagem na parceria estratégica entre os dois países", afirmou ao Estado
uma fonte envolvida nas discussões bilaterais. "Temos uma visão
diferente do governo anterior: queremos uma relação de Estado a Estado.
Não vamos ao Brasil vender material bélico, e sim aprofundar o diálogo
político. Depois os industriais farão o resto."
A opção
por uma abordagem menos comercial visa a reduzir o efeito negativo que o
assédio constante do governo Sarkozy teria provocado no Brasil e nos
Emirados Árabes. Em recente entrevista ao jornal Le Parisien, Le Drian
afirmou que não evocaria a venda de 60 caças em sua visita ao Golfo
Pérsico, realizada no final de outubro. "Um ministro da Defesa se dirige
a parceiros, e não a clientes. Ele não chega com um catálogo embaixo do
braço. Se a França não vendeu os Rafale, é porque confundiu os papéis."
Pelo menos no que se refere aos Emirados Árabes, o
ministro reconheceu que as relações bilaterais foram prejudicadas. "O
caso envenenou nossas relações nos últimos 18 meses", disse ele. "Os
Emirados Árabes efetuavam 70% de suas despesas militares na França, e
passaram a 10%."
Apesar do discurso mais político, a
expectativa de que o governo brasileiro possa anunciar nas próximas
semanas a aquisição de caças Rafale para a Força Aérea Brasileira (FAB)
começa mais uma vez a aumentar em solo francês. O motivo é a visita que a
presidente Dilma Rousseff fará a Paris em dezembro, quando se
encontrará pela primeira vez com Hollande.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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