Os ministros de Defesa da América concordaram nesta
quarta-feira em buscar a paz no Atlântico Sul, reconheceram a
importância para o hemisfério da disputa sobre as Malvinas e resolveram
criar um sistema que coordene a ajuda em caso de desastres naturais.
A décima conferência de ministros encerrou assim três dias de
intensos debates em que foram manifestadas distintas visões políticas do
continente e a reivindicação argentina sobre as ilhas Malvinas, sob
controle britânico desde 1833, voltou a dividir águas.
"Dentro do caráter pacífico das nações do continente americano, se
manifesta a vontade de promover a paz e a cooperação no Atlântico Sul",
informou a declaração final do encontro que aconteceu a portas fechadas,
com um forte esquema de segurança, a qual a imprensa só teve acesso à
cerimônia de abertura.
Os ministros reconheceram, além disso, a importância da última
declaração da Organização dos Estados Americanos (OEA), "onde se decide
continuar examinando 'a questão das Ilhas Malvinas' até sua solução
definitiva, destacando o fato de que este tema é de permanente interesse
hemisférico".
Apesar de a declaração ser aprovada por consenso, o artigo sobre as
Malvinas tem quatro ressalvas, em que países como Canadá e Estados
Unidos consideraram que o tema não corresponde a este fórum, enquanto a
maioria de latino-americanos seguiu explicitamente a histórica
reivindicação argentina.
A menção ao tema foi considerada um avanço pelo Uruguai, presidente
pró-tempore do fórum, depois de a cúpula presidencial das Américas não
chegar a uma declaração final em abril, justamente pela falta de
consenso sobre Malvinas.
A decisão é "de muita importância do ponto de vista político", disse
na coletiva de imprensa de encerramento o vice-ministro de Defesa
uruguaio, Jorge Menéndez.
No resultado mais concreto do encontro, após um intenso debate,
os ministros aprovaram, por maioria, implementar um mecanismo de
coordenação voluntário da ajuda a países afetados por desastres
naturais, anunciou o ministro chileno de Defesa, Andrés Allamand.
Trata-se da primeira vez na história deste fórum continental -
realizado desde 1995 - que se apela a uma votação diante da falta de
consenso. E a primeira vez que a conferência de ministros aprova uma
iniciativa concreta.
"Este é um avanço concreto desta conferência, e, sem dúvida, um
sucesso, embora tenham ocorrido algumas divergências", destacou
Allamand, que, segundo fontes do encontro, pressionou energicamente para
que uma resolução fosse adotada.
A iniciativa promovida pelo Chile e que contava com o apoio de
Estados Unidos e Canadá foi aprovada com a oposição de Argentina,
Brasil, Bolívia, Equador, Nicarágua, Suriname e Venezuela, enquanto
Guiana e Uruguai se abstiveram, informaram as fontes à AFP.
O batizado Sistema Cooperativo de Assistência Humanitária (Sicahum)
será um mecanismo voluntário, que respeitará a legislação de cada país e
no qual a coordenação e a direção da ajuda estarão a cargo das
autoridades civis, explicou Allamand.
O encarregado de implementá-lo será o Peru, que presidirá a próxima
conferência de ministros em 2014. Por sua vez, embora a discussão sobre a
vigência do sistema interamericano de defesa e suas instituições tenha
sido anunciada como "prioritária", os ministros se limitaram a pedir à
OEA "que trate de forma peremptória o tema", indicou o vice-ministro do
Uruguai, Jorge Menéndez.
Será, assim, uma declaração similar à da conferência anterior, na
Bolívia em 2010, que já havia chamado a revisar um sistema que vários
países consideram obsoleto. Com relação à questão das missões de país,
houve unanimidade, com um acordo para trabalhar em conjunto na
integração de civis, de gênero e educação.
Novos desafios
Para o ministro anfitrião, Fernández Huidobro, o resultado é
positivo.
"Pode haver acordo sobre algumas coisas, sobre outras é preciso
continuar discutindo e sobre outras pode ser que não haja acordo nunca",
disse à AFP. "Mas é preciso fazer essas reuniões".
Paz Tibilett, presidente da Rede de Segurança e Defesa da América
Latina (Resdal), observou que a conferência "foi dura porque, pela
primeira vez, se chegou a uma votação, isso implica um desafio para o
próximo país sede". De toda forma, considerou que o debate "sempre é um
avanço".
"Por mais que os órgãos sub-regionais tenham se fortalecido, como
Unasul ou Celac, sempre é bom encontrar coisas em comum em que se pode
avançar", disse à AFP. "E com os grandes do norte sempre convém falar".
O Peru, que presidirá a próxima conferência de ministros de Defesa
das Américas em 2014, buscará que se analise o tema da luta contra o
terrorismo, disse o ministro de Defesa desse país, Pedro Cateriano, em
coletiva de imprensa no encerramento do evento.
Fonte: Terra
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