O Exército e o governo da Suíça querem comprar um novo avião de combate: o caça sueco Saab Gripen. Porém a compra pode não ocorrer, já que as opiniões divergem sobre a natureza das missões aéreas e o tipo e número de aeronaves necessárias.

A missão das forças aéreas helvéticas é proteger o espaço aéreo nacional. Ao se tratar de uma defesa contra ataques terroristas, os diferentes interlocutores contatados por swissinfo.ch acreditam que esse tipo de missão é necessária.

Polícia aérea

Mesmo o Grupo por uma Suíça sem Exército, que milita contra a compra de novos aviões, não é totalmente hostil à ideia. "O GSsA (a sigla em francês) pode admitir uma forma de polícia aérea dentro da polícia", declara Christophe Barbey, um dos secretários da organização.

Ora, o avião de caça ainda é a melhor maneira de efetuar esse tipo de missão. Um sistema de defesa superfície-ar garantiria certamente a defesa do país, mas para Peter Felstead, especialista de questões aéreas da Jane's Defense Weekly, revista inglesa sobre tudo que diz respeito a questões militares, ele não é o ideal.

"Os mísseis superfície-ar são um meio eficaz de defender o espaço aéreo, especialmente de áreas específicas. Porém você não pode dar um tiro. Por outro lado é possível fazê-lo com canhões de um avião", explica.

Pode-se imaginar que a colaboração entre a Suíça e outros países em missões de policiamento aéreo. Mas também nesse caso, além do problema de soberania, a solução apresentaria inconvenientes técnicos.

"Imagine um sequestro aéreo como o de 11 de setembro de 2001. Uma ordem de atirar deve ser dada para abater uma aeronave que representa uma ameaça. As autoridades dos países envolvidos dão a ordem. Ela transita depois no estado-maior de outro país. Isso seria muito delicado e penso que seria tarde demais até que a ordem chegue ao piloto", declarou o deputado Ivan Perrin (Partido do Povo Suíço/UDC), membro da Comissão da política de segurança (CPS) no Conselho Nacional (a Câmara dos Deputados na Suíça).

Contra armas nas fronteiras

As forças aéreas também são destinadas a realizar o combate aéreo e a destruição de objetivos no solo. Mas se as missões policiais não são contestadas, existe uma controvérsia em relação às missões puramente militares.

Nesse contexto, é possível constatar uma divisão entre os partidos de esquerda e direita. Entre os políticos de esquerda há mais a tendência de pensar que uma renovação das forças aéreas não se justificaria em razão da ausência de ameaça contra a Suíça.

"Há muito pouco risco que um avião militar estrangeiro ameace a Suíça", declara Géraldine Savary, membro da CPS no Conselho dos Estados (Senado). "A ameaça que nos preocupa hoje em dia é o terrorismo e nunca ouvi falar que os terroristas disporiam de jatos de combate."

"Se considerarmos que o Exército suíço irá abordar sua transformação e ir em direção a um exército mais moderno, com menos soldados, os investimentos que devemos consentir com esse fim são hipotéticos para essa compra de aviões", continua. "É um grande problema."

À direita, as reflexões são diferentes. "Sim, não temos exército estrangeiro acampado frente às nossas fronteiras", reconhece Ivan Perrin. "Mas a compra hoje é um investimento para os próximos trinta anos. Ora, quem pode dizer como será a Europa em quinze anos. Lá há uma aposta que é arriscada de se fazer sem aviação."

Recursos suficientes

Para os que acreditam que as forças aéreas helvéticas devem, antes de tudo, executar uma missão de polícia aérea, os recursos atualmente disponíveis - especialmente uma frota de 33 aviões do tipo F/A-18 – são suficientes e adaptados.

"O Partido Socialista julga que a vigilância aérea é suficiente", declara Géraldine Savary. "De uma parte, pois já temos material à disposição e, do outro, pois a Suíça possui também veículos aéreos não tripulados, que permitem também uma certa vigilância."

"Temos muita coisa para observar no céu", acredita do seu lado Christophe Barbey. O GSsA pensa, afinal, que a Suíça não tem necessidade de novos aviões para se defender. Ao comprar novos, ela ainda estará excessivamente armada. Isso significa dinheiro desperdiçado em serviço de uma lógica de guerra."

Essa opinião é compartilhada por Géraldine Savary. "Será que aviões são verdadeiramente indispensáveis, enquanto é necessário investir na saúde, nos transportes, na educação e outros?", questiona.

Barato que fica caro

Nas duas câmaras do Parlamento helvético, a maioria de direita da CPS defende a renovação da frota aérea. "Os aviões Tiger devem ser substituídos e os F/A-18 já estão muito velhos. É preciso ter consciência de que eles não vão durar mais décadas", argumenta Ivan Perrin.

Resta saber como substituí-los. No final de um processo de seleção, o governo e o Exército pronunciaram-se em favor do avião sueco Saab Gripen, em detrimento do francês Rafale e do europeu Eurofighter.

O Saab Gripen tem a vantagem de ser mais barato do que seus concorrentes. "Os aviões de combate são efetivamente muito caros, razão pela qual se espera que a Suíça decida-se pelo Saab Gripen. Como outros países europeus o utilizam (Suécia, República Tcheca e Hungria), os custos de assistência e manutenção podem ser reduzidos através de uma cooperação internacional", declara o especialista britânico Peter Felstead.

O problema premente é que alguns relatórios consideram o desempenho do Saab Gripen abaixo dos seus concorrentes. Assim, mesmo entre os partidários da compra de um novo avião de combate, muitos não escondem ceticismo em relação à aeronave sueca. "Segundo o ditado, o barato acaba ficando caro", lembra Ivan Perrin. "Li os relatórios e imaginar que iremos comprar hoje, e para os próximos trinta anos, um avião que já está fortemente obsoleto, é um problema..."

Disputas

A compra do novo avião será discutida no Parlamento e a decisão final deve ser dada aos eleitores. Mas o tema é polêmico.

No Parlamento, é necessário contar com a recusa da esquerda, que considera um novo avião dispensável. Mas a oposição poderá também vir da direita. "À direita há disputas reais em relação ao tipo do avião. Sinto uma falta de entusiasmo, ou mesmo uma verdadeira resistência à compra do Saab Gripen", comenta Géraldine Savary.

Quanto ao eventual voto popular, ele poderá igualmente conduzir à derrocada da compra do avião sueco. "A população não vê em geral necessidade de comprar um novo avião", conclui Ivan Perrin. "Ainda mais quando lhes explicarmos que escolhemos um aparelho que não cumpre os critérios...”.

Por: Olivier Pauchard, swissinfo.ch - Adaptação: Alexander Thoele

Leia, também: