Os Estados Unidos gastaram quase US$ 600 bilhões nos últimos dez anos
para instalar suas forças de combate no Afeganistão. Agora terá de
gastar mais US$ 5,7 bilhões nos próximos um ou dois anos para transferir
ou trazer de volta a maior parte dos soldados e equipamentos enviados
para aquele país, segundo o Escritório de Contabilidade do Governo (GAO
na sigla em inglês).
O porte da retirada é alucinante. Mas com o "abismo fiscal" se
aproximando rapidamente, vale a pena entender que a dispendiosa operação
afegã vai para um cartão de crédito, juntamente com US$ l trilhão ou
mais gasto no Afeganistão.
Iraque e Afeganistão são as primeiras guerras travadas pelos Estados
Unidos em que a sociedade americana não pagou nenhum centavo em impostos
adicionais.
O que estávamos pensando? À medida que apresento a lista das novas
despesas, considere quem vai pagar por tudo isso e quando. O Congresso e
o presidente Barack Obama estão negociando um aumento de receita e um
corte de gastos, mas os bilhões que serão usados na retirada do
Afeganistão não podem ser reduzidos e precisam ser pagos. O pagamento
será analisado no próximo mês, quando o Congresso debaterá um aumento no
limite da dívida.
Por outro lado, o Departamento da Defesa estima que o Exército possui
mais de 750 mil itens importantes, o equivalente a mais de US$ 36
bilhões, no Afeganistão, incluindo 50 mil veículos e mais de 90 mil
contêineres para transporte de material, segundo relatório do GAO.
No ano fiscal de 2011, o Comando de Transporte dos Estados Unidos
transportou 268 mil toneladas de suprimentos - mais de 42 mil
contêineres - para o Afeganistão, através de rotas ao norte, envolvendo
vias férreas e para caminhões passando por países europeus e da Ásia
Central. Essas rotas de abastecimento foram criadas depois que os
comboios de caminhões que passavam pelo Paquistão foram interrompidos em
2011 em resposta ao ataque americano que matou Osama bin Laden.
O Departamento de Defesa tem três maneiras para se desfazer do
material no Afeganistão: transferir o equipamento para outra agência
estadual ou federal ou para um governo estrangeiro, destruir o material
no Afeganistão ou retorná-lo para outro local do Pentágono. Os Estados
Unidos possuem três sítios no Afeganistão e pretende criar um quarto
onde o material será destruído, e dez áreas de armazenamento onde o
equipamento será inspecionado e preparado para ser transportado para os
Estados Unidos.
A retirada do Iraque mostrou a importância de um planejamento
antecipado. Os planos de saída começaram em 2008, três anos antes da
partida final das tropas de combate, em dezembro de 2011. No
Afeganistão, os Fuzileiros Navais e a Marinha iniciaram seus
preparativos em 2009 e o Exército, em 2010.
Os Fuzileiros Navais estabeleceram uma "estratégia de realocação de
equipamentos", tendo criado um "manual" contendo o que o GAO descreve
como "uma recontagem detalhada e simples de cada um dos 78.168 itens
importantes no Afeganistão, juntamente com "instruções para sua
disposição previstas inicialmente (retorno, transferência ou destruição)
de cada item".
Por exemplo, o manual de julho de 2012 mostrou que os marines tinham
tinha 33 vans "blackscatter" no Afeganistão, veículos com capacidade de
raio X que são usados em postos de fronteira e postos de controle de
entrada para identificação de armas ocultas, contrabando e explosivos.
Custam de US$ 700 mil a US$ 800 mil cada uma quando novas.
O plano é retornar todas as 33 vans para os Estados Unidos usando
transporte aéreo e marítimo, a um custo que pode chegar a mais de US$
150 mil por van, segundo o GAO. Contudo, o manual dos marines indica que
apenas 28 são necessárias para atender às necessidades nos Estados
Unidos. O GAO sugere que as cinco restantes, consideradas
desnecessárias, em termos de custo-benefício, deveriam ser deixadas no
Afeganistão.
Um problema no Iraque foi fazer a contabilidade dos equipamentos de
propriedade do governo fornecidos ao pessoal terceirizado. De acordo com
relatório do GAO, de setembro de 2011, "houve ocasiões em que os
terceirizados deixaram os campos e instalações no Iraque sem um
encerramento adequado, deixando equipamentos abandonados, pessoal não
repatriado (especialmente cidadãos de outros países), sem obter os
vistos de saída apropriados e não devolveram para o governo o
equipamento fornecido".
A relação dos equipamentos no Afeganistão não incluiu o equipamento
do governo usado pelos terceirizados, mas o comando afegão informou ao
GAO que está criando uma unidade para resolver o problema.
Uma outra questão exclusiva do Afeganistão refere-se às rotas de
saída de material, por causa do "ambiente geopolítico complexo na
região, segundo o GAO.
Sair do Afeganistão é muito mais difícil e mais dispendioso do que
deixar o Iraque. No Iraque os Estados Unidos tinham acesso por rodovias
ao Porto de Umm Qasr e uma grande base logística no Kuwait, na
fronteira. A partir dali era fácil despachar o material por mar usando
portos jordanianos e do Kuwait.
As antes grandes rotas de transporte de equipamentos através do
Paquistão que foram reabertas em julho estão em fase de testes para o
material que sairá do Afeganistão. Por outro lado, o Departamento de
Defesa "enfrenta problemas para converter as rotas ao norte em apoio
para a retirada por causa de questões ligadas a autorizações
alfandegárias e diplomáticas".
No Afeganistão, país sem saída para o mar, há também equipamentos
prioritários, incluindo munições, transportados por mar e depois pelo
ar. Seu retorno pode chegar a até US$ 75 mil cada veículo, se
transportados por mar ou aéreo, e até US$ 153 mil usando empresas aéreas
comerciais, segundo o GAO. Enviar um veículo utilizando estradas poderá
chegar a US$ 43 mil.
Com base em planos anteriores o Comando de Transporte projetou que
"14,2% de todo equipamento de retorno aos Estados Unidos será
transportado por meio de estradas ao norte, 19,9% por estradas
paquistanesas e 65,8% usando transporte aéreo e marítimo".
No planejamento anterior, a agência de Logística de Defesa e as
forças americanas no Afeganistão estabeleceram metas para os veículos e
contêineres. A meta mensal era de 1.200 veículos e mil contêineres.
Tudo isso é complicado? Sim. Vale a pena prestar atenção nos custos
monetários e humanos de entrar e sair de aventuras militares para que o
país esteja mais bem preparado da próxima vez. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA
MARTINO - Via Estadão
0 Comentários