Tucanos não são famosos por sua aerodinâmica, mas os aviões não foram batizados em homenagem ao estilo de voo da ave.
Foi para atender a exigências estrategicamente impostas pelo então
presidente da Embraer, Ozires Silva, 82, que o nome venceu um concurso
entre cadetes da Aeronáutica, no final dos anos 1970.
"Como pretendíamos vender no mundo inteiro, tinha de ser um nome que
estrangeiros pudessem falar direito, trissilábico, sem ão", diz Ozires,
que presidiu a empresa de 1970 a 1986.
Na quarta-feira, o Super Tucano conquistou o mundo, ao assegurar um
contrato com a maior força aérea do planeta -o primeiro da história da
Embraer firmado com os Estados Unidos.
"É exemplar. A Força Aérea dos EUA praticamente não tem nenhum avião
desenvolvido fora do país. Isso vai abrir os olhos de muitas outras
nações sobre o avião e sua aplicabilidade", diz Ozires, lembrando-se dos
obstáculos iniciais do projeto.
"Tive grande dificuldade com o Tucano, pois a Aeronáutica não acreditava
que a gente pudesse ser capaz de fazer um avião militar de pequeno
porte. É um momento histórico. Um gol de placa."
Para atender a exigências do comprador, os 20 aviões do contrato de US$
427 milhões com a Força Aérea dos EUA serão montados na fábrica da
Embraer na Flórida.
No mundo, a versão moderna do avião turboélice, de apoio a missões
militares leves, tem 172 unidades entregues, em operação em nove países:
entre eles, Colômbia, Indonésia e Burkina Faso.
O voo do Super Tucano rumo ao hemisfério norte é o ponto mais alto até
agora de uma estratégia adotada pela Embraer a partir de 2008 e que, de
certa forma, resgata as origens da companhia.
A Embraer nasceu durante o governo militar de Costa e Silva, para
atender inicialmente as necessidades da FAB, que, diz Ozires,
"felizmente eram maciças".
Produzir aviões de excelência que pudessem ser exportados foi o foco
desde o início. "As necessidades da FAB permitiram o salto para o
futuro", diz Ozires.
As primeiras vendas comerciais vieram em 1979, nove anos depois da fundação da companhia.
A partir da privatização, em 1994, a Embraer se concentrou no
desenvolvimento de jatos civis para a aviação regional. Hoje já são
quase mil aeronaves em operação em 61 companhias aéreas.
A partir dos anos 2000, a empresa entrou no segmento de aviação
executiva, com os Legacy, Lineage e Phenom. Dez anos depois, a aviação
executiva já representava mais de 20% das receitas.
TURBULÊNCIA
A crise financeira internacional, no final de 2008, precipitou uma queda
brutal na venda de aviões comerciais e executivos. O financiamento
secou e as vendas despencaram. Mas, enquanto diversos concorrentes
-sobretudo nos EUA- foram à bancarrota e demitiram milhares de pessoas, a
Embraer conseguiu atravessar a turbulência (não sem arranhões)
garantindo contratos na área militar.
Em 2009, o faturamento encolheu em quase US$ 1 bilhão e a empresa
demitiu 20% da força de trabalho. Mas um contrato com a FAB para o
desenvolvimento do avião cargueiro KC-390 permitiu à produção seguir em
frente.
Naquele ano, Defesa representava 9% das receitas. Trinta e seis meses
depois a divisão dobrou de tamanho e disputa o segundo lugar com a
aviação executiva.
O faturamento em 2012 (ainda não divulgado) deve chegar a US$ 1 bi.
"A diversificação é natural na indústria aeronáutica", diz Luiz Carlos
Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança. Em um mercado em que
relações entre governos são decisivas para os negócios, a EDS encontrou
um nicho nas demandas militares de países emergentes. "São semelhantes a
nós e nos veem de forma amistosa."
Fonte: FSP
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