Pela primeira vez desde 2009 talvez existam sinais de mudança no
impasse envolvendo o programa nuclear iraniano. O Irã entrou nas últimas
conversas com uma posição levemente mais suave. É uma boa notícia, mas
os Estados Unidos terão de mudar a estratégia de negociação para tirar
proveito disso.
As sanções econômicas estão doendo no Irã. Enquanto isso, sua posição
estratégica desmorona por causa do tumulto na aliada Síria e do
crescimento do islamismo sunita militante por todo o Oriente Médio
árabe. Juntas, essas forças parecem terem levado o Irã a reconsiderar
sua posição nas negociações.
Então, em vez de aumentar ainda mais as sanções, os EUA deveriam
retribuir na mesma moeda: dar início às negociações diretamente e
colocar na mesa a perspectiva de fim das sanções, uma a uma, como moeda
de troca.
Os EUA deveriam deixar de tentar intimidar ainda mais o Irã e buscar o
fechamento de um acordo. As sanções deram margem de manobra para os EUA,
e nós deveríamos usá-la para buscar um trato que finalmente
restringiria a capacidade do Irã de fabricar combustível para bomba, em
vez de ampliar a pressão na esperança de obter um acordo mais amplo
agora ou a rendição total mais tarde.
O problema de não suavizar a posição é a probabilidade de o tiro sair
pela culatra. O Irã está compreensivelmente nervoso e caso considere os
EUA intransigentes, pode duplicar o programa nuclear, acelerando-o até
não existir mais a possibilidade de retorno.
Sinais do progresso foram vistos na rodada de conversações no
Cazaquistão mês passado. Os EUA, negociando em conjunto com Rússia,
China, Grã-Bretanha, França e Alemanha, propuseram apenas pequenos
passos que aliviariam suavemente as restrições impostas pelos
norte-americanos (permitindo ao Irã voltar a negociar em ouro e prata, e
obter peças sobressalentes para a aviação civil), enquanto insistiam em
exigências rigorosas para o Irã abrir mão da capacidade de enriquecer
urânio e utilizá-lo na construção de armamentos nucleares. Causando
certa surpresa, o Irã respondeu que a proposta era bem-vinda, mas
insuficiente – e que daria uma resposta dentro de algumas semanas. A
nova posição contrastava com o padrão anterior de rejeitar
categoricamente as propostas do outro lado.
Em 2009 e 2010, o Irã deu outro sinal, na forma de uma proposta
negociada com o Brasil e a Turquia, pela qual aceitaria exportar boa
parte do urânio altamente enriquecido em troca de ter permissão para
enriquecê-lo até um nível adequado para a energia nuclear e usos
médicos. Porém, os EUA e seus parceiros rejeitaram a oferta como mera
propaganda, em grande medida porque o Irã não a fez diretamente e porque
o país ainda teria combustível para começar a fabricar bombas
posteriormente.
As novas pressões sobre Teerã, seu tom brando nas conversações e os
sinais passados de que o país pode considerar restringir níveis de
enriquecimento sugerem que o Irã talvez esteja pronto para uma barganha
produtiva. Assim, os EUA deveriam estar abertos a essa possibilidade
quando as conversas forem retomadas nos próximos dias, fazendo novas
propostas para determinar o grau de seriedade dos iranianos.
Desde 2003, Washington tem se valido de sanções para levar o Irã à mesa
de negociação internacional. Porém, os governos Bush e Obama impuseram
mais sanções do que negociaram – em parte porque pressionar o Irã é
popular nos Estados Unidos; já fechar acordos com ele, não. Em vez de
forçar uma solução negociada da crise, Washington deu a entender que
esperava a simples capitulação do Irã.
Contudo, isso abala o propósito original das sanções – resolver a crise
sem guerra – pois as sanções podem ser uma faca de dois gumes. Quanto
mais pressão é exercida, maior a suspeita entre os líderes iranianos
quanto às verdadeiras intenções norte-americanas. Quanto maior a
suspeita, maior seu desejo por um programa nuclear. E quanto mais perto
ficarem das metas nucleares, mais se sentirão capazes de resistir à nova
pressão.
Os líderes do Irã já suspeitam que o verdadeiro objetivo dos EUA seja
derrubar sua república islâmica; ao mesmo tempo, seus cidadãos se
ressentem amargamente das sanções e, em geral, apoiam a ideia de um
programa nuclear iraniano. Os líderes se lembram da guerra entre Irã e
Iraque na década de 1980, quando Saddam Hussein violou as leis
internacionais e empregou armas químicas sem nunca ser punido por isso.
Os líderes iranianos concluíram ser vulneráveis à agressão dos vizinhos
árabes melhor armados e que acordos internacionais não ofereciam
proteção.
Trocando em miúdos, a insegurança impele a ambição nuclear iraniana,
deixando o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, convencido de
que se abrir mão do programa nuclear do país como um todo, como a Líbia
fez na década passada, ele somente faria um convite ao destino de Muamar
Kadafi. Essa lógica – se o Irã for terminar enfrentando sanções, é
melhor encará-las com a bomba do que sem ela – produziu um ditado em
Teerã atualmente: "É melhor ser a Coreia do Norte do que o Iraque".
Mesmo assim, os líderes e cidadãos iranianos claramente desejam o fim
das sanções e, agora, talvez estejam apontando uma saída para o impasse.
Esta na hora de os Estados Unidos testarem as reais intenções dos
líderes e lhes oferecer um caminho de volta ao seio da comunidade
internacional.
O comitê de seis nações envolvido nas conversas com o Irã atingiu o
objetivo original: confrontar o Irã com uma frente unida. Assim, os
outros cinco, cujos programas diferentes inevitavelmente complicam a
negociação, deveriam se afastar e deixar os EUA encarregados das
conversas individuais com o Irã.
E em vez de oferecer a promessa vaga de que concessões sérias podem um
dia ser recompensadas pelo fim de todas as sanções de uma só vez,
Washington deveria ofertar o cancelamento de sanções específicas, passo a
passo, em troca de concessões específicas do Irã. Dessa forma, ambos os
lados podem começar a desarticular os aspectos mais perigosos do
programa nuclear iraniano de um modo incremental e verificável.
Logicamente, o Irã pode perder o entusiasmo pelas negociações quando as
sanções desaparecerem, mas, então, se as primeiras concessões tiverem
sido substanciais, ele teria aberto mão de pontos cruciais do programa
nuclear, tornando o mundo um lugar mais seguro.
(Vali Nasr, reitor da Escola de Estudos Internacionais Avançados da
Universidade Johns Hopkins é o autor do livro "The Dispensable Nation:
American Foreign Policy in Retreat" – "A nação dispensável: o recuo da
política externa norte-americana, em tradução livre", no prelo.)
Fonte: R7
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