Peritos militares norte-americanos dizem ter dúvidas quanto à eficácia estratégica dos grupos de porta-aviões. Todavia, segundo analistas russos, não existe hoje um meio convencional mais eficiente de demonstração da força militar.
A doutrina militar dos EUA se
baseia no eventual uso de grupos de porta-aviões, desempenhando estes
navios um papel-chave. A Marinha dos EUA, considerada a mais potente no
mundo, integra onze porta-aviões superpesados, dos quais o conhecido
"veterano" Enterprise já passou
à reserva. Em vez desse vaso de guerra, nos estaleiros navais do Estado
Virgínia prosseguem os trabalhos de construção de três porta-aviões
modernos Gerald Ford.
Os
EUA se aproveitaram da larga experiência do Japão, que tinha utilizado
esse tipo de navios na Esquadra Imperial durante a Segunda Guerra
Mundial. No entanto, em 2010, alguns analistas militares puseram em
causa a necessidade de manter um elevado número de porta-aviões
disponíveis. "Os meios gastos com a sua construção foram, de fato,
esbanjados", lamentava o antigo chefe do Pentágono, Robert Gates, se
referindo à eficiência dos submarinos russos 670,
batizados de "assassinos de porta-aviões". Para além do perigo
procedente dos submersíveis, os porta-aviões dos EUA correm o risco de
ser atingidos por mísseis russos anti-navio Oniks e pelos Dong Fengchineses.
O Centro de Pesquisas New American Security
divulgou recentemente um relatório do perito Henry Hendrix que lança
críticas à atual linha estratégica baseada no emprego generalizado de
porta-aviões. A sua visão tem sido partilhada por alguns altos
dignitários do Pentágono e dos círculos próximos do Ministério da Defesa
norte-americano.
Vale realçar que os analistas
russos têm defendido uma opinião contrária. O perito militar e
vice-redator-chefe do portal digital Ezhednevny Zhurnal,Alexander
Golts, disse, em entrevista à emissora Voz da Rússia, ter sérias
dúvidas quanto à justeza da tese sobre a presumível "precariedade" dos
porta-aviões.
"O porta-aviões é um engenho capaz de provocar power projection,
ou seja, a projeção ou o avanço da força. Os porta-aviões desempenharam
um papel relevante nas operações levadas a cabo no Afeganistão e no
Iraque. Durante a operação no Afeganistão, os americanos não tinham a
possibilidade de recorrer ao uso de bases militares terrestres, tendo
cabido à aviação um papel de protagonista na componente operacional
aérea. O mesmo aconteceu em outros conflitos: no Iraque e na Iugoslávia.
Por isso, não posso imaginar a atual estratégia militar dos EUA sem o
emprego de porta-aviões em face da sua situação geográfica e do papel
desse país na arena mundial."
Ao mesmo tempo, a
polêmica sobre eventuais alterações da doutrina militar dos EUA não
carece de fundamentos. Aí, o excesso do seu número atual (11 unidades),
pode realmente ter importância, prossegue Alexander Golts. Mas se deve
entender tratar-se de grupos de navios que abrangem também submarinos e
embarcações de escolta. Não se exclui que, perante o eventual corte do
orçamento militar em 1 % do PIB, o novo ministro da Defesa, Chuck Hagel,
concorde em suprimir um grupo de navios desse gênero.
No
entanto, é pouco provável que os EUA se atrevam a fazer reduções mais
sensíveis. Caso contrário, como é que irão reforçar o seu contingente
militar na península da Coreia? O porta-aviões é uma espécie de
"pronto-socorro" da política externa dos EUA, resume o nosso
interlocutor.
"Os porta-aviões desempenham um dos
papéis-chave na estrutura das Forças Armadas dos EUA, por constituírem
uma arma de ataque universal, constata Andrei Frolov, redador-chefe da
revista Export Vooruzheny(
Exportação de Armamentos). Além disso, os grupos de porta-aviões
permitem aos EUA reagir, de forma flexível, a quaisquer ameaças em cinco
oceanos do planeta."
No que respeita às dúvidas
relacionadas ao seu valor estratégico, aí se deve considerar uma série
de fatores. O primeiro se deve ao fato de os porta-aviões, tanto mais os
modernos, serem um meio técnico dispendioso. No Pentágono pode
acontecer uma concorrência entre diversos ramos militares pelas verbas
orçamentais necessárias face aos cortes gerais progressivos do orçamento
de Estado. Por outro lado, à medida que os armamentos dos potenciais
adversários evoluem, os porta-aviões norte-americanos se tornam
aparentemente mais vulneráveis. Por fim, considera Andrei Frolov, muitas
missões a cargo dos porta-aviões, podem ser cumpridas com meios mais
baratos:
"Por exemplo, empregando mísseis de cruzeiro ou drones.
Nesse caso, não é necessário fazer a manutenção técnica, sendo ainda
desnecessários navios de escolta com suas numerosas tripulações. Creio
que a Marinha dos EUA continuará a ter 11 porta-aviões, podendo suceder
uma redução ligeira. Porque, caso contrário, os EUA terão de reconhecer
que não podem manter um número necessário de unidades em zonas que se
presumem críticas."
Nos EUA foi debatido o programa Global Strike,
prevendo a realização de ataques a quaisquer instalações do adversário
com ajuda de meios estratégicos não nucleares, ressalta Alexander Golts.
Têm-se em vista os mísseis Trident,
os mísseis de cruzeiro e outros meios sem cargas nucleares. Mas não se
sabe nada sobre o destino desse programa após os cortes orçamentais.
Um
outro benefício dos porta-aviões tem a ver com o fato de a Rússia e a
China estarem elaborarando seus próprios projetos nessa área. O
Comandante-Chefe da Marinha russa, almirante Viktor Chirkov, traçou as
perspetivas de modernização das Forças Navais da Rússia. O seu núcleo
será constituído por porta-aviões de nova geração. Na ótica de peritos,
os porta-aviões serão indispensáveis para garantir a proteção contra
submarinos atômicos quando estes forem colocados em estado operacional.
Contas
feitas, cada potência marítima tem sua visão do papel de porta-aviões
na estrutura das Forças Armadas. Por isso, não faz sentido equiparar
conceitos estratégicos e táticos diferentes.
Fonte: A Voz da Russia
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