Pela primeira vez, Pentágono acusa diretamente Pequim por ataques
informáticos. Chineses rebatem com críticas. Problema é tema sensível
para relação bilateral e, segundo Casa Branca, já preocupa mais que
terrorismo.
A China desqualificou nesta terça-feira (07/05) o que os Estados Unidos,
pela primeira vez na História, sugeriram ser um ato deliberado de
guerra cibernética – num novo capítulo do que vem se consolidando como
um dos temas mais sensíveis das relações bilaterais. Para Pequim, as
acusações americanas foram "infundadas, irresponsáveis e prejudicais"
para a cooperação entre os dois países.
Relatórios anteriores já estimavam que pelo menos 90% da ciberespionagem
nos EUA tinham a China como origem. Mas os dados do Pentágono,
apresentados em seu relatório anual ao Congresso na segunda-feira, foram
os primeiros a também apontar diretamente o governo e as Forças Armadas
chinesas como responsáveis. "O governo chinês e as Forças Armadas
jamais realizaram atividades de espionagem cibernética", disse nesta
terça-feira o coronel Wang Xinjun, do Exército de Libertação Popular da
China.
Segredos militares e industriais
O relatório de mais de 80 páginas aponta como principal objetivo da
espionagem o roubo de segredos e tecnologia industrial, mas ressalta que
também houve uma série de invasões com objetivos políticos. A
informação coletada, afirma o texto, poderia facilmente ser usada para
construir um mapa dos sistemas de defesa, logística e outras atividades
militares, passível de ser explorado pelos chineses contra os EUA, numa
eventual crise.
"Em 2012, vários sistemas informáticos de todo o mundo, incluindo os
do governo americano, foram alvo de contínuas invasões, algumas das
quais parecem ser diretamente originadas do governo e das Forças Armadas
da China", diz o texto.
Ainda não está claro por que o governo americano escolheu o relatório
anual do Pentágono para fazer as acusações pela primeira vez. Em março
passado, o Pentágono admitiu que os ataques e a espionagem informática
haviam se tornado a principal preocupação das várias agências de
inteligência e segurança do país, suplantando o terrorismo internacional
pela primeira vez.
Um mês antes, num relatório de 78 páginas, a empresa americana Mandiant,
especializada em segurança de TI, explicou detalhadamente como um grupo
de hackers que opera em Xangai espionou pelo menos 140 companhias dos
EUA desde 2006, tendo roubado centenas de terabytes de dados.
Espionagem
Washington tenta aplicar uma estratégia mais incisiva para proteger seus
segredos militares e as empresas do país. Entre outras medidas, ameaçou
recentemente impor sanções econômicas aos países envolvidos na prática.
Mas a China, comumente apontada por especialistas como responsável por
boa parte das invasões, sempre rechaçou as acusações.
"A China já disse repetidas vezes que se opõe firmemente a todas as
formas de ataques informáticos", disse nesta terça-feira Hua Chunyingb,
porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores. "Estamos
tentando cooperar com os EUA em termos de segurança na internet e nos
posicionamos de forma firme contra qualquer acusação infundada e
especulações."
O estudo do Pentágono, no entanto, fala de uma prática de espionagem
sistemática por parte da China, onde estaria se tornando quase uma
"doutrina militar". Além disso, para evoluir na prática, Pequim, viria
aproveitando o conhecimento de alguns dos milhões de estudantes chineses
que participam de intercâmbios acadêmicos pelo mundo.
Segundo especialistas, o tema ciberespionagem é uma das maiores
preocupações para as relações China-EUA. O tema teria sido a razão das
recentes viagens do secretário do Tesouro americano, Jacob Lew, e do
chefe do Estado-Maior, o general Martin Dempsey, à China. Em abril, em
Pequim, o secretário de Estado John Kerry também colocou a ciberdefesa
como uma das prioridades dos Estados Unidos.
Fonte: DW
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