
Mohamed Morsi foi recebido nesta quarta-feira (08/05) pela presidente
Dilma Rousseff em Brasília – numa viagem emblemática por ser a primeira
de um chefe de Estado egípcio ao Brasil e por marcar a busca por novos
mercados de um país que se livrou de uma ditadura, mas que, como
democracia, ainda tropeça em turbulências políticas e numa economia
fragilizada.
A passagem pelo Brasil é a última escala de uma série de viagens que o
levou a todos os outros membros do Brics – Rússia, Índia, China e África
do Sul –, um grupo do qual ele já deixou claro querer fazer parte. A
aliança pode ser uma saída para reduzir a dependência econômica egípcia
dos Estados Unidos e ajudar o país a superar os problemas instaurados
após a Primavera Árabe.
"Nesses novos tempos no Egito, há empresários e investidores que querem
trabalhar com mais transparência do que na época de Mubarak", diz Michel
Alaby, diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. "Exemplo
disso é que, nos últimos dois anos, as trocas comerciais aumentaram
significativamente, sobretudo na área de produtos alimentares."
Os egípcios são um dos maiores importadores de alimentos do mundo.
Nenhum outro país, por exemplo, importa mais trigo do que o Egito, que
também é o segundo maior comprador de milho. E até, hoje, grande parte
das compras é proveniente dos EUA, aliado de longa data, mas com quem as
relações passaram por momentos de atrito desde a queda do ditador Hosni
Mubarak.
Países como o Brasil podem ajudar a reduzir esse peso – levando em
consideração também que os EUA há tempos não escondem que pretendem
reduzir o foco de sua política externa do Oriente Médio.
Nos últimos dois anos, o fluxo comercial bilateral entre Brasil e Egito
cresceu 38%, e empresas brasileiras têm interesse em investimentos em
obras de infraestrutura de energia e transportes no Egito - além das
oportunidades oferecidas pelos mais de 80 milhões de habitantes do maior
mercado consumidor do mundo árabe.
"Morsi e eu concordamos que uma cooperação Sul-Sul, entre nossos países,
é estratégica para que se estabeleça a multipolaridade no mundo”, disse
Dilma nesta quarta-feira. "Decidimos fomentar a cooperação em todos os
níveis."
Brics, objetivo distante
Se as trocas comerciais com o Brasil estão em ascensão, uma adesão do
Egito ao Brics, segundo economistas, ainda está distante. O grupo reúne
as maiores potências emergentes, e o Egito parece um passo atrás. A
instabilidade gerada pela Primavera Árabe afetou os setores de turismo,
construção e indústria, causando severos danos à economia egípcia, que
fechou o último trimestre de 2012 com crescimento de apenas 2% – nos dez
anos anteriores, a média foi de 5%.
A seis meses das eleições, Mursi enfrenta um bombardeio de críticas da
oposição, que atribuí a estagnação econômica do país a uma suposta
incapacidade dele como governante. O país enfrenta um déficit
orçamentário crescente; viu, em apenas um ano, o desemprego saltar de 9%
para 13%; e ainda continua dependente de ajuda americana. Entre as
principais queixas da população está a queda no padrão de vida.
"Nós queremos mais cooperação com o Brasil", disse Morsi, após o
encontro de cerca de duas horas com Dilma. "O Brasil pode dar grande
suporte para o desenvolvimento e justiça social no Egito."
Durante a campanha eleitoral, o discurso de Morsi e seu partido, a
Irmandade Muçulmana, era inicialmente de rejeição à qualquer ajuda
econômica externa. Mas, desde sua eleição, em junho, o agora presidente
do Egito foi forçado a adotar uma postura mais pragmática diante dos
reais desafios de governar.
Os problemas egípcios, dizem analistas, são hoje simplesmente grandes
demais para serem resolvidos sem assistência internacional e sem olhar
para novos mercados. Um empréstimo bilionário do Fundo Monetário
Internacional (FMI) deve sair até o fim do ano. E as economias
emergentes, preteridas na era Mubarak, estão começando a ser olhadas de
forma diferente.
Fonte: DW
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