A Rússia e os Estados Unidos concordaram em fomentar o diálogo entre
as partes envolvidas na guerra civil síria, mas líderes da oposição
demonstraram ceticismo na quarta-feira, temendo que a iniciativa ajude o
presidente Bashar al Assad a se aferrar ao poder.
Em visita a Moscou, o secretário de Estado dos EUA,
John Kerry, disse que a Rússia concordou em organizar uma conferência já
neste mês.
Numa semana em que aviões israelenses bombardearam
posições do governo sírio, Washington está sob crescente pressão para
armar os rebeldes que tentam derrubar Assad -que tem na Rússia o seu
principal aliado internacional.
O impasse entre as duas potências impede que o Conselho
de Segurança da ONU tome qualquer medida que possa interromper um
conflito que já matou estimadas 70 mil pessoas em dois anos.
Além disso, os ódios sectários e faccionais sírios
estão mais acirrados do que nunca, e não está nada claro que as partes
em conflito estejam dispostas a negociar entre si. A maioria das
personalidades da oposição descarta negociações se Assad e seu círculo
íntimo não forem excluídos de um futuro governo de transição.
"Nenhuma posição foi decidida, mas acredito que a
oposição irá achar impossível negociar com um governo que ainda tenha
Assad como seu chefe", disse Samir Nashar, membro da Coalizão Nacional
da oposição.
"Antes de tomarmos quaisquer decisões, precisamos saber
qual seria o papel de Assad. Esse ponto ficou vago, acreditamos que
intencionalmente, a fim de tentar arrastar a oposição para negociações
antes que uma decisão seja tomada."
No passado, os EUA apoiaram a exigência da oposição
sobre a exclusão de Assad, ao passo que a Rússia diz que essa decisão
deve caber aos sírios -uma fórmula que a oposição teme que possa ser
usada para manter Assad no poder.
Membros da oposição se disseram preocupados com as
declarações de Kerry em Moscou, ecoando a Rússia e dizendo que a decisão
sobre quem participará do governo transitório é algo que deveria caber
aos sírios.
"Os sírios estão temerosos de que os Estados Unidos
estejam promovendo seus próprios interesses com a Rússia, usando o
sangue e o sofrimento do povo sírio", disse Ahmed Ramadan, membro da
Coalizão Nacional. "Estamos em contato com os EUA e precisamos ter
garantias de que não há mudança na sua posição com relação a Assad."
Dentro do país, onde os grupos rebeldes são numerosos e
têm visões díspares, um comandante militar no norte, Abdeljabbar
al-Oqaidi, disse à Reuters que desejaria saber detalhes do plano dos EUA
e Rússia antes de assumir uma posição. "Mas", acrescentou, "se o regime
estiver presente, não acredito que iremos querer participar".
Fonte: UOL - (Reportagem adicional de Steve Holland em Washington,
Suleiman al-Khalidi em Amã e Arshad Mohammed, Timothy Heritage, Alexei
Anishchuk e Steve Gutterman em Moscou)
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