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Desembarcou, nesta segunda-feira (19), no Rio de Janeiro, o brasileiro que passou quase 9 horas sob interrogatório em um aeroporto de Londres. Ele é o companheiro do jornalista americano que denunciou detalhes do esquema de espionagem eletrônica dos Estados Unidos. David Miranda foi detido com base numa lei que se aplica a suspeitos de terrorismo.
A repórter Sônia Bridi conversou, na tarde desta segunda-feira, com David Miranda e Glenn Greenwald. Eles  disseram que existem cópias dos documentos apreendidos pela polícia inglesa.
Encontramos David e Glenn na casa onde moram no Rio. David, já mais descansado da viagem, contou como foi a abordagem dos agentes no aeroporto de Londres.
“Tinha agentes inspecionando os passaportes, um agente pegou meu passaporte, olhou pro meu rosto, me pediu para seguir ele, e outro agente que estava dando uma olhada nos passaportes também veio junto e fomos diretamente à sala em que eu fiquei durante 9 horas”, conta.
Jornal Nacional: E quando é que ficou claro que não era só rotina?
David: Comecei a perguntar meus direitos. Se vocês forem me deter, em que tipo de lei se baseavam para me manter aqui. E eles falaram que foi na lei do terrorismo 2000 da Inglaterra. Perguntaram sobre os protestos aqui no Brasil, sobre meu relacionamento com Glenn, perguntaram sobre a minha família, meus amigos. Nenhuma pergunta sobre terrorismo. Nenhuma. Perguntaram qual meu papel nessa história da NSA, dos documentos. Eu expliquei que não tenho envolvimento direto com esses documentos, não trabalho com eles.
Jornal Nacional: Você foi ameaçado?
David: Eu fui ameaçado o tempo todo. “Se você não responder isso, você pode ir pra cadeia”. Para mim, mesmo sendo assustador, eu consegui segurar a situação. Imagina um brasileiro que é preso nove horas numa forma dessa, cara, acho que você quebra uma pessoa, entendeu? Você quebra ela em todos os sentidos. A pessoa fica com muito medo. Não houve nenhuma violência física contra mim, mas você pode ver que foi uma violência psicológica fantástica.
Durante oito horas David sequer sabia que os advogados do jornal The Guardian e diplomatas brasileiros tentavam liberá-lo.
“Eu fiquei muito feliz em ver que tem um governo que me dá suporte e que dá suporte para todo brasileiro”, afirmou.
Jornal Nacional: Você estava portando documentos secretos da NSA?
David: Não sei se eu estava portando documentos secretos da NSA. Eu estava levando alguns arquivos pra Laura e estava trazendo alguns arquivos pro Glenn. Eu não sei o que continha naqueles arquivos, porque eles são jornalistas, eles trabalham em várias histórias.
Os documentos estavam nos equipamentos apreendidos pela polícia inglesa. Arquivos codificados que só podem acessados com senha.
Jornal Nacional: Vocês têm copia desses documentos?
Glenn: Claro, temos varias cópias de todos os documentos com que trabalhamos. Eles não podem destruir nada. Eles podem tomar documentos todo dia e vamos sempre ter muitas cópias de todos.
O jornalista americano disse que não se sente intimidado com o episódio. “Eu nunca disse nada que vou punir ninguém ou vou buscar vingança. Vou publicar só para mostrar ao mundo a informação que população do mundo deve saber”, declarou.

Do UOL