O Exército brasileiro tem sete projetos estratégicos e precisa 
investir neles cerca de R$ 58,2 bilhões ao longo dos próximos 16 anos - 
até 2030, se tudo correr bem. É um problema. O governo, que até junho 
havia liberado apenas 50% do valor previsto para as aplicações deste 
ano, reteve, ainda, todas as dotações incluídas em emendas 
parlamentares. 
Em maio, a equipe econômica cortou R$ 3,67 bilhões dos recursos 
destinados ao Ministério da Defesa e de novo em julho aparou mais R$ 
919,4 milhões. O ministro Celso Amorim alertou a presidente Dilma 
Rousseff para o risco de uma paralisação nos programas prioritários das 
três Forças - Exército, Marinha e Aeronáutica. Na saída, levava na pasta
 a promessa da liberação de R$ 400 milhões. Compromisso sem data.
Uma saída seria a inclusão do pacote de projetos no PAC, onde duas 
iniciativas da Defesa já estão abrigadas, o desenvolvimento do cargueiro
 militar da Embraer, o KC-390 e a produção, em todas as fases, de quatro
 submarinos avançados - de propulsão diesel-elétrica - mais o primeiro 
modelo nuclear. Consultado pelo Estado, o Ministério do
 Planejamento e Gestão informou que também o sistema Astros 2020 e o 
blindado Guarani estavam fora do contingenciamento.
 Não é verdade, garante fonte do Exército. Os dois programas não foram 
incluídos no PAC em 2013.
O projeto mais ambicioso do conjunto da Força Terrestre é o Sisfron, 
muralha eletrônica de 17 mil km integrando estações digitais, radares 
terrestres e unidades militares dotadas de recursos avançados. O Sisfron
 começou sólido. A etapa piloto da primeira fase vai ser feita depressa,
 fica pronta já em 2015 e cobre 650 quilômetros na divisa do Brasil com o
 Paraguai e a Bolívia, em Mato Grosso do Sul. "Vai custar R$ 839 milhões
 e isso significa apenas 6,99% do total do plano. É muito", diz Luiz 
Aguiar, presidente da empresa Embraer Defesa e Segurança, contratada 
para executar o plano. A faixa total controlada pelo projeto tem 150,5 
km de largura e se estende como um corredor. "É o maior empreendimento 
do gênero em execução no planeta", diz o ministro da Defesa, Celso 
Amorim.
De fato. Visto em conjunto com o Sipam, escudo de vigilância da 
Amazônia, inaugurado em 2002, o Sisfron abrange o equivalente à porção 
ocidental da Europa - e mais um pouco. O pacote pretende controlar 30% 
do território nacional, no espaço que separa o Brasil de 11 de seus 
vizinhos.
Segundo Marcus Tollendal, o presidente da Savis (empresa da Embraer 
responsável pelo projeto), em dez anos, o Sisfron vai se expandir e 
atingir a Amazônia e o cone Sul. Segundo ele, há nessas áreas uma 
"mancha criminal" associada a um "vazio populacional" e à menor presença
 do Estado.
Mas no momento há certa apreensão. Em audiência pública da Comissão 
das Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado em 22 de agosto, o 
general Antonino Guerra Neto, do Centro de Guerra Eletrônica, afirmou 
que, mantidos os recursos no patamar previsto para 2014, o programa só 
vai ficar pronto em 2074, "quando será, a rigor, quase inócuo".
Megaeventos.
Em outra ponta da lista de programas da
 primeira fila, os sistemas de defesa antiaérea, uma exigência da equipe
 mundial da organização dos eventos como a Copa e a Olimpíada, 
avançaram. Na semana passada, Amorim autorizou a abertura do processo de
 negociação para a compra de três baterias do Pantsir S1, moderno 
sistema russo de artilharia antiaérea, e duas outras do Igla-S.9K38, a 
versão mais recente do míssil leve disparado do ombro de um soldado. O 
negócio pode chegar a  800 milhões. O 9K38 tem alcance de 6 km, é mais 
pesado que as séries anteriores, usa sensor de localização de alvos de 
eficiência expandida e é mais resistente à interferência eletrônica de 
despistamento. 
A operação é conduzida pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças
 Armadas, general José Carlos De Nardi. O processo montado pelo oficial 
prevê a aquisição de três baterias do Pantsir S1, combinação de mísseis 
terra-ar com alcance de 20 km e 15 km de altitude, mais dois canhões 
duplos, de 30 mm. As baterias transportam 12 mísseis 57E6. O radar de 
detecção atua em um raio de 36,5 km e pode localizar dez alvos por 
minuto. Cada uma das Forças receberá uma bateria Pantsir. "A melhor 
parte de todo o processo é que os russos aceitaram a demanda brasileira 
de que haja irrestrita transferência de tecnologia", diz De Nardi. Há 
três empresas nacionais envolvidas no esquema: Avibrás Aeroespacial, 
Mectron e Orbisat.
Do Estadão 

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